Querido Evan
Hansen,
Em
abril, a Companhia das
Letras, através do selo editoral Seguinte, lançou a sua
história nas livrarias aqui do Brasil. Escrito pelo Val
Emmich em parceria com Steven Levenson, Benj Pasek e Justin
Paul; eles transformaram em livro um acontecimento de sua vida, que foi tão
celebrado e aclamado nos palcos da Broadway.
Val Emmich, Steven Levenson, Benj Pasek e Justin Paul |
Hoje
terminei a leitura dessa parte de sua vida. Que baita confusão você se meteu,
hein.
Primeiro
descobri que você era muito ansioso e tinha sérios problemas para interagir com
as pessoas. Não se preocupe, eu entendo perfeitamente o que é isso. As vezes,
fico abismado em como os jovens não conseguem se conectar de verdade com
ninguém e os “amigos” que achamos que temos, termina passando para o próximo
projeto e se esquecendo totalmente as promessas que nos fez. Ah, achei
interessante a proposta das cartas que o Dr. Sherman receitou
na tentativa de te auxiliar com essa questão dos relacionamentos, acho que você
deveria se esforçar mais, elas vão te ajudar a se expressar e a colocar as
ideias em ordem – mas, tente ser mais cuidadoso com elas, ok?
… sei bem como dá para alguém ficar mal. Também entendo que, quando não estamos com a cabeça no lugar, qualquer besteira pode se transformar em algo insuportável e, de repente, você pega um caminho sombrio e não consegue achar mais o caminho de volta.
Depois
teve a morte do Connor e como ela fez as coisas mudarem tão
depressa. É engraçado notar como as pessoas lidam com a tragédia. A família
dele, na beira do abismo, tentou se agarrar ao que podia para criar uma memória
do filho onde ele ainda pudesse estar “vivo”… E os “amigos” da escola, de
repente, se mostraram sentidos e solidários com a perda do colega, criando
assim uma simpatia só para ganharem likes nas redes sociais. Fiquei me
perguntando, por que a gente dá tão pouco valor à vida? Por que os jovens tem
se privado cada vez mais de ter um relacionamento de verdade, olho no olho? Por
que a gente exclui o outro, sem ao menos darmos a chance de conhecê-lo de
verdade? Por que precisamos da morte para darmos valor a vida? E que poder é
esse que demos as redes sociais, uma ferramenta capaz de nos conectar com o
outro lado do mundo e ainda assim nos aprisionarmos em nossa própria solidão?
Às vezes você deseja muito que algo aconteça, e então, depois de tanto tempo sem conseguir aquilo que desejou, você para de desejar, e é então que acontece, do nada.
Ah,
querido Evan, sinto muito por tudo que aconteceu com você. De
repente, você entrou numa confusão tão grande com esse mal entendido de ser o
melhor amigo do Connor, que eu entendi perfeitamente sua decisão de
continuar alimentando a mentira – apesar que mais cedo ou mais tarde, a verdade
iria aparecer. É heroico quando a gente coloca a necessidade do outro como
prioridade e termina fazendo de tudo para ajudá-los, mesmo que no fim o preço
que a gente tenha que pagar possa parecer grande demais. Acho que deveria te
parabenizar pela maneira que você lidou com tudo, mesmo tendo que sacrificar
quem mais amava, ainda assim você resolveu fazer a coisa certa. Isso é a vida!
As vezes a gente está por cima, outras temos que lidar com as quedas, mas são
as escolhas que fazemos em cada situação que nos faz amadurecer e seguir em
frente.
O fruto nunca cai longe da árvore. Acho que quer dizer que somos apenas produtos de quem nos fez e não temos muito controle sobre isso. A questão é que quando as pessoas usam essa frase, ignoram a parte mais fundamental: a queda. Segundo a lógica desse ditado, o fruto cai toda vez. Não cair não é uma opção. Então, se o fruto precisa cair, a questão mais importante para mim é o que acontece quando ele atinge o chão? Ele cai sem nenhum arranhão? Ou é esmagado pelo impacto? Dois destinos completamente diferentes. Quando se pensa sobre isso, quem se importa com a proximidade da árvore ou o tipo de árvore que o gerou? O que realmente faz a diferença é como pousamos?
Bom, Evan,
acho que no fim de tudo sua história era sobre família. A maneira como você
tratava sua mãe no início do livro foi meio injusta e compreendi que isso vinha
da raiva que você sentia por seu pai ter escolhido viver em uma nova casa. Os
adultos são meio complicados, eles nunca estão satisfeitos com o que tem e
terminam cometendo uma série de erros que traz consequências muito difíceis
para os que estão em sua volta. Por isso o que posso te dizer é tente
perdoá-lo, viver com sentimentos tão pesados em relação a isso só vai te fazer
se fechar para a vida e para as oportunidades que estão a sua frente. Sua mãe é
uma guerreira, ela deixou toda a dor própria para te ajudar a lidar com suas
dificuldades – valorize mais isso, nunca saberemos o suficiente sobre os sacrifícios
que nossas mães fazem por nós.
No
fim só posso agradecer ao Emmich e seus parceiros por nos
apresentar sua história Evan, ela é tão atual e necessária – que
todos deveriam ler e conversar sobre os temas propostos. Nela pudemos
acompanhar como você lidou com a questão da ansiedade, da depressão, do
suicídio, das nossas escolhas frente a tragédia, do luto, de como nos
comportamos nas redes sociais e sobre as relações familiares. E acima de tudo,
deixou a mensagem de amor e esperança ao nos lembrar que cada um é importante e
nunca estaremos realmente sozinhos.
Há tantos como nós, almas solitárias. Todos nós, que construímos este lugar. Aqueles que vão ver o pomar crescer. Aqueles que perdemos. Seguimos em frente, juntos. Subindo, caindo, alçando vôo. Tentando nos aproximar do centro de tudo. Mais perto de nós mesmos. Mais perto um do outro. Mais perto de algo real.
Com
admiração e afeto,
Vanderson
Silva
Curiosidades:
- Querido Evan Hansen é
uma adaptação do musical da Broadway, Dear Evan
Hansen.
- Querido Evan Hansen teve
seus direitos de adaptação comprado pela Universal Pictures e
em breve poderemos ver essa história nos cinemas.
Sinopse:
Dos
criadores do premiado musical da Broadway Dear Evan Hansen, esta é uma história
emocionante sobre solidão, luto, saúde mental e amizades inesperadas. Evan
Hansen sempre teve muita dificuldade de fazer amigos. Para mudar isso, decide
seguir as recomendações de seu psicólogo e escrever cartas encorajadoras para
si mesmo, com esperança de que seu último ano na escola seja um pouco melhor. O
que não esperava era que uma das cartas fosse parar nas mãos de Connor Murphy,
o aluno mais encrenqueiro da turma. Quando Connor comete suicídio e sua família
encontra a carta de Evan, todos começam a pensar que os dois eram melhores
amigos. Sem conseguir explicar a situação, Evan acaba refém de uma grande
mentira. Ao mesmo tempo, graças a essa (falsa) amizade, o garoto finalmente
se aproxima de Zoe, a menina de seus sonhos, e passa a ser notado no colégio.
No fundo, Evan sabe que não está fazendo a coisa certa, mas se está ajudando a
família de Connor a superar a perda, que mal pode ter? Evan agora tem um
propósito de vida. Até que a verdade ameaça vir à tona, e ele precisa enfrentar
seu maior inimigo: ele mesmo.
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