domingo, 20 de junho de 2021

Resenha | Mundo Desolado (Eduardo Krauze)

A literatura brasileira por muito tempo se destacou pelos seus livros clássicos e de forma nostálgica, muito se fala em autores como Machado de Assis, Lima Barreto, Jorge Amado, entre outros. Até pouco tempo atrás, alguns gêneros, a exemplo da fantasia,  quando trazidos por escritores nacionais, ainda eram vistos com desconfiança e certo preconceito. Contudo, esse cenário vem sendo desconstruído aos poucos, e desde o surgimento de autores como Raphael Dracoon, uma legião de novos leitores vem consumindo e apreciando esses outros estilos literários que muitos autores nacionais talentosíssimos vem nos oferecendo.  

Seguindo nessa linha de novos escritores nacionais, Eduardo Krauze resolveu se arriscar para além do lugar comum e criar um mundo - ou mundos - totalmente novos, numa fantasia que promete muito e nos deixa ansiosos pela continuação, em Mundo Desolado, primeiro volume da trilogia A Crônica do Andarilho dos Sonhos, lançado pela Editora Pendragon.

Na trama conhecemos o jovem Kalian, que sempre viveu uma vida simples em sua aldeia e sem muito contato com o mundo exterior, mas sonha em ir para o Continente. Entretanto, durante uma busca por ovelhas perdidas, Kalian encontra uma mulher misteriosa e após presenciar algo que ele acreditava ser impossível, toma uma decisão que mudará para sempre a própria vida e a de todos a sua volta.

"O egoísmo podia, sim, ser a resposta em muitas das ocasiões, porém, se aceitasse que nunca poderia fazer nada por ninguém além de si mesmo, para ele isso seria o mesmo que dizer que não havia esperança."

A leitura de Mundo Desolado é bastante fluída, graças a escrita objetiva e sem muitos rodeios do Krauze. Os grandes destaques da obra ficam por conta da construção do cenário e do desenvolvimento dos personagens principais.

O mundo distópico apresentado revela toda sua grandiosidade e nos faz sentir as mesmas dificuldades e pavor que os protagonistas, graças a riqueza de detalhes que o autor nos oferece - tanto das características do local, quanto dos seres que lá habitam. Sobre os personagens vale a divisão em três grupos: os secundários, os figurantes e os principais. Os figurantes foram usados de forma muito didática, quando apareceram foi para ilustrar alguma explicação sobre o mundo ou o que aconteceu antigamente; os secundários, contribuem de formas diversas na jornada de Kalian, imprimindo nele ensinamentos e motivações para seguir em frente - importante lembrar do velho Basumir, do impotente Bakar e sua sacerdotisa... são personagens que passam a impressão de que ainda os veremos em algum outro momento; e por fim, nosso quarteto principal - Kalian, Inara, Corvo e Amon. Kalian e Inara foram bem construídos. É palpável o crescimento tanto de Kalian, quanto de Inara, na medida que os dois vão interagindo e descobrindo novos motivos para seguir em frente.

"Nunca esqueça de como é ser fraco, e da sensação de ser incapaz de proteger aqueles que ama. Se puder fazer isso, independentemente do quão poderoso se torne um dia, tenho certeza que nunca se arrependerá do caminho que escolheu."

Corvo e Amon, já não tiveram a mesma atenção, na sua construção. Corvo foi inserido já como um maníaco de sangue frio e Amon, como alguém que guarda muitos segredos sobre si mesmo - como esse é o primeiro volume de uma trilogia, senti que há uma intencionalidade do autor em ter guardado uma melhor exploração desses personagens para outros momentos da história.

Ao fim da leitura, a ressalva que faço é em relação as cenas de ação. Acredito que alguns acontecimentos foram importantes demais para a história e merecia uma atenção maior em seus detalhes, até para uma inserção mais profunda dos leitores nesse momento, o que ajudaria na aproximação dos personagens e criaria uma empatia ainda maior. Isso me incomodou um pouco, mas nada que diminua a qualidade da história.

Mundo Desolado, a primeira parte da Crônica do Andarilho dos Sonhos, é uma estreia promissora do Eduardo Krauze. Com sua escrita mágica, ele nos transporta para um universo cercado de perigos e perdas e nos convida para seguir nessa jornada de Kalian, rumo a um lugar entre os maiores da fantasia nacional, que em nada deve aos escritores estrangeiros.

Citações | Mundo Desolado (E. Krauze)

 


  • "Nunca esqueça de como é ser fraco, e da sensação de ser incapaz de proteger aqueles que ama. Se puder fazer isso, independentemente do quão poderoso se torne um dia, tenho certeza que nunca se arrependerá do caminho que escolheu." - 182
  • "O egoísmo podia, sim, ser a resposta em muitas das ocasiões, porém, se aceitasse que nunca poderia fazer nada por ninguém além de si mesmo, para ele isso seria o mesmo que dizer que não havia esperança." - 227

domingo, 6 de junho de 2021

Lidos | Maio 2021

Fala, galera! Hoje estou aqui para conversar com vocês sobre minhas leituras de Maio. O mês em que eu ainda estive muito aquém nas leituras, mas que os livros escolhidos terminaram me proporcionando boas reflexões, além de muitas emoções.

Confiram abaixo mais detalhes sobre o livros:

Os Prós e os Contras de Nunca Esquecer (Val Emmich, Intrínseca)

- Sinopse:

Gavin é um ator relativamente famoso que acabou de perder o namorado e agora está chorando ao vivo em um programa sensacionalista de auditório. Ele está lá para acompanhar Joan, uma garota com uma síndrome rara que a faz lembrar de absolutamente tudo o que viveu. Depois de encontrar a menina, que fugiu sozinha para participar de um programa de TV, e de se constranger durante a gravação, o ator se torna o retrato da angústia pós-adolescente: "Em tese, sou o adulto aqui, mas não sei direito como lidar com essa situação" - uma sensação que pode ser aplicada a qualquer momento da vida adulta. Apesar de ser a única personagem criança deste livro, Joan parece ser de longe a pessoa que mais sabe o que está fazendo.

Foi depois de um vídeo em que aparece queimando todas as lembranças do namorado morto viralizar que Gavin fugiu dos holofotes de Los Angeles em busca de paz na casa de amigos em Nova Jersey. Os amigos são os pais de Joan, que aos poucos se mostra uma excelente aliada na busca de respostas para os mistérios da vida. Apesar de só agora ter conhecido Gavin, a garota conviveu com o namorado dele, Sydney. Nasce assim uma parceria inusitada: Joan aplaca a saudade de Gavin com todas as lembranças que ela tem de Sydney, e ele a ajuda a contornar a ansiedade de saber que será esquecida.

Entre as lembranças de Gavin, frágeis e apaixonados, e a supermemória de Joan, tão exata e definitiva, Val Emmich altera com perspicácia os pontos de vista do ator e da menina, sobrepondo reminiscências de amor e de musica - esta, uma personagem quase palpável na trama, que percorre conflitos e se ancora com firmeza na figura de John Lennon -, até que o leitor, sem nem perceber, já é ele próprio parte dessa narrativa.

- Motivos para ler:

A obra nos oferece uma história sensível protagonizada por uma pessoa enlutada e outra que teme ser esquecida. Nessa dicotomia de visões entre o esquecer e o lembrar, somos lançamos a muitas reflexões que fazem com que nos questione qual a marca queremos deixar no mundo, ao longo de nossa vida.

O livro traz ainda muita musicalidade e é um prazer a mais, ir acompanhando a trajetória de Joan, ouvindo as músicas citadas ao longo das páginas.

- Curiosidade:

A obra fez parte do catalogo do Clube de Livros da Editora Intrínseca, compondo a Caixa #02.

 

Katarzze - Os Bastidores do Sucesso (Margarete Brito, Independente)

- Sinopse:

Testando 1, 2, 3...

Tudo que acontece até esses minutos antes de começar um show, era complemente estranho para Rômulo.

Um futuro engenheiro de família rica se vê envolvido num mundo totalmente diferente do que ele imaginava para sua vida.

Após o primeiro passo, o sentimento de êxtase é inebriante, e mais uma banda de pop rock começa a surgir no competitivo mercado musical.

Seria apenas mais um grupo de cinco amigos na busca do sucesso? Terão êxito nessa empreitada? A que custo?

Do primeiro amor as descobertas de um novo mundo, o que vai resistir diante de tantos jogos de interesse, dinheiro e glamour. Uma profusão de dúvidas e sentimentos controversos, levam nossos personagens Rômulo, Roberta e Elisa a se envolverem numa complexa miríade de acontecimentos.

E uma coisa é certa, nenhum deles sairá ileso das consequências dos seus atos.

Prepare-se que o show vai começar!

- Motivos para ler:

A escrita da Margarete é um show a parte. Tecendo sua história com muita emoção, o leitor já se vê amarrado desde as primeiras páginas.

A história apresenta como a aleatoriedade da vida, atrelada a nossas escolhas, nos leva a caminhos sequer imaginados, mas que precisamos conhecer para nos prepararmos para nosso futuro.

As páginas do livro transborda musicalidade e se passa em cenários muito aconchegante, o que torna a leitura ainda mais agradável.

Indicado para maiores de 16 anos, por conta de conteúdo erótico.

- Curiosidade:

O livro traz uma composição de uma música, de autoria da própria autora - que na verdade, foi escrita como uma poesia.