Em 2015, uma foto chocou o mundo. Nela é possível
ver o pequeno Alan Kurdi, menino sírio de apenas 3 anos, morto
em uma praia da Turquia, ao tentar – ao lado da família – fazer uma
travessia pelo Mediterrâneo para chegar a “segurança” da Europa.
Um guarda turco carregando o pequeno Alan Kurdi, vitima de afogamento. |
As lágrimas e a comoção que a foto gerou criou a
expectativa de que a insensibilidade com que os deslocados (pessoas que
precisam abandonar suas casas, mas permanece dentro do seu próprio país) e os
refugiados (pessoas que precisam abandonar suas casas e vão para
outro país) são tratados, desse lugar a um acolhimento digno, no qual
o lado humano prevalecesse, e todas essas pessoas que precisam fugir de suas
casas por conta das guerras, pobreza e fanatismo religioso pudessem encontrar a
paz nos lugares que buscaram para pedir ajuda.
Atualmente, o mundo ainda possui uma crise de
refugiados poucas vezes vista em sua história e a situação dessas pessoas, em
condições de vulnerabilidade, pouco tem mudado. É buscando dar voz e reconhecer
o valor dessas pessoas que Malala Yousafzai nos presenteia com
seu novo livro, Longe de Casa. Lançado no Brasil pela Seguinte,
selo da editora Companhia
das Letras.
Malala Yousafzai |
Em Longe de Casa, Malala apresenta um
pouco de sua história, em como ela se sente grata pela oportunidade de
recomeçar, mas principalmente a indignação de ter sido obrigada a deixar seu
país e sua casa por conta da violência. Ela também traz a jornada de outras 10
pessoas que tiveram suas vidas radicalmente transformadas por motivos muito
parecidos: guerra, pobreza, perseguição religiosa.
“Não sou uma refugiada. Mas compreendo a experiência de estar longe de casa, de ter que deixar meu lar, meu país, porque ficar seria perigoso demais. Quando penso em refugiados e em todos aqueles que foram obrigados a migrar, penso em resiliência. Coragem. Bravura. Penso na primeira viagem que fiz ao campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, em 2014, e em todos os sírios que encontrei na fronteira. Eles tinham chegado ao fim de sua jornada angustiante, mas era apenas o começo de uma vida diferente e incerta. Penso em Muzoon, María e Marie Claire. Penso em Najla e Zaynab. E essas são apenas algumas das meninas e jovens extraordinárias que conheci que me inspiraram a mergulhar mais fundo em minha própria história de migração para compreender e compartilhar a delas.”
Ao ler Longe de Casa me emocionei em
muitos momentos e em cada história passei a me questionar sobre o quanto sou
abastado e em como pouco agradeço pela vida que tenho. O livro também
ensina sobre a migração trazendo as causas desse fenômeno, os dados dos
refugiados pelo mundo e apresenta algumas iniciativas criadas para atenuar a
dor das pessoas que sofrem com essa crise. Mas, o ponto alto da narrativa,
foram as histórias trazidas por outras refugiadas. Meninas que perderam tudo,
mas ainda assim, mostram uma força sobre-humana, uma resiliência e coragem para
extrair da vida as melhores oportunidades e se tornarem verdadeiros exemplos
para a humanidade.
Malala com María, uma das
meninas que apresenta sua história no livro Longe de Casa
|
Malala é uma mulher extraordinária que nos
inspira a sermos sempre melhores, a buscar a justiça para o mundo e para as
“minorias” e em Longe de Casa, ela dá mais um exemplo do seu
altruísmo, ao oferecer um espaço para que outras meninas pudessem ter voz, e
“gritar” para o mundo que elas tem sede de viver.
“Ter uma escolha tão importante tirada de mim me deixou ainda mais apegada às escolhas que posso fazer. Escolho falar. Escolho defender os outros. Escolho aceitar o apoio de pessoas do mundo todo.”
Curiosidades:
O menino Alan Kurdi recebeu uma bonita
homenagem do escritor Khaled Hosseini, que escreveu o livro A Memória do Mar baseado na breve vida do pequeno Sírio.
Sinopse:
Neste livro, a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel
da paz conta sua história de migração e dá voz a garotas que estão entre os
milhões de refugiados pelo mundo.Ao longo de sua jornada, a paquistanesa Malala
Yousafzai visitou uma série de campos de refugiados, o que a levou a pensar
sobre sua própria condição de migrante — primeiro dentro de seu país, ainda
quando criança, e depois como ativista internacional, livre para viajar para
qualquer canto do mundo, exceto sua terra natal. Em Longe de casa, que é ao
mesmo tempo um livro de memórias e uma narrativa coletiva, Malala explora sua
própria trajetória de vida e apresenta as histórias de nove garotas de várias
partes do mundo, do Oriente Médio à América Latina, que tiveram que deixar para
trás sua comunidade, seus parentes e o único lar que conheciam.
Numa época de crises migratórias, guerras e disputas por fronteiras, Malala nos lembra que os 68,5 milhões de deslocados no mundo são mais do que uma estatística — cada um deles é uma pessoa com suas próprias vivências, sonhos e esperanças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário