domingo, 29 de dezembro de 2019

Resenha | As Últimas Testemunhas – Svetlana Aleksiévitch


“Não quero lembrar. Mas as pessoas precisam contar suas desgraças. É difícil chorar sozinha.”
Segunda Guerra Mundial, que teve inicio a exatos 80 anos, talvez seja um dos acontecimentos mais trágicos na história da humanidade. Travada entre setembro de 1939 e setembro de 1945, ela tem sido discutida e eternizada em diversas oportunidades nas telas de cinema – geralmente sempre retratando os bravos e heroicos soldados que contribuíram para por fim ao confronto. Contudo, é importante que se lembre dos civis, e em especial das crianças, que indefesas, milhões terminaram sendo mortas e outras milhares, perderam tudo, sendo deixadas em orfanatos para que pudessem lutar a própria batalha para sobreviver a tristeza, a fome, o medo e a solidão.  

Svetlana Aleksiévitch
Graças a um intenso trabalho jornalístico, a persistência e a sensibilidade da escritora Svetlana Aleksiévitch, dona de um prêmio Nobel da literatura, somos apresentados à obra As Últimas Testemunhas. Na qual, temos a oportunidade de ler os relatos emocionados e tristes das crianças, que de uma hora para outra, presenciaram em primeira mão, os horrores e a crueldade da Guerra destruir tudo aquilo que lhes era mais caro: os pais, o lar e a inocência.  
“A guerra é meu livro de história. Minha solidão… Perdi a época da infância, ela fugiu da minha vida. Sou uma pessoa sem infância, em vez de infância tenho a guerra.”
A leitura da obra da Aleksiévitch não é fácil, a todo momento emoções como a perplexidade, a raiva, a tristeza, a impotência, a falta de fé aparecem ao longo das páginas. Os relatos são crus, verdadeiros e muitas vezes o leitor vai ficar se perguntando que tipo de “besta” é capaz de provocar em crianças perversidades tão inomináveis e gratuitas, a ponto de muitas delas, carregarem por muitos anos essas dores.
“… nunca consigo ficar feliz até o fim. Completamente feliz. Felicidade não é para mim. Tenho medo da felicidade. Sempre acho que logo mais ela vai acabar. Em mim sempre vive esse ‘logo mais’.”
Outro ponto a se lembrar é que o livro é constituído por um conjunto de memórias de inúmeros personagens, então em alguns momentos a escrita pode parecer “quebrada”, como se tivesse sido interrompida no meio da frase, o que pode provocar certo estranhamento nas pessoas que estão tendo acesso a esse tipo de literatura pela primeira vez.

Lançado no Brasil pela Companhia das Letras, o livro, As Últimas Testemunhas, da Svetlana Aleksiévitch, é um convite extremamente necessário aos horrores da Guerra, afinal devemos conhecer nosso passado, para que a gente não cometa os mesmos erros e assim possamos construir um presente/futuro melhor para todos.
“Não entendo o que são pessoas desconhecidas, porque eu e meu irmão crescemos entre pessoas desconhecidas. Pessoas desconhecidas nos salvaram. Mas como elas seriam desconhecidas para mim… Todas as pessoas estão ligadas. Vivo com esse sentimento, mesmo que muitas vezes me decepcione. A vida em tempo de paz é diferente…”
Sinopse:


Neste livro doloroso e potente, a Nobel de literatura Svetlana Aleksiévitch reuniu os relatos francos de vários sobreviventes da Segunda Guerra que, quando crianças, testemunharam horrores que nenhum ser humano jamais deveria experimentar. A Segunda Guerra Mundial matou quase 13 milhões de crianças e, em 1945, apenas na Bielorrússia, havia cerca de 27 mil delas em orfanatos, resultado da devastação tremenda causada pelo conflito no país. Entre 1978 e 2004, a jornalista Svetlana Aleksiévitch entrevistou uma centena desses sobreviventes e, a partir de seus testemunhos, criou uma narrativa estupenda e brutal de uma das maiores tragédias da história. A leitura dessas memórias não é nada além de devastadora. Diante da experiência dessas crianças se revela uma dimensão pavorosa do que é viver num tempo de terror constante, cercado de morte, fome, desamparo, frio e todo tipo de sofrimento. E o que resta da infância em uma realidade em que nada é poupado aos pequenos? Neste retrato pessoal e inédito sobre essas jovens testemunhas, a autora realizou uma obra-prima literária a partir das próprias vozes de seus protagonistas, que emprestaram suas palavras para construir uma história oral da Segunda Guerra.


Nenhum comentário:

Postar um comentário