Os
homens em toda sua arrogância sempre acreditaram que o melhor para o mundo era
a sua visão e sua forma de governar. Assim, coube às mulheres escolherem os
caminhos que fossem melhor, ou dizendo de outra forma, menos pior para elas; e
ainda tentar sobreviver com as situações que lhes forem impostas.
Diante desse cenário predominantemente patriarcal e inúmeras vezes machista – para dizer o mínimo; temos ainda, dogmas religiosos, como o Islamismo, que faz com que muitas mulheres tenham que (sobre)viver em situações humilhantes em diversos países, a exemplo os do Oriente Médio. Contudo, mais frequente do que os donos do poder dessas regiões gostariam, muitas mulheres erguem a voz e rompem com o sistema posto, para clamar por liberdade. É sobre a história de uma dessas mulheres que o livro A Mulher com Olhos de Fogo aborda.
Diante desse cenário predominantemente patriarcal e inúmeras vezes machista – para dizer o mínimo; temos ainda, dogmas religiosos, como o Islamismo, que faz com que muitas mulheres tenham que (sobre)viver em situações humilhantes em diversos países, a exemplo os do Oriente Médio. Contudo, mais frequente do que os donos do poder dessas regiões gostariam, muitas mulheres erguem a voz e rompem com o sistema posto, para clamar por liberdade. É sobre a história de uma dessas mulheres que o livro A Mulher com Olhos de Fogo aborda.
Nawal El Saadawi |
Escrito
por Nawal El Saadawi e lançado no Brasil pela Faro Editorial, a obra fictícia é
baseada em um relato real. A trama começa a tomar forma quando El
Saadawi resolve fazer uma pesquisa sobre neurose em mulheres e ao
visitar a prisão encontra Firdaus, uma mulher corajosa e que não
confia em ninguém.
“Uma pessoa que foi privada da capacidade de confiar vive à margem da sociedade; ela é só a sombra de um ser humano. Tal pessoa vive por instinto, e suas avaliações e considerações não vão além da necessidade de sobrevivência.”
No
início Firdaus se recusa a receber visitas, mas quando a hora
de sua morte se aproxima, ela resolve contar a sua história. História essa que
abalará as estruturas sociais; fará com que muitas mulheres repense sua vida e
reflita sobre a própria liberdade; e, principalmente, colocará uma semente no
coração de todas àquelas que lutam por mudanças – é o despertar feminista.
“Deixe-me falar. Não me interrompa. Eu não tenho tempo para escutá-la. Eles virão me buscar às seis horas da tarde de hoje. Amanhã de manhã eu certamente já não estarei mais aqui. Nem aqui nem em nenhum outro lugar deste mundo. Essa viagem rumo ao desconhecido, a um lugar onde ninguém neste mundo jamais esteve, me enche de orgulho. Durante toda a minha vida eu busquei algo que me enchesse de orgulho, que me fizesse sentir superior a toda e qualquer pessoa, superior até mesmo a reis, príncipes, chefes de estado.”
Ler A
Mulher com Olhos de Fogo foi meio indigesto graças ao sentimentos
primitivos que ele desperta. Vivenciar de forma intensa a dor, a revolta, a
impotência, a angústia e a vergonha de fazer parte da mesma espécie que seres
tão vis como os homens. Firdaus teve a vida como a sua grande
mestra e talvez por isso tenha encontrado em cada esquina a desilusão e o sofrimento
de uma caminhada de perdas, abandonos e faltas; elementos que fizeram com que
ela escolhesse a morte como a única forma de manter a própria liberdade.
Apesar de muitas passagens difíceis de digerir é muito interessante
acompanhar a construção da personagem. A todo momento ela nos ensina que mesmo
com tantas adversidades da vida, ainda assim é possível aprender algo para
seguirmos em nossa jornada.
Outro
grande destaque do livro são as lições que ele deixa. Esses ensinamentos podem
ser construído nas reflexões que muitos trechos memoráveis oferecem, como esse
abaixo:
“Apesar de tudo, eu não tinha a menor dúvida a respeito da minha integridade e da minha honra como mulher. Eu sabia que a minha profissão tinha sido inventada por homens, e que os homens controlavam os nossos dois mundos, este da terra e o outro no céu. Sabia que os homens forçavam as mulheres a venderem seus corpos por um preço , e que o valor mais baixo era o da esposa. Todas as mulheres são prostitutas de um tipo ou de outro. Eu era inteligente, e por isso preferi ser uma prostituta livre em vez de ser uma esposa escravizada. Eu cobrava sempre um alto preço para permitir que desfrutassem do meu corpo. Podia empregar quantos criados eu quisesse para lavar minhas roupas e limpar os meus sapatos, contratar os mais caros advogados para defender minha honra, pagar um médico para fazer um aborto, pagar um jornalista para publicar nos jornais a minha fotografia e um texto a meu respeito. Todos têm um preço, e existe um salário para cada profissão. Quanto mais respeitável a profissão, maior o salário; e o preço de uma pessoa sobe à medida que ela galga os degraus da escada social.”
A
Mulher com Olhos de Fogo é um livro sobre a coragem da
mulher frente as injustiças do mundo. É uma obra que mostra o protagonismo
feminino na construção de uma sociedade mais justa e que oportunize condições
igualitárias de trabalho e, principalmente, de escolha para que elas tomem as
próprias decisões.
“… a voz dela continua a ecoar nos meus ouvidos, vibrando dentro da minha cabeça, na cela, na prisão, nas ruas, no mundo inteiro. Transformando tudo, espalhando o medo por todos os lugares, o medo da verdade que mata, o poder da verdade, tão violento, simples e terrível quanto a morte, e mesmo assim tão simples e tão nobre quanto uma criança que ainda não aprendeu a mentir.”
A
história de Firdaus se passa em décadas passadas, mas continua
tão atual quanto as trajetórias de Vanderlene, Tamires, Beatriz,
Gleyde, Maiara e todas as mulheres que tem a coragem de buscar o
melhor para si e para o mundo em que vivem.
“Eu triunfei sobre a vida e sobre a morte porque não desejo mais viver, e já não tenho mais nenhum medo da morte. Eu não desejo nada. Eu não espero nada. Eu não temo nada. Portanto, estou livre. Porque durante a vida o que nos escraviza são nossos desejos, nossas esperanças, nossos medos. A liberdade da qual eu desfruto enche-os de ódio. Eles adorariam descobrir que existe, afinal de contas, alguma coisa que eu deseje, ou que eu tema, ou que eu espere. Assim eles saberiam como me escravizar mais uma vez.” – Firdaus
Sinopse:
Esta
ficção é baseada no relato verdadeiro de uma mulher que espera sua execução em
uma prisão no Egito. Sua história chega até a autora, que resolve conhecer
Firdaus para entender o que levou aquela prisioneira a um ponto tão crítico de
sua existência. “Deixe-me falar. Não me interrompa. Não tenho tempo para ouvir
você”, começa Firdaus. E ela prossegue contando sobre como foi crescer na
miséria, sua mutilação genital, ser violada por membros da família, casar ainda
adolescente com um homem muito mais velho, ser espancada frequentemente, e ter
de se prostituir… até que, num ato de rebeldia, reuniu coragem para matar um de
seus agressores, levando-a à prisão. Esse relato é um implacável desafio a
nossa sociedade. Fala de uma vida desprovida de escolhas, mas que em meio ao
desespero encontra caminhos. E, por mais sombrio que isso possa parecer, sua
narrativa nos convida a experimentar um pouco dessa liberdade encorajadora
através das transformações internas de Firdaus. O que acontece com ela é o
despertar feminista de uma mulher.
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