domingo, 17 de outubro de 2021

Citações | A Segunda Vida de Missy (Beth Morrey)

 

  • "Todo coração canta uma música incompleta, até outro coração sussurá-la de volta.” – 07
  • “... não havia lacunas nem fraquezas, para começo de conversa. Homens e mulheres, mulheres e mulheres, mães e filhos, até idosas e cães: o amor era apenas amor, só isso. Falho, desigual, complicado, desencontrado, mas ainda essencial.” - 166

domingo, 10 de outubro de 2021

Resenha | O Mito da Beleza (Naomi Wolf)


* Por Beatriz Barbosa

Atualmente, as discussões sobre o protagonismo feminino nos diversos espaços da sociedade se intensificaram e muitos movimentos foram criados em torno desse debate. Um importante desdobramento diz respeito a questão estética, que por muitos anos as indústrias ditavam as regras e traziam inúmeras imposições para que as mulheres pudessem seguir, e agora o número de mulheres que tem buscado voltar ao seu natural tem crescido muito.

Apesar de todo destaque que essa temática tem ganhado, seja na imprensa ou nas redes sociais, esse tema já vem sendo debatido a muito tempo e um dos nomes, que podemos considerar como pioneira, é o de Naomi Wolf com sua obra O Mito da Beleza, lançado no Brasil pela editora Rosa dos Ventos.

Em sua obra, que é considerada como um dos livros mais importantes da terceira onda feminista, a autora confronta a indústria da beleza, tocando em assuntos difíceis, como distúrbios alimentares e mentais, desenvolvimento da indústria da cirurgia plástica e da pornografia e afirma que o culto à beleza e à juventude da mulher é estimulado pelo patriarcado e atua como mecanismo de controle social para evitar que sejam cumpridos os ideais feministas de emancipação intelectual, sexual e econômica conquistados a partir dos anos 1970.

O mito da beleza foi uma leitura essencial para mim. Sabe aquele livro que te ajuda a desconstruir conceitos enraizados durante toda uma vida dentro de você? Pois bem, foi assim que me senti com cada página, cada capítulo. Levei alguns meses para digerir tudo que era dito e ir aos poucos descontruindo em mim aquilo que foi durante muitos anos a minha verdade - estou passando por um processo de transição e esse livro foi um alento e uma certeza que eu estava no caminho certo.

Escrito em 1991, Naomi ouviu vários relatos de mulheres que -independentemente da idade, classe social -, viviam os mesmos dilemas e sofrimentos: o medo de envelhecer, a luta pela magreza, a busca pelo corpo ideal e a imagem perfeita. Mas o perfeito realmente existe? O que existe por traz desse interesse para que as mulheres se preocupem mais com sua própria imagem do que em ser feliz? Vamos descobrindo que a felicidade não vende, mas o sofrimento sim.

“A ‘’beleza” é um sistema monetário semelhante ao padrão ouro. Como qualquer sistema, ele é determinado pela política e, na era moderna no mundo ocidental, consiste no último e melhor conjunto de crenças a manter intacta o domínio masculino. Ao atribuir valor as mulheres em uma hierarquia vertical, de acordo com um padrão físico imposto culturalmente, ele expressa relações de poder as quais as mulheres precisam competir de forma antinatural por recursos dos quais os homens se apropriaram... A medida em que as mulheres iam exigindo acesso ao poder, esta estrutura recorreu ao mito da beleza para prejudicar de forma substancial o progresso das mulheres.”

Esses conceitos foram evoluindo desde a Revolução Industrial, então notamos que não é de agora que o mito foi construído e para ser ainda mais triste ele foi criado para as mulheres ter cada vez menos acesso ao poder. Uma mulher preocupada com sua imagem, insegura, infeliz não consegue facilmente conquistar espaços cada vez maiores e nem cargos que são dominados por homens. E assim foram existindo a rivalidade entre as mulheres, a competição para saber quem realmente é a mais “perfeita”.

A partir disso a indústria vai crescendo, produtos para rejuvenescer são criados, emagrecedores, modeladores. Os padrões são modificados conforme cada época e as mulheres tentando se adaptar.

Bem, como disse logo no início assim como tantas mulheres eu também fui vítima e fui facilmente manipulada, o que foi me vendido era que eu teria sucesso se eu chegasse no padrão da pele perfeita, cabelo com o liso perfeito, não muito magra e nem acima do peso, ser simpática para que os homens não me chamassem de grossa quando não tivesse interesse neles. Desejei por muitos anos fazer cirurgias plásticas, sentir medo de não ser uma mulher ideal - O que eu conquistei com tudo isso? Transtorno de ansiedade, lesões no couro cabeludo por uso excessivo de químicas, muita queda de cabelo, baixa autoestima por ter que me ver no espelho de outra forma.

As consequências são enormes, Naomi tem um capítulo onde ela fala sobre essa violência que nós mulheres cometemos com nosso próprio corpo, tem mulheres que ficam inférteis por desejar tanto a magreza e viver nessa busca a todo custo e muitas vezes essa violência custa a própria vida. Quantas já morreram por cirurgias plásticas malsucedidas ou simplesmente porque a cirurgias foi feita sem que de fato existir a necessidade? E quantas na busca do padrão do corpo perfeito cai no golpe do falso profissional e vão a clínicas clandestinas para realizar esse sonho e morrem? Inúmeras. Muito mais do que possamos imaginar.

“As dietas líquidas já provocaram pelo menos 60 mortes nos estados unidos e seus efeitos colaterais incluem náuseas, perda de cabelo, tontura e depressão. A compulsão pelo exercício produz anemia e interrupção do desenvolvimento. Os implantes mamários tornam mais difícil detectar o câncer. As mulheres deixam para depois as mamografias, com medo de perder um seio e de se tornar mulher pela metade... O mito não está adoecendo as mulheres apenas sob o aspecto físico, mas também sob o mental (...) O estresse é um dos mais graves fatores de risco médico, prejudicando o sistema imunológico e contribuindo para a pressão alta, as doenças cardíacas e o aumento das taxas de mortalidade no câncer. Ainda pior, o mito da beleza na era da Cirurgia, na realidade, reproduz dentro da consciência das mulheres os sintomas clássicos da doença mental.”

Esses dados são de 20 anos atrás, na época não existia as redes sociais e as exigências dos tempos atuais. Hoje o Brasil cresceu muito em cirurgias plásticas, aumentou ainda mais a busca pela “beleza” ideal, infelizmente com tantas regras impostas também aumentou os casos de procedimentos malsucedidos, depressão e transtorno de ansiedade. Por outro lado, muitas mulheres têm despertado e lutando pela liberdade de ser quem é, do amor-próprio e da autoaceitação. Nunca é tarde, não importa o que você já fez até aqui, o quanto já sofreu, adoeceu e se mutilou. Lute verdadeiramente para ter a liberdade de ser quem é.

“uma consequência do amor-próprio feminino é a de uma mulher se convencer de seu valor social. Seu amor pelo próprio corpo será irrestrito, o que é a base da identificação feminina. Se uma mulher ama seu próprio corpo, ela não inveja o que mulheres fazem com o delas. Se ela ama sua feminilidade lutará pelos seus direitos.”

O Mito da Beleza é uma leitura necessária, não só para as mulheres, mas também para os homens, afinal as mudanças se mostram urgentes e fundamentais para que a sociedade não padeça de um adoecimento auto imposto e catastrófico.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Resenha | O Jardim Secreto (Frances Hodgson Burnett)

No mundo literário existem muitas obras conhecidas como Clássicos. São livros que possuem personagens atemporais e marcam inúmeras gerações de leitores, que mantêm a história viva e contribuem para o surgimento de novos fãs.

Uma dessas obras clássicas é O Jardim Secreto, da escritora Frances Hodgson Burnett, lançado inicialmente em 1911 e que ganha mais uma edição pelas mãos da editora Zahar; com tradução atualizada, comentário da obra, curiosidades sobre a autora, cronologia da vida e a obra da Burnett e uma linda capa dura.

A trama do O Jardim Secreto gira em torno da jovem Mary Lennox, uma criança mimada e mal-humorada que nunca se sentiu amada, que se torna órfã após uma tragédia e precisar sair de sua casa - nas Índias Britânicas - para morar com um tio misterioso na Inglaterra. Essa mudança de lar vai ensiná-la que a vida sempre estará pronta para acolher aqueles que estão dispostos a se aventurar.

A primeira vez que tomei conhecimento da história O Jardim Secreto foi através do filme lançado em 1993 e protagonizado por Kate Maberly e pude revisitar essa emocionante narrativa com a nova adaptação lançada em 2020 e protagonizada por Dixie Egerickx. Ao fim dos dois filmes, me senti muito emocionado e tocado pela forma singela da narrativa e pela bonita mensagem passada. Contudo, ao finalizar a leitura do livro pude constatar que eu não tinha compreendido todas as mensagens que a história trazia e que a obra se torna ainda mais relevante e necessária pelos temas abordados.

A escrita da Burnett é fluída e muito cativante. Ao longa da leitura, o leitor vai tendo suas emoções despertadas - como a alegria, angústia, tristeza, compaixão, raiva, medo e muitas outras - graças aos personagens cativantes e situações que criam uma rápida identificação.

Ainda é fundamental que se diga, o quanto a Burnett foi corajosa e feliz, por trazer nessas páginas seus dramas pessoais e assim fazer com que se discuta temas como o luto e a depressão. Esses temas provam como a obra é atemporal, pois são temas extremamente atuais e necessários para que sejam debatidos. Ainda sobre essa temática é importante pontuar que eles servem como ponto de partida da história- e justificativa para o comportamento dos personagens principais - e que aos poucos são transformados, na medida que o Jardim vai desabrochando - o que serve como uma metáfora interessante sobre o autocuidado e o poder dos nossos pensamentos.

O Jardim Secreto é um clássico infanto juvenil, recomendado para todas as pessoas que buscam uma obra edificante e com uma mensagem importante, e que convida a todos para voltarmos para nosso interior e tirar as ervas daninhas, deixando espaço para que a alma floresça.

Lidos | Setembro 2021

Fala, pessoal! Mais um mês se finda e com ele trago para vocês algumas indicações de leituras por meio dos livros que pude conferir. Como poderão ver abaixo, setembro foi um mês de boas surpresas e fui de uma biografia/memórias até uma fantasia nacional muito interessante.

Vamos a eles:

Lili: Novela de um Luto (Noemi Jaffe, Companhia das Letras)

- Sinopse:

Em fevereiro de 2020, aos 93 anos, falece Lili, sobrevivente do Holocausto, mãe de três filhas e viúva. Sua doença vinha se estendendo há tempos, mas isso não faz com que a dor de sua partida seja menor. A banalidade da causa, "uma infecção nos pés", é confrontada com um sentimento de descrença. Como é possível que aquela que sempre esteve presente não exista mais?

Com domínio narrativo único e uma honestidade perturbadora, Noemi Jaffe relata os primeiros dias após a perda da mãe, indo fundo em suas lembranças e seus anseios para produzir uma história sobre a morte, mas também sobre o que fica depois dela.

- Motivos para ler:

Com uma narrativa sensível e muito emotiva, a autora fala sobre as dores da perda, seu processo de luto e como é possível viver esse momento para que consiga seguir em frente.

 

A Casa Assombrada (John Boyne, Companhia das Letras)

- Sinopse:

Londres, 1867. Eliza Caine tem 21 anos e acaba de perder o pai. Totalmente sozinha, como os heróis de Dickens sobre os quais tanto lê, e sem dinheiro para pagar o aluguel na cidade, ela depara com o anúncio de um tal H. Bennet, que busca uma governanta para se dedicar aos cuidados e à educação das crianças de Gaudlin Hall, uma propriedade no condado de Norfolk, leste da Inglaterra. O anúncio, contudo, não menciona a idade ou quantas crianças são, nem mesmo dá qualquer outro tipo de explicação.

Eliza não vê alternativa além de largar o emprego de professora em uma escola só para meninas e partir para o condado, onde pretende começar uma nova vida. Chegando a Gaudlin Hall, no entanto, ela se surpreende ao encontrar apenas Isabella, uma menina que parece inteligente demais para sua idade, e Eustace, seu adorável irmão de oito anos. Os pais das crianças não estão. Não se veem criados. De fato, não há nenhum adulto na propriedade, e a identidade de H. Bennet permanece um mistério.

A governanta recém-contratada busca informações com as pessoas do vilarejo, mas todos a evitam. Nesse meio tempo, fica intrigada com janelas inexplicavelmente fechadas, cortinas que se movem sozinhas e ventos absurdos na propriedade. E logo coisas de fato assustadoras começam a acontecer.

- Motivos para ler:

John Boyne é um daqueles escritores constantes que possuem uma escrita fluída e que arremata os leitores já nas primeiras páginas. Aqui ele foge de sua zona de conforto e entrega uma história cheia de mistério que em muitos momentos faz o coração bater mais depressa.

 

O Espadachim de Carvão (Affonso Solano, Casa da Palavra)

- Sinopse:

Kurgala é um mundo abandonado por Quatro Deuses. Adapak é filho de um deles. E agora ele está sendo caçado. Perseguido por um misterioso grupo de assassinos, o jovem de pele cor de carvão se vê obrigado a deixar a ilha sagrada onde cresceu e a desbravar um mundo hostil e repleto de criatura exóticas. Munido de uma sabedoria ímpar, mas dotado de uma inocência rara, ele agora precisará colocar em prática todo o conhecimento que adquiriu em seu isolamento para descobrir quem são seus inimigos. Mesmo que isso possa comprometer alguns dos segredos mais antigos de Kurgala.

- Motivos para ler:

A literatura nacional vive. Affonso Solano é um escritor da mesma grife que Raphael Dracoon, Raphael Montes e outros. O universo de Kurgala e suas criaturas fantásticas são ricas em detalhes e traz ação, paixão e aventura em doses capazes de prender até o mais resistente dos leitores. A saga de Adapak tem fôlego e material para render inúmeros volumes.

 

O Espadachim de Carvão e as Pontes de Puzur (Affonso Solano, Leya)

- Sinopse:

“Ninguém viaja mais rápido que Puzur.” Lutando para se adaptar ao mundo dos mortais, Adapak se refugia no navio de Sirara, farto de lidar com os segredos do passado. Mas quando um antigo diário cai em suas mãos, o Espadachim de Carvão acaba por mergulhar nos registros de alguém responsável por influenciar não somente sua vida, mas a história de Kurgala – uma menina forçada a acompanhar a jornada de um ladrão desesperado, disposto a violar as regras mais antigas que os Quatro Que São Um deixaram para trás. Quem foi Puzur? O que procurava? Enquanto viaja pelas páginas do tempo, Adapak desconhece que sua curiosidade está prestes a colocá-lo sob a ameaça de algo que ele mesmo possa ter desencadeado.

- Motivos para ler:

Na continuação do Espadachim de Carvão, somos apresentados a Puzur, um personagem que tem muito em comum com nosso herói e carrega junto de si, uma arma capaz de mudar o destino de Adapak e todo o mundo.

Solano mantem sua escrita ágil e detalhista, e entrega as mesmas emoções e aventura da edição anterior. Além de novos personagens que mereciam uma obra a parte.

- Curiosidade:

O Espadachim de Carvão e as Pontes de Puzur é o segundo volume da história do Espadachim de Carvão e que já ganhou um spin off chamado Tamtul e Magano e a Ameaça de Rumbada e tem o terceiro volume em produção, que se chamará O Espadachim de Carvão e a Voz do Guardião Cego.