domingo, 26 de dezembro de 2021

Resenha | Cartas Para a Minha Avó (Djamila Ribeiro)

 

Para muitos de nós, a avó é a figura que personifica o amor. É ela quem acolhe, nos defende, nos mima e acima de tudo, compartilha conosco uma cumplicidade que é difícil de explicar. Pela intensidade dos nossos sentimentos em relação as vós, terminamos acreditando que o tempo se torna infinito e as despedidas, nem sempre são possíveis e/ou suficientes para quem fica.

Dentro desse contexto, Djamila Ribeiro abre seu coração no livro Cartas para Minha Avó e de forma muito emocionante, narra suas memórias, dúvidas, anseios, fragilidades e reflexões, para sua avó, D. Antônia.

“Essa imagem de mulher negra forte é muito cruel. As pessoas esquecem de que não somos naturalmente fortes. Precisamos ser porque o Estado e a iniciativa privada são omissos e violentos. Restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana. Somos subalternizadas ou somos deusas. E pergunto: quando seremos humanas?”

Lançado pela Editora Companhia das Letras, Djamila Ribeiro nos apresenta a história da família narrando desde sua infância até a atualidade, quando já é uma das intelectuais mais reconhecidas do Brasil. Ao longo da narrativa, surgem reflexões sobre temas como racismo, ancestralidade, masculinidade tóxica, entre outros.

A leitura da obra é muito fluída e a todo momento nos sentimos que estamos é uma conversa entre amigos. A escrita mostra a coragem de quem atingiu a maturidade que a vida traz e a sabedoria de quem soube acolher tanto as dores quanto as alegrias da própria história, para que pudesse crescer.

Diferente de muitas biografias que vemos no mercado, Cartas para a minha vó vem carregada de reflexões sobre os mais variados assuntos. O racismo é debatido e aparece em muitos momentos na vida da autora, assim como a importância da representatividade e a necessidade de rever as práticas educativas e as mídias como forma de combater essa cultura criminosa.

“Preparar para a vida, quando se trata de uma criança negra, é ser brutalizada o bastante para aprender a lidar com a brutalidade do mundo. É um ciclo que se propaga impedindo a gente de ser, somente ser.”

O feminismo é outro tema muito presente, e aparece junto a reflexões sobre casos de assédio, a visão social da mulher negra como símbolo de puro desejo sexual e ainda a objetificação da mulher.

“Passamos a vida culpando as mulheres que nos criam, assim como muitas vezes culpei minha mãe, sem olhar para quem nos tira o chão, a casa, as oportunidades. Acabamos sempre onerando outras mulheres pela falta de escolhas que nos é imposta. São sempre elas que precisam abrir mão do pouco que têm para alimentar toda a aldeia.”

Em um dos capítulos mais delicados, a Djamila reflete sobre a maternidade e fala com franqueza sobre como foi difícil para ela os primeiros anos como mãe.

“Algumas mulheres me achavam louca por não me sentir preenchida com a maternidade e a vida de casada. Amava ser mãe ..., mas detestava o que se entendia por maternidade: a abdicação da nossa existência como sujeito.”

Por fim e de forma mais intensa, cabe destacar a Ancestralidade e que vem acompanhada com a religião do Candomblé, que sempre foi algo presente na vida da família.

”São muitos os obstáculos, as porradas que a gente toma por “ousar” sair do nosso lugar, e nada foi fácil. Apesar de receber muito carinho e ser reconhecido pelo que faço, perceber o afeto daquelas mulheres foi diferente. Foi como me reencontrar com uma história da qual fui apartada. Foi como se elas estivessem me aceitando de volta com os braços abertos, me perdoando. Ali, eu me senti reconectada com uma ancestralidade perdida, uma espécie de volta para casa. Quando aqueles rostos negros se emocionavam por me ver ali, expectadora delas, eu senti vontade de chorar. Os abraços e apertos de mão continham a benção que as mais velhas dão às mais novas, como eu sempre pedia a você e à minha mãe antes de dormir. Elas se emocionavam porque se sentiam representadas pelo trabalho que eu faço. Sim, eu me emocionava com o reconhecimento delas, mas também por sentir que parte da minha história havia sido restaurada.”

Cartas para minha vó é uma obra com uma força muito grande pela relevância dos assuntos abordados e, também, por possibilitar que ao visitarmos a biografia de nossas referências, a gente desperte nosso olhar para acolhermos a nossa própria história e assim chegarmos a maturidade e sabedoria de quem pode ajudar novas gerações a se encontrarem no próprio caminho.


Citações | Cartas Para a Minha Avó (Djamila Ribeiro)


  • "Eu jamais esqueceria meus amores primeiro, mas era preciso uma canção cantada com ternura para me lembrar que eles precisam ser eternizados sem dor em demasia. Como essa dor será carregada para sempre, ela não pode nos fazer afundar e esquecer as memórias felizes.” – 14 e 15
  • “Essa imagem de mulher negra forte é muito cruel. As pessoas esquecem de que não somos naturalmente fortes. Precisamos ser porque o Estado e a iniciativa privada são omissos e violentos. Restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana. Somos subalternizadas ou somos deusas. E pergunto: quando seremos humanas?” – 15
  • “Preparar para a vida, quando se trata de uma criança negra, é ser brutalizada o bastante para aprender a lidar com a brutalidade do mundo. É um ciclo que se propaga impedindo a gente de ser, somente ser.” – 24
  • “Minha mãe teve suas asas cortadas por muitas tesouras, e dizer a ela que a compreendíamos foi como fazer um pedaço se colar.” – 58
  • Passamos a vida culpando as mulheres que nos criam, assim como muitas vezes culpei minha mãe, sem olhar para quem nos tira o chão, a casa, as oportunidades. Acabamos sempre onerando outras mulheres pela falta de escolhas que nos é imposta. São sempre elas que precisam abrir mão do pouco que têm para alimentar toda a aldeia.” – 65
  • “O racismo também tem dessas: afasta as pessoas negras das culturas que elas mesmas construíram.” – 118
  • “São muitos os obstáculos, as porradas que a gente toma por “ousar” sair do nosso lugar, e nada foi fácil. Apesar de receber muito carinho e ser reconhecido pelo que faço, perceber o afeto daquelas mulheres foi diferente. Foi como me reencontrar com uma história da qual fui apartada. Foi como se elas estivessem me aceitando de volta com os braços abertos, me perdoando. Ali, eu me senti reconectada com uma ancestralidade perdida, uma espécie de volta para casa. Quando aqueles rostos negros se emocionavam por me ver ali, expectadora delas, eu senti vontade de chorar. Os abraços e apertos de mão continham a benção que as mais velhas dão às mais novas, como eu sempre pedia a você e à minha mãe antes de dormir. Elas se emocionavam porque se sentiam representadas pelo trabalho que eu faço. Sim, eu me emocionava com o reconhecimento delas, mas também por sentir que parte da minha história havia sido restaurada.” – 121
  • “... há mãos que condicionam nossas vidas antes de nascermos, coloca sobre nós um imperativo categórico de submissão e competição...” – 129
  • “A importância à frase quem deu foi ela, foi ela que transformou em sonho palavras corriqueiras ditas num dia quente e fez delas um compromisso firmado para a vida inteira... Uma vida de eterna espera, da crença no homem que pode ser mudado por amor.” – 131
  • “A arrogância masculina faz com que se negue ou menospreze tarefas que são fundamentais.” – 132
  • “Algumas mulheres me achavam louca por não me sentir preenchida com a maternidade e a vida de casada. Amava ser mãe ..., mas detestava o que se entendia por maternidade: a abdicação da nossa existência como sujeito.” – 146
  • “... naquele momento, aplaudindo efusivamente ao final de cada música, não existia mais expectativa, havia entrega. Eu não precisava fingir autenticidade, eu simplesmente podia sentir, deixar sair pelos meus poros todas as situações de angústia por não saber qual caminho seguir, deixar escorrer toda mágoa das coisas que não haviam sido, cada ressentimento pelas situações de solidão. Por um breve momento, olhei para o passado sem nostalgia, somente como contingências que me traziam ao agora. Quando ouvi a banda tocar uma canção de amor, me emocionei, mas não de tristeza por amores do passado ou por situações mal resolvidas no meu casamento. Foi um choro de alívio por eu, apesar de todas as pedras no caminho ou as pedras que me atiraram, não ter desistido de mim para poder estar ali, naquele lugar... Aquela mulher de trinta e quatro anos se sentiu plena, como se as asas agora não precisassem mais ser coladas; elas sempre estiveram ali aguardando o momento do voo.” – 170 e 171

domingo, 19 de dezembro de 2021

Citações | As Desolações do Recanto do Demônio (Ransom Riggs)

 


  • "Às vezes, uma velha fotografia, um velho amigo ou uma velha carta ajudam a lembrar que você não é o mesmo de antes. Aquele que morava entre aquelas pessoas e valorizava isso, escolhia aquilo, escrevia de tal jeito não existe mais. Sem perceber, você percorreu uma grande distância. O estranho virou familiar, e o familiar, senão estiver estranho, é no mínimo desconfortável.” – 7
  • “Quantas pessoas passariam a vida entre sombras e fantasmas, se tivessem a chance? Todo pai que perdeu um filho, todo amante que perdeu seu par. Se tivesse a escolha, a maioria faria o mesmo, não? Somos todos esburacados, e em alguns dias eu teria feito qualquer coisa para tapar meus buracos, mesmo que só por um tempo. Ficava feliz por não ter essa possibilidade...” - 322

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Resenha | A Vida Nunca Mais Será a Mesma (Adriana Negreiros)

A história da formação das sociedades humanas, sempre foi marcada pela violência e por imposição de um grupo sobre outro, características de relações marcadas pela busca de controle e de poder. Entre os grupos que, historicamente, sofrem com todo tipo de agressão e lutam para terem seus direitos assegurados estão as mulheres.

As mulheres, em variados momentos da história, quase sempre tiveram seus direitos e vontades negadas e por viverem numa sociedade patriarcal, na qual o machismo se faz presente, eram vistas como simples mercadorias/ enfeites.

Ainda hoje, apesar de todos os avanços, continua sendo comum vermos crimes contra as mulheres – assassinatos, violências sexuais, abusos psicológicos, entre outros. É neste contexto que a autora Adriana Negreiros, lança o seu livro A Vida Nunca Mais Será a Mesma, pela editora Objetiva.

A autora mostra grande coragem ao revisitar um dos momentos mais trágicos de sua vida, quando sofreu um estupro, e a partir disso discute os avanços legislativos/judiciários do combate a violência contra as mulheres no Brasil e no mundo. Também vale destacar a sensibilidade da escritora em dar voz a outras mulheres que também sofreram com uma série de violências, o que contribui para tornar o livro ainda mais enriquecedor e importante no trato da temática.

Em um estupro, quando a mulher é submissa e faz tudo o que o estuprador manda, na verdade ela está lutando com ferocidade. Porque sabe, de forma intuitiva, que lutar contra o pavor, o nojo, a dor e a humilhação é talvez a única maneira de escapar da morte, e o medo de morrer se impõe a todos os outros. Não lutar corporalmente e, em vez disso, ceder, ser até simpática e cordial com o bandido pode parecer um comportamento covarde e complacente, mas no fundo é um ato de valentia.

A leitura da obra A Vida Nunca Mais Será a Mesma é muito difícil, pelos inúmeros gatilhos e pela brutalidade de alguns relatos, o que provoca no leitor um sentimento de revolta, repulsa e pesar. É possível perceber o importante trabalho jornalístico feito pela autora, que além de apontar dados estatísticos sobre a questão da violência no Brasil e destacar os avanços que os grupos que lutam contra a violência à mulher têm conseguido no âmbito jurídico – uma destas conquistas foi a criação das Delegacias para Mulheres, em 1985.  Também consegue dar voz a algumas sobreviventes desses crimes, mostrando a importância e o protagonismos delas nessas conquistas e no resgate de novas vítimas.

A violência contra a mulher continua sendo um grave problema da sociedade, com índices altíssimos de feminicídio – termo usado pela primeira vez em 1976, durante o Tribunal Internacional de Crimes contra as mulheres, pela socióloga Diana Russel. Assim, a literatura se torna uma importante aliada para o combate desse problema, pois é através da informação que a população poderá se conscientizar e buscar apoio cada vez mais cedo – seja de segurança, ou psicológico.

Lidos | Novembro 2021

Lidos Novembro

Fala, pessoal! Mais um mês se finda e com ele não trago muitas indicações de leituras para vocês. Por motivos profissionais e de estudo, terminei não conseguindo conciliar meu tempo e terminei com um único livro lido, A Vida Nunca Mais Será a Mesma.

Vamos a ele:

A Vida Nunca Mais Será a Mesma (Adriana Negreiros, Objetiva)



- Sinopse:

Por muito tempo, o estupro foi tratado de forma obscura, aos sussurros, como tabu ou excentricidade. E mais, foi extremamente resistente o pensamento de que as mulheres também eram culpadas pela agressão sexual que sofriam. No Brasil, um dos países com maior taxa de feminicídios do mundo, sensibilizar e alertar a sociedade para essa violência – não apenas a real, como também a simbólica – é algo urgente.

Em A vida nunca mais será a mesma, Adriana Negreiros discute a cultura da violência e o estupro no Brasil em suas mais variadas formas e expressões. Do delicado tema do abuso sexual de crianças por familiares ao estupro no casamento, chama a atenção o fato de que a agressão contra a mulher não se dá apenas no espaço público – os lares podem ser ambientes igualmente opressores, apartados da interferência do Estado.

Alternando depoimentos em primeira pessoa com casos verídicos de outras mulheres, noticiados na imprensa ou investigados por ela, Adriana constrói um livro tocante e, ao mesmo tempo, elucidativo.

- Motivos para ler:

A obra é um relato sensível e corajoso da escritora-jornalista Adriana Negreiro. Tomando de partida um estupro sofrido por ela, Adriana embarca numa investigação sobre a legislação brasileira para desvendar e discutir a problemática da violência contra a mulher. Ela ainda apresenta, pelas vozes das próprias vítimas, as variadas formas de violência que existe e como esses crimes deixam marcas físicas e emocionais nas vítimas, que em muitos casos duram a vida toda.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Lidos | Outubro 2021

Fala, pessoal! Mais um mês se finda e com ele trago para vocês algumas indicações de leituras por meio dos livros que pude conferir. Como poderão ver abaixo, outubro foi um mês de leituras mais relaxantes. Comecei com um clássico que só conhecia por conta do filme, passei por uma leitura que esperava me emocionar bastante e finalizei com uma obra do maravilhoso Jostein Gaarder.

Vamos a eles:

O Jardim Secreto (Frances Hodgson Burnett, Zahar)

- Sinopse:

Ao perder os pais numa epidemia de cólera na Índia, onde nasceu e foi criada, a pequena e mimada Mary Lennox é enviada para viver na lúgubre mansão de seu tio, no coração da Inglaterra rural. Deprimido pela morte da esposa, o tio está sempre viajando, enquanto seu filho Colin, primo de Mary, passa a vida na cama como inválido. Solitária, Mary tenta se divertir vasculhando a propriedade, até que descobre um segredo incrível: o deslumbrante jardim de sua falecida tia, trancado e abandonado.

A descoberta do jardim faz com que Mary conheça Dickon, menino que conversa com os animais e as plantas, e se aproxime do primo, que volta a sair da casa numa cadeira de rodas improvisada. Assim, a amizade das três crianças e o encantamento causado pelo jardim começam a transformar a vida de todos na casa.

- Motivos para ler:

A obra é uma história encantadora de transformação e empatia. Um clássico da literatura inglesa infantojuvenil adorado há mais de um século por leitores de todas as idades e que tem como tema central o poder da amizade para superar as adversidades da vida.

- Curiosidades:

Publicado em 1911, O jardim secreto já inspirou diversas adaptações para teatro, TV e cinema.

 

A Segunda Vida de Missy (Beth Morrey, Intrínseca)

- Sinopse:

Em 1959 Millicent Carmichael, a Missy, casou-se com o homem que amava. Passados cinquenta anos, sem ele e com dois filhos criados e distantes, ela está sozinha. Embora se apresse em dizer que considerava seu papel de dona de casa e mãe pouco satisfatório, a verdade é que Missy devotou toda uma vida à família e suprimiu qualquer ideia de carreia em função do sucesso do marido. Agora que ele não está mais a seu lado, que ela brigou com a filha e que o filho se mudou para a Austrália com o neto que Missy tanto ama, ela passa os dias bebendo xerez, evitando as pessoas e vagando pela casa enorme e mal decorada esperando não se sabe o quê.

Missy não lembra, mas ela é fabulosa. Um pouco difícil, sim, e cabeça-dura, mas também generosa e espirituosa, um tanto à moda antiga. Sua falta de traquejo para lidar com a vida esvaziada de tudo que antes lhe conferia valor começa a parecer um caminho sem volta, até que, em uma de suas raras saídas à rua, um desmaio em pleno parque faz com que uma desconhecida se aproxime. Esse é o primeiro de uma série de acontecimentos fortuitos - uma invasão, uma cadela adorável sem raça definida precisando de uma lar - que, aos poucos, vão carregando ao redor da mulher solitária um grupo improvável de maravilhosos estranhos. Rodeada por essa comunidade alegre e diversa que encarna as várias formas de amar, Missy encontra uma nova razão para viver.

- Motivos para ler:

Retrato emocionante e reflexivo sobre a vida adulta e o envelhecimento, com direito a uma reviravolta final que dá vontade de voltar as páginas e buscar todas as pistas. A segunda vida de Missy é um retrato sensível da vida de um idoso que fica longe da família e, uma celebração de como os dias comuns podem ser extraordinários quando a gente se abre para a vida e se cerca das pessoas certas.

 

A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken (Jostein Gaarder e Klaus Hagerup, Companhia das Letras)

- Sinopse:

Nils tem doze anos e acaba de voltar das férias escolares de verão, passadas em companhia de sua prima Berit, na cidade de Fjærland, interior da Noruega. Para não deixar de se falar, os dois decidem escrever um diário e remetê-lo de uma cidade a outra pelo correio.

Já de início, porém, parece haver algo de misterioso no diário de Nils e Berit. Ao comprá-lo numa livraria, Nils conhece uma mulher estranha, alguém que ele e Berit haviam visto de passagem durante as férias. A mulher faz questão de ajudar Nils a comprar o diário - uma esquisitice que ele não deixa de contar à prima já em sua primeira "carta".

Em Fjærland, Berit se põe a segui-la. Diante da casa da mulher, Berit "furta" um pequeno envelope da caixa de correio. Dentro, encontra uma carta vinda da Itália, endereçada a uma certa Bibbi, que menciona um sebo em Roma. O estabelecimento guardaria não apenas livros raros, mas também livros ainda não escritos. E um desses livros se refere a uma certa "biblioteca mágica".

Toda essa história Berit conta a Nils em sua primeira carta. A aventura mal começou, mas o leitor já se vê mergulhado num grande mistério. Quem é Bibbi e que biblioteca mágica é essa? É um caso para os pequenos detetives Nils e Berit investigarem a fundo - e tudo aquilo de que o leitor precisa para se divertir pelas páginas restantes. Em A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, o grande herói é o livro e sua história, numa trama cheia de suspense e aventura.

- Motivos para ler:

A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken é uma história de mistério e aventura, que tem como protagonista dois jovens e a história do livro. Nessa viagem temos como diferencial um livro contado em sua grande parte, em formato de carta. Com cenários diversos e um bom plot, Gaarder nos convida mais uma vez a adentrarmos na sua escrita e ao fim dessa viagem, não seremos mais os mesmos que entramos.

domingo, 17 de outubro de 2021

Citações | A Segunda Vida de Missy (Beth Morrey)

 

  • "Todo coração canta uma música incompleta, até outro coração sussurá-la de volta.” – 07
  • “... não havia lacunas nem fraquezas, para começo de conversa. Homens e mulheres, mulheres e mulheres, mães e filhos, até idosas e cães: o amor era apenas amor, só isso. Falho, desigual, complicado, desencontrado, mas ainda essencial.” - 166

domingo, 10 de outubro de 2021

Resenha | O Mito da Beleza (Naomi Wolf)


* Por Beatriz Barbosa

Atualmente, as discussões sobre o protagonismo feminino nos diversos espaços da sociedade se intensificaram e muitos movimentos foram criados em torno desse debate. Um importante desdobramento diz respeito a questão estética, que por muitos anos as indústrias ditavam as regras e traziam inúmeras imposições para que as mulheres pudessem seguir, e agora o número de mulheres que tem buscado voltar ao seu natural tem crescido muito.

Apesar de todo destaque que essa temática tem ganhado, seja na imprensa ou nas redes sociais, esse tema já vem sendo debatido a muito tempo e um dos nomes, que podemos considerar como pioneira, é o de Naomi Wolf com sua obra O Mito da Beleza, lançado no Brasil pela editora Rosa dos Ventos.

Em sua obra, que é considerada como um dos livros mais importantes da terceira onda feminista, a autora confronta a indústria da beleza, tocando em assuntos difíceis, como distúrbios alimentares e mentais, desenvolvimento da indústria da cirurgia plástica e da pornografia e afirma que o culto à beleza e à juventude da mulher é estimulado pelo patriarcado e atua como mecanismo de controle social para evitar que sejam cumpridos os ideais feministas de emancipação intelectual, sexual e econômica conquistados a partir dos anos 1970.

O mito da beleza foi uma leitura essencial para mim. Sabe aquele livro que te ajuda a desconstruir conceitos enraizados durante toda uma vida dentro de você? Pois bem, foi assim que me senti com cada página, cada capítulo. Levei alguns meses para digerir tudo que era dito e ir aos poucos descontruindo em mim aquilo que foi durante muitos anos a minha verdade - estou passando por um processo de transição e esse livro foi um alento e uma certeza que eu estava no caminho certo.

Escrito em 1991, Naomi ouviu vários relatos de mulheres que -independentemente da idade, classe social -, viviam os mesmos dilemas e sofrimentos: o medo de envelhecer, a luta pela magreza, a busca pelo corpo ideal e a imagem perfeita. Mas o perfeito realmente existe? O que existe por traz desse interesse para que as mulheres se preocupem mais com sua própria imagem do que em ser feliz? Vamos descobrindo que a felicidade não vende, mas o sofrimento sim.

“A ‘’beleza” é um sistema monetário semelhante ao padrão ouro. Como qualquer sistema, ele é determinado pela política e, na era moderna no mundo ocidental, consiste no último e melhor conjunto de crenças a manter intacta o domínio masculino. Ao atribuir valor as mulheres em uma hierarquia vertical, de acordo com um padrão físico imposto culturalmente, ele expressa relações de poder as quais as mulheres precisam competir de forma antinatural por recursos dos quais os homens se apropriaram... A medida em que as mulheres iam exigindo acesso ao poder, esta estrutura recorreu ao mito da beleza para prejudicar de forma substancial o progresso das mulheres.”

Esses conceitos foram evoluindo desde a Revolução Industrial, então notamos que não é de agora que o mito foi construído e para ser ainda mais triste ele foi criado para as mulheres ter cada vez menos acesso ao poder. Uma mulher preocupada com sua imagem, insegura, infeliz não consegue facilmente conquistar espaços cada vez maiores e nem cargos que são dominados por homens. E assim foram existindo a rivalidade entre as mulheres, a competição para saber quem realmente é a mais “perfeita”.

A partir disso a indústria vai crescendo, produtos para rejuvenescer são criados, emagrecedores, modeladores. Os padrões são modificados conforme cada época e as mulheres tentando se adaptar.

Bem, como disse logo no início assim como tantas mulheres eu também fui vítima e fui facilmente manipulada, o que foi me vendido era que eu teria sucesso se eu chegasse no padrão da pele perfeita, cabelo com o liso perfeito, não muito magra e nem acima do peso, ser simpática para que os homens não me chamassem de grossa quando não tivesse interesse neles. Desejei por muitos anos fazer cirurgias plásticas, sentir medo de não ser uma mulher ideal - O que eu conquistei com tudo isso? Transtorno de ansiedade, lesões no couro cabeludo por uso excessivo de químicas, muita queda de cabelo, baixa autoestima por ter que me ver no espelho de outra forma.

As consequências são enormes, Naomi tem um capítulo onde ela fala sobre essa violência que nós mulheres cometemos com nosso próprio corpo, tem mulheres que ficam inférteis por desejar tanto a magreza e viver nessa busca a todo custo e muitas vezes essa violência custa a própria vida. Quantas já morreram por cirurgias plásticas malsucedidas ou simplesmente porque a cirurgias foi feita sem que de fato existir a necessidade? E quantas na busca do padrão do corpo perfeito cai no golpe do falso profissional e vão a clínicas clandestinas para realizar esse sonho e morrem? Inúmeras. Muito mais do que possamos imaginar.

“As dietas líquidas já provocaram pelo menos 60 mortes nos estados unidos e seus efeitos colaterais incluem náuseas, perda de cabelo, tontura e depressão. A compulsão pelo exercício produz anemia e interrupção do desenvolvimento. Os implantes mamários tornam mais difícil detectar o câncer. As mulheres deixam para depois as mamografias, com medo de perder um seio e de se tornar mulher pela metade... O mito não está adoecendo as mulheres apenas sob o aspecto físico, mas também sob o mental (...) O estresse é um dos mais graves fatores de risco médico, prejudicando o sistema imunológico e contribuindo para a pressão alta, as doenças cardíacas e o aumento das taxas de mortalidade no câncer. Ainda pior, o mito da beleza na era da Cirurgia, na realidade, reproduz dentro da consciência das mulheres os sintomas clássicos da doença mental.”

Esses dados são de 20 anos atrás, na época não existia as redes sociais e as exigências dos tempos atuais. Hoje o Brasil cresceu muito em cirurgias plásticas, aumentou ainda mais a busca pela “beleza” ideal, infelizmente com tantas regras impostas também aumentou os casos de procedimentos malsucedidos, depressão e transtorno de ansiedade. Por outro lado, muitas mulheres têm despertado e lutando pela liberdade de ser quem é, do amor-próprio e da autoaceitação. Nunca é tarde, não importa o que você já fez até aqui, o quanto já sofreu, adoeceu e se mutilou. Lute verdadeiramente para ter a liberdade de ser quem é.

“uma consequência do amor-próprio feminino é a de uma mulher se convencer de seu valor social. Seu amor pelo próprio corpo será irrestrito, o que é a base da identificação feminina. Se uma mulher ama seu próprio corpo, ela não inveja o que mulheres fazem com o delas. Se ela ama sua feminilidade lutará pelos seus direitos.”

O Mito da Beleza é uma leitura necessária, não só para as mulheres, mas também para os homens, afinal as mudanças se mostram urgentes e fundamentais para que a sociedade não padeça de um adoecimento auto imposto e catastrófico.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Resenha | O Jardim Secreto (Frances Hodgson Burnett)

No mundo literário existem muitas obras conhecidas como Clássicos. São livros que possuem personagens atemporais e marcam inúmeras gerações de leitores, que mantêm a história viva e contribuem para o surgimento de novos fãs.

Uma dessas obras clássicas é O Jardim Secreto, da escritora Frances Hodgson Burnett, lançado inicialmente em 1911 e que ganha mais uma edição pelas mãos da editora Zahar; com tradução atualizada, comentário da obra, curiosidades sobre a autora, cronologia da vida e a obra da Burnett e uma linda capa dura.

A trama do O Jardim Secreto gira em torno da jovem Mary Lennox, uma criança mimada e mal-humorada que nunca se sentiu amada, que se torna órfã após uma tragédia e precisar sair de sua casa - nas Índias Britânicas - para morar com um tio misterioso na Inglaterra. Essa mudança de lar vai ensiná-la que a vida sempre estará pronta para acolher aqueles que estão dispostos a se aventurar.

A primeira vez que tomei conhecimento da história O Jardim Secreto foi através do filme lançado em 1993 e protagonizado por Kate Maberly e pude revisitar essa emocionante narrativa com a nova adaptação lançada em 2020 e protagonizada por Dixie Egerickx. Ao fim dos dois filmes, me senti muito emocionado e tocado pela forma singela da narrativa e pela bonita mensagem passada. Contudo, ao finalizar a leitura do livro pude constatar que eu não tinha compreendido todas as mensagens que a história trazia e que a obra se torna ainda mais relevante e necessária pelos temas abordados.

A escrita da Burnett é fluída e muito cativante. Ao longa da leitura, o leitor vai tendo suas emoções despertadas - como a alegria, angústia, tristeza, compaixão, raiva, medo e muitas outras - graças aos personagens cativantes e situações que criam uma rápida identificação.

Ainda é fundamental que se diga, o quanto a Burnett foi corajosa e feliz, por trazer nessas páginas seus dramas pessoais e assim fazer com que se discuta temas como o luto e a depressão. Esses temas provam como a obra é atemporal, pois são temas extremamente atuais e necessários para que sejam debatidos. Ainda sobre essa temática é importante pontuar que eles servem como ponto de partida da história- e justificativa para o comportamento dos personagens principais - e que aos poucos são transformados, na medida que o Jardim vai desabrochando - o que serve como uma metáfora interessante sobre o autocuidado e o poder dos nossos pensamentos.

O Jardim Secreto é um clássico infanto juvenil, recomendado para todas as pessoas que buscam uma obra edificante e com uma mensagem importante, e que convida a todos para voltarmos para nosso interior e tirar as ervas daninhas, deixando espaço para que a alma floresça.

Lidos | Setembro 2021

Fala, pessoal! Mais um mês se finda e com ele trago para vocês algumas indicações de leituras por meio dos livros que pude conferir. Como poderão ver abaixo, setembro foi um mês de boas surpresas e fui de uma biografia/memórias até uma fantasia nacional muito interessante.

Vamos a eles:

Lili: Novela de um Luto (Noemi Jaffe, Companhia das Letras)

- Sinopse:

Em fevereiro de 2020, aos 93 anos, falece Lili, sobrevivente do Holocausto, mãe de três filhas e viúva. Sua doença vinha se estendendo há tempos, mas isso não faz com que a dor de sua partida seja menor. A banalidade da causa, "uma infecção nos pés", é confrontada com um sentimento de descrença. Como é possível que aquela que sempre esteve presente não exista mais?

Com domínio narrativo único e uma honestidade perturbadora, Noemi Jaffe relata os primeiros dias após a perda da mãe, indo fundo em suas lembranças e seus anseios para produzir uma história sobre a morte, mas também sobre o que fica depois dela.

- Motivos para ler:

Com uma narrativa sensível e muito emotiva, a autora fala sobre as dores da perda, seu processo de luto e como é possível viver esse momento para que consiga seguir em frente.

 

A Casa Assombrada (John Boyne, Companhia das Letras)

- Sinopse:

Londres, 1867. Eliza Caine tem 21 anos e acaba de perder o pai. Totalmente sozinha, como os heróis de Dickens sobre os quais tanto lê, e sem dinheiro para pagar o aluguel na cidade, ela depara com o anúncio de um tal H. Bennet, que busca uma governanta para se dedicar aos cuidados e à educação das crianças de Gaudlin Hall, uma propriedade no condado de Norfolk, leste da Inglaterra. O anúncio, contudo, não menciona a idade ou quantas crianças são, nem mesmo dá qualquer outro tipo de explicação.

Eliza não vê alternativa além de largar o emprego de professora em uma escola só para meninas e partir para o condado, onde pretende começar uma nova vida. Chegando a Gaudlin Hall, no entanto, ela se surpreende ao encontrar apenas Isabella, uma menina que parece inteligente demais para sua idade, e Eustace, seu adorável irmão de oito anos. Os pais das crianças não estão. Não se veem criados. De fato, não há nenhum adulto na propriedade, e a identidade de H. Bennet permanece um mistério.

A governanta recém-contratada busca informações com as pessoas do vilarejo, mas todos a evitam. Nesse meio tempo, fica intrigada com janelas inexplicavelmente fechadas, cortinas que se movem sozinhas e ventos absurdos na propriedade. E logo coisas de fato assustadoras começam a acontecer.

- Motivos para ler:

John Boyne é um daqueles escritores constantes que possuem uma escrita fluída e que arremata os leitores já nas primeiras páginas. Aqui ele foge de sua zona de conforto e entrega uma história cheia de mistério que em muitos momentos faz o coração bater mais depressa.

 

O Espadachim de Carvão (Affonso Solano, Casa da Palavra)

- Sinopse:

Kurgala é um mundo abandonado por Quatro Deuses. Adapak é filho de um deles. E agora ele está sendo caçado. Perseguido por um misterioso grupo de assassinos, o jovem de pele cor de carvão se vê obrigado a deixar a ilha sagrada onde cresceu e a desbravar um mundo hostil e repleto de criatura exóticas. Munido de uma sabedoria ímpar, mas dotado de uma inocência rara, ele agora precisará colocar em prática todo o conhecimento que adquiriu em seu isolamento para descobrir quem são seus inimigos. Mesmo que isso possa comprometer alguns dos segredos mais antigos de Kurgala.

- Motivos para ler:

A literatura nacional vive. Affonso Solano é um escritor da mesma grife que Raphael Dracoon, Raphael Montes e outros. O universo de Kurgala e suas criaturas fantásticas são ricas em detalhes e traz ação, paixão e aventura em doses capazes de prender até o mais resistente dos leitores. A saga de Adapak tem fôlego e material para render inúmeros volumes.

 

O Espadachim de Carvão e as Pontes de Puzur (Affonso Solano, Leya)

- Sinopse:

“Ninguém viaja mais rápido que Puzur.” Lutando para se adaptar ao mundo dos mortais, Adapak se refugia no navio de Sirara, farto de lidar com os segredos do passado. Mas quando um antigo diário cai em suas mãos, o Espadachim de Carvão acaba por mergulhar nos registros de alguém responsável por influenciar não somente sua vida, mas a história de Kurgala – uma menina forçada a acompanhar a jornada de um ladrão desesperado, disposto a violar as regras mais antigas que os Quatro Que São Um deixaram para trás. Quem foi Puzur? O que procurava? Enquanto viaja pelas páginas do tempo, Adapak desconhece que sua curiosidade está prestes a colocá-lo sob a ameaça de algo que ele mesmo possa ter desencadeado.

- Motivos para ler:

Na continuação do Espadachim de Carvão, somos apresentados a Puzur, um personagem que tem muito em comum com nosso herói e carrega junto de si, uma arma capaz de mudar o destino de Adapak e todo o mundo.

Solano mantem sua escrita ágil e detalhista, e entrega as mesmas emoções e aventura da edição anterior. Além de novos personagens que mereciam uma obra a parte.

- Curiosidade:

O Espadachim de Carvão e as Pontes de Puzur é o segundo volume da história do Espadachim de Carvão e que já ganhou um spin off chamado Tamtul e Magano e a Ameaça de Rumbada e tem o terceiro volume em produção, que se chamará O Espadachim de Carvão e a Voz do Guardião Cego.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Citações | O Espadachim de Carvão (Affonso Solano)


 
  • "A distância entre nós e o que desejamos superar deve ser decidida por nós mesmos, e não somente pela natureza...” – 79
  • “... a curiosidade vence o medo de maneira mais eficaz que a bravura.” – 80
  • “... a tendência das pessoas inseguras é ferir ou afastar delas aquilo que não compreendem.” – 82
  • “... o segredo não resiste nos instrumentos, mas na técnica.” – 114
  • “A sabedoria não está em se domar o poder, mas na forma de se utilizá-lo.” - 163

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Resenha | A Casa Assombrada (John Boyne)

 


Entre o céu e a terra, existem mistérios que fogem à compreensão humana. Esses fenômenos inexplicáveis e que são sustentados pela fé foram explorados ao longo dos anos através de produções cinematográficas, literárias, entre outros.

Mostrando toda a sua grandeza como contador de histórias, John Boyne foge da sua zona de conforto e apresenta um enredo de dar calafrios aos seus leitores, no seu livro A Casa Assombrada.

Lançado no Brasil pela Companhia das Letras, a narrativa nos apresenta a jovem Eliza Caine, que após uma grande perda na vida, resolve aceitar um trabalho em outra cidade, a fim de recomeçar e deixar as lembranças triste para trás. Contudo, ela está prestes a descobrir que o mundo real pode ser tão (ou até mais) assustador que os livros que ela tanto ama.

“Somos todos animais sob nossas peles? Mascaramos nossos instintos com palavras bonitas, roupas e comportamento aceitável? Dizem que, se nos entregássemos aos nossos desejos verdadeiros, avançaríamos uns sobre os outros com uma sede de sangue sem precedentes, todos nós.”

A Casa Assombrada é uma leitura frenética. Seu ritmo um tanto cadenciado nas primeiras páginas, ficam longo para trás, abrindo espaço para uma sequência de mistério, investigação e ação - que envolve assassinatos, uma cidade interiorana que resiste a forasteiros e muitos pesadelos; que torna impossível parar de ler.

Ao longo da obra, Boyne mostra toda sua sagacidade, com personagens criados de forma rica em detalhes e que passam para o leitor todas as emoções dos acontecimentos narrados. Além disso, a ambientação do livro é um destaque a parte. A Inglaterra da era vitoriana já oferece um contexto tenebroso e que faz palpitar o coração dos leitores – seja na capital, suja e com uma neblina fantasmagórica; ou ainda no interior, com habitantes pouco acolhedores e com uma áurea misteriosa.

Depois de sucessos como O Menino do Pijama Listrado e O Garoto no Convés, John Boyne mostra toda a sua versatilidade como escritor e traz uma obra capaz de atrair atenção dos fãs mais fervorosos de Stephen King e presentear os desavisados com noites insones.


Citações | A Casa Assombrada (John Boyne)

  • "Somos todos animais sob nossas peles? Mascaramos nossos instintos com palavras bonitas, roupas e comportamento aceitável? Dizem que, se nos entregássemos aos nossos desejos verdadeiros, avançaríamos uns sobre os outros com uma sede de sangue sem precedentes, todos nós.” - 142

 

sábado, 11 de setembro de 2021

Resenha | O Ar Que Me Falta (Luiz Schwarcz)


Para os historiadores as guerras terminam quando a divergência entre as nações é superada. No entanto, esses conflitos deixam como legado devastações que podem durar anos a fio, principalmente nas relações familiares daqueles que lutaram ou foram perseguidos.

O impacto da Segunda Guerra nas relações familiares é um dos temas abordados no livro de memórias O Ar que Me Falta, escrito por Luiz Schwarcz e lançado pela editora Companhia das Letras.

Na obra, Luiz Schwarcz, de família judia e fundador da editora Companhia das Letras, traz um relato emocionante sobre sua própria história. Ao longo da jornada, veremos como a Segunda Guerra impactou na saúde do seu pai, os conflitos culturais que desencadearam uma disputa interna na família, a criação rígida que teve e algumas enfermidades da mãe; que terminaram o levando a um severo quadro de Depressão - que o acompanha até hoje.

O livro de Schwarcz é de leitura difícil, afinal ele traz muitos temas sensíveis. Ao longo de suas páginas vamos sentindo o peso dos acontecimentos e captando toda a melancolia que a obra passa. O escritor, ao longo de 13 capítulos e um epilogo, soube destrinchar os elementos principais de sua jornada, e hora com metáforas e as vezes com o sentimento literal das coisas, passa para o leitor toda a emoção de tudo que viveu.

“Quem tem depressão vive apenas em função do momento. O julgamento é sempre absoluto e no presente... Ao tentar rememorar a pré-história da minha doença, penso agora na minha constante angústia infantil. Era um tempo permeado de medo e silêncio. No entanto, esses sentimentos vinham a seco, pareciam naturais, como se não houvesse motivo que os justificasse ou acompanhasse. Sem ter com quem me comparar, eu provavelmente achava que ter medo era parte intrínseca da existência, que todos sentiam o mesmo que eu.”

No mês em que muito se fala e se conscientiza sobre a questão da saúde mental, a obra O Ar que Me Falta, escrita com muita coragem e sensibilidade pelo Luiz Schwazrcz, nos convida a revisitarmos a nossa própria história e buscar – através de ajuda especializada e apoio dos amigos e familiares - nos reinventarmos, para que assim possamos ressignificar nossos traumas e ter dias mais tranquilos e relações mais saudáveis em nossas vidas.


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Resenha | Digna de Ser Amada (Amanda Souza)

 * Por Beatriz Barbosa


Amanda Souza é uma jovem psicóloga, de apenas 22 anos, que escreveu o livro Digna de Ser Amada, no qual aborda sua própria experiência a respeito de como trava o próprio corpo. A obra lançada pela editora Vecchio é uma leitura necessária e muito coerente. Nos leva a refletir como temos aprendido a lidar com as críticas e cobranças externas e como isso impacta na forma agressiva como nos relacionamos com nosso corpo e consequentemente nossa imagem.

“Enxergar a mim mesma de um modo tão negativo e inferior só reforçou meus pensamentos de inadequação, falta de valor e fracasso. Tornou-me ainda mais insegura, descrente de mim e cada vez mais dependente de balizas exteriores para assentar os autojulgamentos que fazia.”

A autora relata o quão difícil foi crescer em meio a comparações e palpites de como o corpo dela deveria ficar, o quanto não deveria engordar pois ficaria feia. Inúmeros comentários que a fazia se cobrar e ser cada vez mais exigente com o seu biótipo físico – desenvolvendo assim, transtornos e comportamentos nada saudáveis.

“Assim como muitas garotas, passei boa parte da adolescência/juventude contando calorias e me flagrando inúmeras vezes ajoelhada em frente à privada para vomitar a comida de propósito (...) É uma cena feia e triste, e os sentimentos conseguem ser ainda pior. Uma sensação de desgaste, cansaço, fracasso e ruína (...)”

Amanda ainda acrescenta de forma muito sincera e contundente que

“Eu morro de vergonha de assumir que sempre fui muito boa em me machucar. Não foram apenas vômitos provocados. Minha aversão a mim mesma, a maneira como eu fazia questão de me diminuir e inferiorizar e as crenças autodestrutivas me levaram a relacionamentos nocivos, automutilação, hábitos prejudiciais à saúde, comportamentos de riscos. Era uma tendência à auto agressividade descabida e imerecida (...)”

Durante as últimas décadas o padrão de beleza veio ganhando muita força. Com a nova era digital, com inúmeros efeitos modificadores de imagem, o teor de exigência por uma imagem perfeita vem ganhando cada vez mais espaço e as consequências são altíssimas. Contudo, na realidade não existe corpo padrão, não é possível exigir que em um universo com inúmeros formatos de corpo e rosto, um padrão seja seguido. Assim, cada vez menos preocupados com a saúde, vamos vendo mulheres e homens adoecendo na tentativa de se encaixar e na busca de viver no conforto do autojulgamento.

“O padrão de beleza, ao demarcar a magreza como ideal a ser seguido, faz com que uma quantidade imensa de pessoas fique automaticamente no time dos inadequados. Uma quantidade imensa de pessoas não compõe o esperado e geram lucros estratosféricos na tentativa de se fazer encaixar.”

A obra traz alguns trechos sobre as inúmeras dietas que a autora fazia, sem nenhum acompanhamento profissional, colocando em risco a própria saúde na tentativa de não engordar e/ou perder alguns quilos, mesmo não sendo “gorda” – tudo pela tentativa de atingir uma estrutura corporal que não a pertencia.  As consequências eram frustração, sofrimento, sentimento de fracasso, compulsão, baixa autoestima.

“Desafios alimentares se propagam aos montes na internet sugerindo que por 20 ou 30 dias se siga um cardápio e um projeto de exercício físicos e específicos. Então, ingenuamente nos torturamos com esse breve período, levando nosso corpo a um turbilhão de desajustes metabólicos e orgânicos, e, após o processo voltamos o nosso ritmo normal de funcionamento e ingestão alimentar. E engordamos tudo de novo.”

Começamos a partir desse ponto acreditar que existe alimentos milagrosos e demoníacos. Vivemos uma relação conturbada com a comida.

Já na busca por uma reabilitação e práticas mais saudáveis, a escritora menciona sobre o importante trabalho do nutricionista e o quanto esse profissional está cientificamente embasado para cuidar e tratar.

“Preciso ressaltar que o trabalho da nutrição é inegavelmente importante e as prescrições de dietas feitas a partir de embasamento cientifico são muito diferentes daquilo que vemos no Dr. Google, e que o acompanhamento profissional e responsável é, com certeza capaz de promover resultados satisfatórios, duradouros e transformadores na vida das pessoas por meio de prevenção, promoção e recuperação da saúde. Por isso todo meu respeito aos nutricionistas e seus honrosos trabalhos.”  

Assim como a Amanda Sousa que apesar de ter apenas 22 anos quando escreveu esse livro, de forma corajosa compartilha suas experiências conosco, também temos a necessidade de parar e refletir. Como estamos cuidado de nós nesse momento? Como está sendo a nossa relação com o corpo e a imagem? O caminho não é fácil, mas podemos buscar ajuda através de terapia, nutricionistas, livros sobre o assunto, entre outras ações; que nos tornarão pessoas mais conscientes e saudáveis. Nunca é tarde para voltar para casa.

“Me desculpe por tamanha dificuldade em me sentir satisfeita com seu formato, tamanho e dimensão. Desculpe ser tão agressiva. Tão violenta. Tão negligente. Desculpa te machucar tanto. Desculpa ter feito você cicatrizar feridas que causei de propósito. Desculpa te fazer vomitar comida(...) Quero muito voltar para casa.”


sábado, 4 de setembro de 2021

Resenha | A Vida Perfeita Não Existe (Daiane Garbin)

 * Por Beatriz Barbosa


A história de formação da sociedade humana sempre teve o "protagonismo" de homens "bem-intencionados" que apoiados pelos grupos de poder e dos que detinham a riqueza da época, ditaram costumes, modos e o ideal para a população; relegando às mulheres a um lugar de coadjuvantes - que apesar da resistência, ainda buscam romper com essas amarras. Hoje, esse modelo patriarcal de organização, ainda resiste e tem um importante aliado nas redes sociais. Muitos influenciadores digitais, na busca de likes e recursos, reforçam estereótipos, vendem padrões irreais e uma perfeição produzida pelos inúmeros filtros de aplicativos.

Sobre esse contexto das influências das redes sociais em nossas vidas, a autora Daiana Garbin nos convida à leitura do seu mais novo livro A Vida Perfeita não Existe. Lançado pela editora Sextante, a autora se abre para os leitores e através de um doloroso processo pessoal divide conosco sua jornada à procura de respostas. Com base em estudos, pesquisas, entrevistas com especialistas e depoimentos, ela traça um panorama da frustração que sentimos ao perseguir um tipo de felicidade irreal e mostra como encontrar coragem para adotar uma nova atitude em relação a vida.



A escritora faz uma abordagem sobre os nossos sentimentos mais intimidadores e as nossas dificuldades de lidar com eles. A leitura da obra se parece com uma conversa entre amigas, na qual alguém conta sobre um problema e o que foi feito para chegar nas condições atuais. Esse caminho é desnudado por relatos fortes e emocionantes, tanto da autora como também de alguns de seus leitores, o que nos provoca reconhecimento e compaixão.

Faz parte da natureza humana sentir medo, raiva, ciúmes. Por outro lado, tem sentimento que parece absurdo ser sentido e é um verdadeiro tabu se falar nisso - como a inveja. Em um dos seus relatos, Daiana reconhece que sente inveja desde a infância e o quanto ela sofreu com isso.

“Eu hesitei e depois comecei a chorar; não queria falar alto a palavra “inveja”. Eu não podia sentir aquilo afinal é um sentimento hostil, agressivo. Queria ser uma pessoa boa e, na minha cabeça, pessoas boas não sentem inveja. Mas acabei percebendo que o que sentir naquele momento foi, sim, inveja. Chorei muito, não conseguia me perdoar por algo tão terrível.”

Aprender a reconhecer os nossos sentimentos nos faz ter mais percepção sobre nós mesmos e a partir disso trabalharmos no nosso desenvolvimento. Contudo, para chegar a esse grau de evolução, precisamos rever os nossos condicionamentos, uma vez que desde muito novos, somos ensinados a reprimir os sentimentos ditos ruins e como consequência sentimos vergonha, culpa. Vergonha de ser quem somos, de não ser aceito, não ser amado, de não fazer parte de um grupo social ou de um padrão estético. Uma pessoa não nasce sentindo vergonha, ela é externa, aprendemos a senti-la.

“O que vai ditar as vergonhas que vão se manifestar é tudo aquilo que você aprendeu, ouviu e vivenciou desde a infância (...)”

Garbin se aprofunda nessa questão dos sentimentos que nos é incutido desde a infância, ao abordar sobre as vergonhas direcionadas ao corpo. Nos dias atuais é muito comum nos deparar com pessoas insatisfeitas com o corpo que possui. O corpo deixou de ser um templo sagrado, a nossa casa, o lugar que nós habitamos e virou um inimigo a ser combatido - virou alvo de ataques. Sentimentos de ódio, rejeição, raiva, culpa, vem ganhando espaço e com eles, a dificuldade em olhar o próprio corpo no espelho, características de um transtorno de imagem - no qual a pessoa tem dificuldades em enxergar a sua imagem real e não distorcida pela ideia do que seria perfeito.

“Em meus estudos e pesquisas, descobrir que a vergonha relacionada a imagem corporal é quase unanimidade entre as mulheres e muito presente nas inquietações dos homens. E que a vergonha da forma do corpo é, na verdade, vergonha de algo que aquele corpo viveu ou desejou.”

Existe muitos relatos fortes de mulheres que sentem vergonha do próprio corpo por uma série de motivos: por odiar ser “magra”, por odiar ser “gorda”, pela vergonha de fracassar, não ser boa namorada e nem boa filha... e uma forma de escape/ autopunição que encontram é através da mutilação, outras ficam anoréxicas ou obesas por nojo e culpa de terem sofrido abuso.  Esses fenômenos não se limitam a faixa etária e nem condições financeiras, o que evidencia que a raiz do problema está na forma como aprendemos a nos relacionar com o nosso corpo, com as nossas dores.

“Para lidar com um sofrimento, seja ele qual for, é preciso primeiro perder a vergonha de senti-lo e, ao invés disso, aceita-lo, dar-lhe acolhimento incondicional no lugar de querer fazê-lo desaparecer. Ele já está aqui, não vai sumir sozinho. Suas feridas mais profundas precisam ser reconhecidas, aceitas, tiradas das sombras, para que assim você possa suavizá-las”.

Outro tema abordado no livro é o sentimento de insuficiência. A autora, mesmo tendo sucesso profissional, se sentia incompleta e se enxergava sozinha, desolada, fracassada por coisas que ela não conquistou - como por não ter o corpo magro como desejou ou pelos caminhos profissionais que ela percorreu.

“Perdemos a capacidade de gostar de nós mesmas quando passamos a viver de um jeito perigoso: baseado na comparação, na competição, na inveja, na desqualificação dos outros, idealizando uma vida plena/perfeita e não aceitando que erros, fracassos e vazios são partes inevitáveis da vida.”

Quando comecei a ler esse livro eu não imaginava que Daiana teria tanta razão em dizer o quando esse livro iria incomodar. Passei anos na minha vida me sentindo insuficiente, incompleta e nada em mim bastava. Então eu busquei preencher vazios, sempre buscava ter minha mente ocupada e assim foi por anos. Quando entrei na faculdade eu me dediquei absurdamente, coloquei os estudos acima do meu bem-estar, eu queria alcançar um espaço, eu acreditava que assim eu me sentiria plena e completa. Mas nada disso ainda era bom o suficiente. Eu não me sentia feliz por muito tempo com algo que eu conquistasse, estava sempre presa naquilo que ainda não conquistei.

“Vivemos uma busca eterna por algo que nunca chega. A vida idealizada nunca chega. A felicidade idealizada nunca chega. O corpo idealizado nunca chega. O dinheiro idealizado nunca chega. Estamos perpetuamente angustiados deixando nossa vida passar.”

Daiana ressalta que a vida perfeita realmente não existe, nem para ela, nem para mim e muito menos para você. Somos humanos, temos emoções, sentimos dores, sofremos, coisas boas e ruins acontecem em nossa vida. Pessoas vão embora, outras chegam. Não temos como controlar os acontecimentos. Mas podemos identificar o que sentimos, reconhecer e cuidar com amor e carinho para suavizar.

“Viver de modo respeitoso é saber que posso contar comigo para enfrentar os desafios da vida. É me considerar uma aliada, uma amiga, e não minha pior inimiga. É saber que eu posso me acolher, me respeitar, me abraçar, sentir amor e carinho por mim mesma. É ter coragem e a responsabilidade de aceitar e admitir meus erros e defeitos, meu lado obscuro, e mudar, porque me amo e me respeito.”

Depois de muitas reflexões, relatos, trechos de livros que foram necessários na vida da escritora, ela nos convida a voltar para nossa casa. Nosso corpo estará ali conosco até o final da nossa vida. Mesmo que você não se sinta feliz por ele não ser como gostaria é necessário se olhar com respeito e cuidar da casa que te acolhe todos os dias.


Lidos | Julho e Agosto 2021

Fala, galera! Desculpem pelo sumiço. Em julho entrei de férias e logo em seguida fiquei sem computador, terminei não conseguindo indicar minhas leituras para vocês. Assim, nesse post estão as obras que li nos últimos dois meses.

Vamos a eles:

Árvores dos Desejos (Katherine Applegate, Intrínseca)

- Sinopse:

Red é um carvalho centenário que já viu de tudo um pouco em seus muitos anos de vida. Também é a árvore dos desejos do bairro, e todo ano, no dia 1° de maio, as pessoas amarram em seus galhos fitas ou tiras de tecido com os mais diversos pedidos, sonhos e anseios.

Não é da natureza das árvores se intrometer na vida dos humanos, por isso, Red sempre ouve tudo com muita atenção, em silêncio. Mas então, numa noite fria, o pedido sussurrado da solitária Samar faz Red perceber que talvez tenha chegado a hora de sua voz ser finalmente ouvida.

- Motivos para ler:

A obra é uma fábula moderna que fala sobre o poder da amizade e a empatia. Um livro capaz de aquecer até os mais gélidos dos corações e renovar a esperança de todos aqueles - otimistas - num mundo melhor e mais acolhedor.

- Curiosidade:

Árvore dos Desejos é a mais nova obra da autora Katherine Applegate, que teve seu livro O Grande Ivan, adaptado para as telonas.


Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem (Maryse Condé, Rosa dos Ventos)

- Sinopse:

Tituba, mulher negra, nascida em Barbados, no século XVII, renasce, três séculos depois. Torna-se outra vez real, pelas mãos da premiada escritora Maryse Condé. No início do livro, Maryse Condé anota: “Tituba e eu vivemos uma estreita intimidade durante um ano. Foi no correr de nossas intermináveis conversas que ela me disse essas coisas que ainda não havia confiado a ninguém.” Da mesma forma, quem lê Tituba poderá ouvi-la falar, do invisível, desestabilizando estruturas cristalizadas, mediando novas concepções de identidades e culturas e protegendo as pessoas insurgentes.

Aqui, essa personagem fascinante, é retirada do silêncio a que a historiografia lhe destinou. Filha de uma mulher negra escravizada, viveu cedo o terror de ver a mãe assassinada por se defender do estupro de um homem branco e de saber que o pai se matou por causa do mesmo homem branco. Cresceu sob os cuidados de uma mulher que tinha o poder da cura e que a iniciou nos mistérios. Adulta, apaixonou-se por John Indien e abdicou, por ele, da própria liberdade.

Uma das primeiras mulheres julgadas por praticar bruxaria nos tribunais de Salem, em 1692, Tituba fora escravizada e levada para a Nova Inglaterra pelo pastor Samuel Parris, que a denunciou. Mesmo protegida pelos espíritos, não pôde escapar das mentiras e acusações da histeria puritana daquela época.

- Motivos para ler:

A obra é um resgate histórico de um dos episódios mais tristes de nossa história, quando inúmeras mulheres foram perseguidas e condenadas por conta de supostas práticas de bruxaria.

Mais do que fazer justiça com a personagem de Tituba, que foi apagada da narrativa histórica. O livro é um relato forte e de forma bem direta nos convida a refletir sobre as injustiças e estruturas de poder que busca se manter até os dias atuais, as custas das minorias que são postas na condição de invisibilidade.

- Curiosidade:

Maryse Condé foi vencedora do New Academy Prize 2018 (Prêmio Nobel Alternativo).

 

Dragões de Éter: Estandartes de Névoa (Raphael Draccon, Melhoramentos)

- Sinopse:

Hoje é um dia especial para Nova Ether e para todos leitores e fãs que mantiveram seus Reis, Rainhas, Bruxas e Fadas vivos. Após 13 anos de espera, o desfecho da fantástica série Dragões de Éter ficou pronto.

Estandartes de Névoa traz todas as respostas para os questionamentos e dúvidas até então não resolvidos nos outros livros. Com desfecho surpreendente e inusitado, Raphael Draccon presenteia os leitores com tudo o que pediram e merecem saber sobre o destino de Maria Hanson, Axel Branford e Livith.

O Continente Nascente finalmente é trazido à tona na história, assim como os povos e perigos existentes nele. Também são reveladas a identidade da Virgem de Trigger – destinada a gerar o novo Merlim – e a ascensão do verdadeiro Pendragon!

O mundo de Nova Ether como se conhecia não existe mais. Não apenas mudou, como nunca mais será o mesmo! Chegou a hora de vivermos um último e emocionante sonho, escrito e pensado exclusivamente para você, leitor!

- Motivos para ler:

Depois de 13 anos desde o lançamento do terceiro volume da quadrilogia Dragões de Éter, Raphael Draccon presenteia os fãs com a conclusão de uma história incrível.

A leitura vale tanto pela nostalgia de podermos revisitar um mundo habitado por heróis e personagens que já amamos desde a infância, quanto pela escrita criativa e apaixonante, como só um verdadeiro contador de história é capaz de ter.

- Curiosidade:

Estandarte de Névoa é o quarto volume da quadrilogia Dragões de Éter.