“Não quero lembrar. Mas as pessoas precisam contar suas desgraças. É difícil chorar sozinha.”
A Segunda
Guerra Mundial, que teve inicio a exatos 80 anos, talvez seja um dos
acontecimentos mais trágicos na história da humanidade. Travada entre setembro
de 1939 e setembro de 1945, ela tem sido discutida e eternizada em diversas
oportunidades nas telas de cinema – geralmente sempre retratando os bravos e
heroicos soldados que contribuíram para por fim ao confronto. Contudo, é
importante que se lembre dos civis, e em especial das crianças, que indefesas,
milhões terminaram sendo mortas e outras milhares, perderam tudo, sendo
deixadas em orfanatos para que pudessem lutar a própria batalha para sobreviver
a tristeza, a fome, o medo e a solidão.
Svetlana Aleksiévitch |
Graças
a um intenso trabalho jornalístico, a persistência e a sensibilidade da
escritora Svetlana Aleksiévitch, dona de um prêmio Nobel da
literatura, somos apresentados à obra As Últimas Testemunhas. Na
qual, temos a oportunidade de ler os relatos emocionados e tristes das
crianças, que de uma hora para outra, presenciaram em primeira mão, os horrores
e a crueldade da Guerra destruir tudo aquilo que lhes era mais caro: os pais, o
lar e a inocência.
“A guerra é meu livro de história. Minha solidão… Perdi a época da infância, ela fugiu da minha vida. Sou uma pessoa sem infância, em vez de infância tenho a guerra.”
A
leitura da obra da Aleksiévitch não é fácil, a todo momento
emoções como a perplexidade, a raiva, a tristeza, a impotência, a falta de fé
aparecem ao longo das páginas. Os relatos são crus, verdadeiros e muitas vezes
o leitor vai ficar se perguntando que tipo de “besta” é capaz de provocar em
crianças perversidades tão inomináveis e gratuitas, a ponto de muitas delas,
carregarem por muitos anos essas dores.
“… nunca consigo ficar feliz até o fim. Completamente feliz. Felicidade não é para mim. Tenho medo da felicidade. Sempre acho que logo mais ela vai acabar. Em mim sempre vive esse ‘logo mais’.”
Outro
ponto a se lembrar é que o livro é constituído por um conjunto de memórias de
inúmeros personagens, então em alguns momentos a escrita pode parecer
“quebrada”, como se tivesse sido interrompida no meio da frase, o que pode
provocar certo estranhamento nas pessoas que estão tendo acesso a esse tipo de
literatura pela primeira vez.
Lançado
no Brasil pela Companhia das Letras, o livro, As Últimas Testemunhas, da Svetlana Aleksiévitch,
é um convite extremamente necessário aos horrores da Guerra, afinal devemos
conhecer nosso passado, para que a gente não cometa os mesmos erros e assim
possamos construir um presente/futuro melhor para todos.
“Não entendo o que são pessoas desconhecidas, porque eu e meu irmão crescemos entre pessoas desconhecidas. Pessoas desconhecidas nos salvaram. Mas como elas seriam desconhecidas para mim… Todas as pessoas estão ligadas. Vivo com esse sentimento, mesmo que muitas vezes me decepcione. A vida em tempo de paz é diferente…”
Sinopse:
Neste
livro doloroso e potente, a Nobel de literatura Svetlana Aleksiévitch reuniu os
relatos francos de vários sobreviventes da Segunda Guerra que, quando crianças,
testemunharam horrores que nenhum ser humano jamais deveria experimentar. A
Segunda Guerra Mundial matou quase 13 milhões de crianças e, em 1945, apenas na
Bielorrússia, havia cerca de 27 mil delas em orfanatos, resultado da devastação
tremenda causada pelo conflito no país. Entre 1978 e 2004, a jornalista
Svetlana Aleksiévitch entrevistou uma centena desses sobreviventes e, a partir
de seus testemunhos, criou uma narrativa estupenda e brutal de uma das maiores
tragédias da história. A leitura dessas memórias não é nada além de
devastadora. Diante da experiência dessas crianças se revela uma dimensão
pavorosa do que é viver num tempo de terror constante, cercado de morte, fome,
desamparo, frio e todo tipo de sofrimento. E o que resta da infância em uma
realidade em que nada é poupado aos pequenos? Neste retrato pessoal e inédito
sobre essas jovens testemunhas, a autora realizou uma obra-prima literária a
partir das próprias vozes de seus protagonistas, que emprestaram suas palavras
para construir uma história oral da Segunda Guerra.
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