domingo, 29 de dezembro de 2019

Citações | Do Que Estamos Falando Quando Falamos de Estupro - Sohaila Abdulali


"O que acontece quando você guarda um segredo tão grande? O que acontece com você, e o que seu silêncio representa para as pessoas à sua volta e a sua comunidade?" - 31
"Por que calamos? A resposta fácil é 'por vergonha', e com frequência  a razão é essa mesmo. Acabamos achando que a falha foi nossa, por estamos disponíveis ou vulneráveis, ou pela ingenuidade de não ter percebido a tempo. Em todo o mundo, nos culpamos, incapazes de considerar que foi outro ser humano que cometeu o crime. É mais fácil sentir-se envergonhada do que aceitar que alguém violou nossa intimidade da maneira mais perversa, e que não fomos capazes de fazer nada." - 32
"Contar é difícil porque, embora você possa controlar a quem conta... você não consegue controlar a reação da pessoa. Tem que aceitar o que vier. Portanto, quando você passa a ser violada de modo tão abrangente, é claro que faz sentido manter sua dor trancada onde ninguém pode torná-la pior." - 35
"A mudança começa em casa, na vida e nas atitudes do dia a dia. A lei, mesmo quando um estuprador é considerado culpado, em pode no máximo fazer apenas isso, decretá-lo culpado, em apoio aos sobreviventes. A lei não segura sua mão quando você morre de medo de sair à noite de novo. Uma mudança na lei não causa necessariamente uma mudança de atitude se você tem um sentimento muito intenso em relação a algo... Os sistemas de justiça são construções imperfeitas, mas fazem diferença. As leis podem afetar, e afetam, a maneira como agimos." - 103
"Em toda comunidade, grande ou pequena, a pessoa responsável dá o tom. Cultura familiar, cultura escolar, cultura nacional: voltamos o olhar para os nossos líderes, para descobrir como devemos pensar e o que devemos priorizar." - 145
"Todo o sistema cria uma dicotomia entre as mulheres puras e as que são para foder." - 152
"Cultura do estupro. A totalidade de todas as coisas grandes e pequenas que fazemos, dizemos e acreditamos e que em última instância leva à conclusão de que não há problema em estuprar. Talvez não sejam todas as pequenas coisas: servir seu filho primeiro ... não significa que você endossa o estupro; fazer piada de mulher dirigindo mal não significa que você endossa o estupro ... Mas cada uma dessas coisas tira uma lasca do respeito próprio de mulheres e meninas, e faz os meninos se sentirem um pouco mais autorizados, um pouco mais importantes, como se tivessem passe livre para circular pelo mundo e pegar o que quiserem sem pensar duas vezes." - 159
"Um limite é similar a uma fronteira, um lugar onde você termina e a outra pessoa começa. Quando os limites são invadidos, significa que uma pessoa entrou no território que pertence à outra. Pode ser um limite emocional, um limite físico ou um limite sexual. Mas também existem limites em outras áreas. Dizer a uma pessoa como é que ela deve pensar viola seus limites psíquicos. Dizer a outra pessoa como ela deve gastar seu dinheiro viola seus limites financeiros. Abusos costumam ser identificados pelos limites que foram violados. O abuso sexual viola quase todos os limites concebíveis de um ser humano. Ultrapassa as linhas físicas, sexuais, emocionais, psíquicos e espirituais. Essa violação deixa a vítima num estado de ausência de limites. Com isso, a capacidade de estabelecer limites e mantê-los fica comprometida. Como adulto, a vítima de abuso sexual pode ter dificuldade de lidar com limites em todos os seus relacionamentos." - 182 e 183
"Como iremos compreender o que produz a violência nas sociedades se nos recusarmos a reconhecer a humanidade daqueles que a cometem? E será que conseguiremos empoderar os sobreviventes se fizermos os outros se sentirem 'inferiores'? Como podemos discutir soluções a uma das maiores ameaças à vida das mulheres e crianças ao redor do mundo, se as próprias palavras que usamos fazem parte do problema?" - 203
"Gostaria de dizer que tenho fé na natureza humana. A natureza humana é feita de bondade e generosidade, compaixão e respeito. Mas a natureza humana também é vil e cruel, egoísta e arrogante. Estive intimamente envolvida com todos os aspectos da natureza humana, e não tenho uma resposta sobre o que realmente somos. O que sei, de fato, é que fazemos escolhas sobre como tratar uns aos outros, e com excessiva frequência a escolha é violar, destruir em vez de construir.O estupro vem de algum instinto primitivo, ou é consequência inevitável da maneira como aprendemos a nos relacionar? Será que algum dia vamos conseguir compreender isso, juntos? Não importa qual seja a resposta, com certeza não vamos encontrá-la se não conversarmos uns com os outros. Num mundo tão cheio de ruído, é fácil ignorar o silêncio em torno do estupro. É mais fácil falar em estatísticas e convicções moralistas, em vez de tentar encarar questões de impunidade e de memórias imprevisíveis e justificativas sem sentido; de vergonha e culpa e do enfado de um trauma que continua, continua e continua. Dos bizarros paradoxos que não se consegue categorizar facilmente. Espero que todas as vozes desse livro... ajudem a acabar com parte desse silêncio, lançando um pouco de luz na escuridão." - 243

Resenha | A Guerra Que Salvou Minha Vida – Kimberly Brubaker Bradley


Ao longo de sua história a humanidade sempre presenciou guerras de extrema violência. Entre as inúmeras batalhas travadas em trincheiras longínquas por exércitos que muitas vezes não sabem pelo que lutam, há aqueles conflitos diários que nem sempre recebem a atenção devida, mas faz milhões de vítimas.
Existe guerra de tudo quanto é tipo.
Em A Guerra Que Salvou A Minha Vida, a escritora Kimberly Brubaker Bradley, nos presenteia com a história da pequena Ada, uma criança que desde os primeiros anos de vida sofre com o preconceito e a falta de amor materno.

Kimberly Brubaker Bradley
Para Ada Smith, o mundo se resume ao minúsculo apartamento em que sempre viveu e a janela em que ela tenta interagir com seus vizinhos. Nascida com o pé torto, logo cedo sua Mãe a rejeitou e com a vergonha de ter uma filha com essa condição, passou a infernizar a vida da menina – a tornando cárcere no pequeno cômodo em que mora.

No entanto nem tudo é escuridão para Ada. Seu irmãozinho, Jaime, é sua luz. A menina faz de um tudo para protege-lo das garras da Mãe e se enche de pesar por vê-lo crescer e começa a temer em ser abandonada. Enquanto isso, Jaime já se sente um homenzinho e em suas aventuras pelo bairro, ouve falar que as bombas de Hitler cairão em Londres e as crianças serão enviadas para o interior. É quando nossa jovem protagonista, cansada de tanto sofrimento e temendo ser separada do irmão, resolve fazer o que parecia impossível e embarcar numa grande aventura.

Bradley usa de muita simplicidade e delicadeza para tratar temas como o preconceito, o luto, a família, depressão, abandono, imigração. Dando a devida importância para o desenvolvimento dos personagens, aos poucos vamos descobrindo a guerra que cada um trava dentro de si e como o amor é capaz de trazer a paz e vencer os maiores medos.

O livro além de trazer de forma breve alguns momentos históricos, como o resgate dos soldados britânicos de Dunquerque e a evacuação da população inglesa durante a Segunda Guerra; também traz muitas passagens dolorosas, que nos faz questionar se o mundo voltará a ser bom novamente. Ao longo da leitura nos apegamos ao desejo de criar um lugar seguro para a Ada, o Jaime e a Susan e abraça-los bem apertado.

Assim como a história dos Smith, podemos dizer que a vida é como uma costura. Vamos encontrando pelo caminho pequenos pedaços de tecido, que juntos formam uma bonita peça que nos aquece e nos torna “belos” para o mundo.

A Guerra Que Salvou a Minha Vida é um livro fantástico, com o selo da Darkside, possui uma ternura poucas vezes vista na literatura, e que vai emocionar até os mais duros dos corações. E não podemos deixar de registrar a lindeza que é a capa.

Sinopse:


Ada tem dez anos (ao menos é o que ela acha). A menina nunca saiu de casa, para não envergonhar a mãe na frente dos outros. Da janela, vê o irmão brincar, correr, pular – coisas que qualquer criança sabe fazer. Qualquer criança que não tenha nascido com um “pé torto” como o seu. Trancada num apartamento, Ada cuida da casa e do irmão sozinha, além de ter que escapar dos maus-tratos diários que sofre da mãe. Ainda bem que há uma guerra se aproximando.

Os possíveis bombardeios de Hitler são a oportunidade perfeita para Ada e o caçula Jamie deixarem Londres e partirem para o interior, em busca de uma vida melhor.

Kimberly Brubaker Bradley consegue ir muito além do que se convencionou chamar “história de superação”. Seu livro é um registro emocional e historicamente preciso sobre a Segunda Guerra Mundial. E de como os grandes conflitos armados afetam a vida de milhões de inocentes, mesmo longe dos campos de batalha. No caso da pequena Ada, a guerra começou dentro de casa.

Essa é uma das belas surpresas do livro: mostrar a guerra pelos olhos de uma menina, e não pelo ponto de vista de um soldado, que enfrenta a fome e a necessidade de abandonar seu lar. Assim como a protagonista, milhares de crianças precisaram deixar a família em Londres na esperança de escapar dos horrores dos bombardeios.

Vencedor do Newbery Honor Award, primeiro lugar na lista do New York Times e adotado em diversas escolas nos Estados Unidos.

Resenha | Querido Evan Hansen – Val Emmich e outros


Querido Evan Hansen,

Em abril, a Companhia das Letras, através do selo editoral Seguinte, lançou a sua história nas livrarias aqui do Brasil. Escrito pelo Val Emmich em parceria com Steven Levenson, Benj Pasek e Justin Paul; eles transformaram em livro um acontecimento de sua vida, que foi tão celebrado e aclamado nos palcos da Broadway.

Val Emmich, Steven Levenson, Benj Pasek e Justin Paul
Hoje terminei a leitura dessa parte de sua vida. Que baita confusão você se meteu, hein.

Primeiro descobri que você era muito ansioso e tinha sérios problemas para interagir com as pessoas. Não se preocupe, eu entendo perfeitamente o que é isso. As vezes, fico abismado em como os jovens não conseguem se conectar de verdade com ninguém e os “amigos” que achamos que temos, termina passando para o próximo projeto e se esquecendo totalmente as promessas que nos fez. Ah, achei interessante a proposta das cartas que o Dr. Sherman receitou na tentativa de te auxiliar com essa questão dos relacionamentos, acho que você deveria se esforçar mais, elas vão te ajudar a se expressar e a colocar as ideias em ordem – mas, tente ser mais cuidadoso com elas, ok?
… sei bem como dá para alguém ficar mal. Também entendo que, quando não estamos com a cabeça no lugar, qualquer besteira pode se transformar em algo insuportável e, de repente, você pega um caminho sombrio e não consegue achar mais o caminho de volta.
Depois teve a morte do Connor e como ela fez as coisas mudarem tão depressa. É engraçado notar como as pessoas lidam com a tragédia. A família dele, na beira do abismo, tentou se agarrar ao que podia para criar uma memória do filho onde ele ainda pudesse estar “vivo”… E os “amigos” da escola, de repente, se mostraram sentidos e solidários com a perda do colega, criando assim uma simpatia só para ganharem likes nas redes sociais. Fiquei me perguntando, por que a gente dá tão pouco valor à vida? Por que os jovens tem se privado cada vez mais de ter um relacionamento de verdade, olho no olho? Por que a gente exclui o outro, sem ao menos darmos a chance de conhecê-lo de verdade? Por que precisamos da morte para darmos valor a vida? E que poder é esse que demos as redes sociais, uma ferramenta capaz de nos conectar com o outro lado do mundo e ainda assim nos aprisionarmos em nossa própria solidão?
Às vezes você deseja muito que algo aconteça, e então, depois de tanto tempo sem conseguir aquilo que desejou, você para de desejar, e é então que acontece, do nada.
Ah, querido Evan, sinto muito por tudo que aconteceu com você. De repente, você entrou numa confusão tão grande com esse mal entendido de ser o melhor amigo do Connor, que eu entendi perfeitamente sua decisão de continuar alimentando a mentira – apesar que mais cedo ou mais tarde, a verdade iria aparecer. É heroico quando a gente coloca a necessidade do outro como prioridade e termina fazendo de tudo para ajudá-los, mesmo que no fim o preço que a gente tenha que pagar possa parecer grande demais. Acho que deveria te parabenizar pela maneira que você lidou com tudo, mesmo tendo que sacrificar quem mais amava, ainda assim você resolveu fazer a coisa certa. Isso é a vida! As vezes a gente está por cima, outras temos que lidar com as quedas, mas são as escolhas que fazemos em cada situação que nos faz amadurecer e seguir em frente.
O fruto nunca cai longe da árvore. Acho que quer dizer que somos apenas produtos de quem nos fez e não temos muito controle sobre isso. A questão é que quando as pessoas  usam essa frase, ignoram a parte mais fundamental: a queda. Segundo a lógica desse ditado, o fruto cai toda vez. Não cair não é uma opção. Então, se o fruto precisa cair, a questão mais importante para mim é o que acontece quando ele atinge o chão? Ele cai sem nenhum arranhão? Ou é esmagado pelo impacto? Dois destinos completamente diferentes. Quando se pensa sobre isso, quem se importa com a proximidade da árvore ou o tipo de árvore que o gerou? O que realmente faz a diferença é como pousamos?
Bom, Evan, acho que no fim de tudo sua história era sobre família. A maneira como você tratava sua mãe no início do livro foi meio injusta e compreendi que isso vinha da raiva que você sentia por seu pai ter escolhido viver em uma nova casa. Os adultos são meio complicados, eles nunca estão satisfeitos com o que tem e terminam cometendo uma série de erros que traz consequências muito difíceis para os que estão em sua volta. Por isso o que posso te dizer é tente perdoá-lo, viver com sentimentos tão pesados em relação a isso só vai te fazer se fechar para a vida e para as oportunidades que estão a sua frente. Sua mãe é uma guerreira, ela deixou toda a dor própria para te ajudar a lidar com suas dificuldades – valorize mais isso, nunca saberemos o suficiente sobre os sacrifícios que nossas mães fazem por nós.

No fim só posso agradecer ao Emmich e seus parceiros por nos apresentar sua história Evan, ela é tão atual e necessária – que todos deveriam ler e conversar sobre os temas propostos. Nela pudemos acompanhar como você lidou com a questão da ansiedade, da depressão, do suicídio, das nossas escolhas frente a tragédia, do luto, de como nos comportamos nas redes sociais e sobre as relações familiares. E acima de tudo, deixou a mensagem de amor e esperança ao nos lembrar que cada um é importante e nunca estaremos realmente sozinhos.
Há tantos como nós, almas solitárias. Todos nós, que construímos este lugar. Aqueles que vão ver o pomar crescer. Aqueles que perdemos. Seguimos em frente, juntos. Subindo, caindo, alçando vôo. Tentando nos aproximar do centro de tudo. Mais perto de nós mesmos. Mais perto um do outro. Mais perto de algo real.
Com admiração e afeto,

Vanderson Silva

Curiosidades:

  • Querido Evan Hansen é uma adaptação do musical da BroadwayDear Evan Hansen.
  • Querido Evan Hansen teve seus direitos de adaptação comprado pela Universal Pictures e em breve poderemos ver essa história nos cinemas.
Sinopse:


Dos criadores do premiado musical da Broadway Dear Evan Hansen, esta é uma história emocionante sobre solidão, luto, saúde mental e amizades inesperadas. Evan Hansen sempre teve muita dificuldade de fazer amigos. Para mudar isso, decide seguir as recomendações de seu psicólogo e escrever cartas encorajadoras para si mesmo, com esperança de que seu último ano na escola seja um pouco melhor. O que não esperava era que uma das cartas fosse parar nas mãos de Connor Murphy, o aluno mais encrenqueiro da turma. Quando Connor comete suicídio e sua família encontra a carta de Evan, todos começam a pensar que os dois eram melhores amigos. Sem conseguir explicar a situação, Evan acaba refém de uma grande mentira. Ao mesmo tempo, graças a essa (falsa) amizade, o garoto finalmente se aproxima de Zoe, a menina de seus sonhos, e passa a ser notado no colégio. No fundo, Evan sabe que não está fazendo a coisa certa, mas se está ajudando a família de Connor a superar a perda, que mal pode ter? Evan agora tem um propósito de vida. Até que a verdade ameaça vir à tona, e ele precisa enfrentar seu maior inimigo: ele mesmo.

Resenha | A Mulher Com Olhos de Fogo (Nawal El Saadawi)


Os homens em toda sua arrogância sempre acreditaram que o melhor para o mundo era a sua visão e sua forma de governar. Assim, coube às mulheres escolherem os caminhos que fossem melhor, ou dizendo de outra forma, menos pior para elas; e ainda tentar sobreviver com as situações que lhes forem impostas.

Diante desse cenário predominantemente patriarcal e inúmeras vezes machista – para dizer o mínimo; temos ainda, dogmas religiosos, como o Islamismo, que faz com que muitas mulheres tenham que (sobre)viver em situações humilhantes em diversos países, a exemplo os do Oriente Médio. Contudo, mais frequente do que os donos do poder dessas regiões gostariam, muitas mulheres erguem a voz e rompem com o sistema posto, para clamar por liberdade. É sobre a história de uma dessas mulheres que o livro A Mulher com Olhos de Fogo aborda.

Nawal El Saadawi
Escrito por Nawal El Saadawi e lançado no Brasil pela Faro Editorial, a obra fictícia é baseada em um relato real. A trama começa a tomar forma quando El Saadawi resolve fazer uma pesquisa sobre neurose em mulheres e ao visitar a prisão encontra Firdaus, uma mulher corajosa e que não confia em ninguém.
“Uma pessoa que foi privada da capacidade de confiar vive à margem da sociedade; ela é só a sombra de um ser humano. Tal pessoa vive por instinto, e suas avaliações e considerações não vão além da necessidade de sobrevivência.”
No início Firdaus se recusa a receber visitas, mas quando a hora de sua morte se aproxima, ela resolve contar a sua história. História essa que abalará as estruturas sociais; fará com que muitas mulheres repense sua vida e reflita sobre a própria liberdade; e, principalmente, colocará uma semente no coração de todas àquelas que lutam por mudanças – é o despertar feminista.
“Deixe-me falar. Não me interrompa. Eu não tenho tempo para escutá-la. Eles virão me buscar às seis horas da tarde de hoje. Amanhã de manhã eu certamente já não estarei mais aqui. Nem aqui nem em nenhum outro lugar deste mundo. Essa viagem rumo ao desconhecido, a um lugar onde ninguém neste mundo jamais esteve, me enche de orgulho. Durante toda a minha vida eu busquei algo que me enchesse de orgulho, que me fizesse sentir superior a toda e qualquer pessoa, superior até mesmo a reis, príncipes, chefes de estado.”
Ler A Mulher com Olhos de Fogo foi meio indigesto graças ao sentimentos primitivos que ele desperta. Vivenciar de forma intensa a dor, a revolta, a impotência, a angústia e a vergonha de fazer parte da mesma espécie que seres tão vis como os homens. Firdaus teve a vida como a sua grande mestra e talvez por isso tenha encontrado em cada esquina a desilusão e o sofrimento de uma caminhada de perdas, abandonos e faltas; elementos que fizeram com que ela escolhesse a morte como a única forma de manter a própria liberdade.  Apesar de muitas passagens difíceis de digerir é muito interessante acompanhar a construção da personagem. A todo momento ela nos ensina que mesmo com tantas adversidades da vida, ainda assim é possível aprender algo para seguirmos em nossa jornada.

Outro grande destaque do livro são as lições que ele deixa. Esses ensinamentos podem ser construído nas reflexões que muitos trechos memoráveis oferecem, como esse abaixo:
“Apesar de tudo, eu não tinha a menor dúvida a respeito da minha integridade e da minha honra como mulher. Eu sabia que a minha profissão tinha sido inventada por homens, e que os homens controlavam os nossos dois mundos, este da terra e o outro no céu. Sabia que os homens forçavam as mulheres a venderem seus corpos por um preço , e que o valor mais baixo era o da esposa. Todas as mulheres são prostitutas de um tipo ou de outro. Eu era inteligente, e por isso preferi ser uma prostituta livre em vez de ser uma esposa escravizada. Eu cobrava sempre um alto preço para permitir que desfrutassem do meu corpo. Podia empregar quantos criados eu quisesse para lavar minhas roupas e limpar os meus sapatos, contratar os mais caros advogados para defender minha honra, pagar um médico para fazer um aborto, pagar um jornalista para publicar nos jornais a minha fotografia e um texto a meu respeito. Todos têm um preço, e existe um salário para cada profissão. Quanto mais respeitável a profissão, maior o salário; e o preço de uma pessoa sobe à medida que ela galga os degraus da escada social.”
A Mulher com Olhos de Fogo é um livro sobre a coragem da mulher frente as injustiças do mundo. É uma obra que mostra o protagonismo feminino na construção de uma sociedade mais justa e que oportunize condições igualitárias de trabalho e, principalmente, de escolha para que elas tomem as próprias decisões.
“… a voz dela continua a ecoar nos meus ouvidos, vibrando dentro da minha cabeça, na cela, na prisão, nas ruas, no mundo inteiro. Transformando tudo, espalhando o medo por todos os lugares, o medo da verdade que mata, o poder da verdade, tão violento, simples e terrível quanto a morte, e mesmo assim tão simples e tão nobre quanto uma criança que ainda não aprendeu a mentir.”
A história de Firdaus se passa em décadas passadas, mas continua tão atual quanto as trajetórias de Vanderlene, Tamires, Beatriz, Gleyde, Maiara e todas as mulheres que tem a coragem de buscar o melhor para si e para o mundo em que vivem.
“Eu triunfei sobre a vida e sobre a morte porque não desejo mais viver, e já não tenho mais nenhum medo da morte. Eu não desejo nada. Eu não espero nada. Eu não temo nada. Portanto, estou livre. Porque durante a vida o que nos escraviza são nossos desejos, nossas esperanças, nossos medos. A liberdade da qual eu desfruto enche-os de ódio. Eles adorariam descobrir que existe, afinal de contas, alguma coisa que eu deseje, ou que eu tema, ou que eu espere. Assim eles saberiam como me escravizar mais uma vez.” – Firdaus
Sinopse:


Esta ficção é baseada no relato verdadeiro de uma mulher que espera sua execução em uma prisão no Egito. Sua história chega até a autora, que resolve conhecer Firdaus para entender o que levou aquela prisioneira a um ponto tão crítico de sua existência. “Deixe-me falar. Não me interrompa. Não tenho tempo para ouvir você”, começa Firdaus. E ela prossegue contando sobre como foi crescer na miséria, sua mutilação genital, ser violada por membros da família, casar ainda adolescente com um homem muito mais velho, ser espancada frequentemente, e ter de se prostituir… até que, num ato de rebeldia, reuniu coragem para matar um de seus agressores, levando-a à prisão. Esse relato é um implacável desafio a nossa sociedade. Fala de uma vida desprovida de escolhas, mas que em meio ao desespero encontra caminhos. E, por mais sombrio que isso possa parecer, sua narrativa nos convida a experimentar um pouco dessa liberdade encorajadora através das transformações internas de Firdaus. O que acontece com ela é o despertar feminista de uma mulher.


Resenha | Daqui Pra Baixo – Jason Reynolds


Hoje em dia, as editoras tem procurado propor aos leitores uma experiência de maior imersão de interação com os livros. Para isso, elas criaram os clubes de assinatura – nos quais, os assinantes são surpreendidos com um livro e brindes temáticos ligados a história.

Intrínseco, clube que faço parte, é organizado pela editora Intrínseca. Na edição de número 009, o livro escolhido foi Daqui pra Baixo, do Jason Reynolds. Na caixa ainda veio como brindes uma revista sobre a obra, marcador exclusivo, cartão postal e uma série de palavras magnéticas para que cada um crie sua própria história.

Jason Reynolds
Sem mais demora, vamos ao livro!! Na trama acompanhamos o jovem Will, que acabou de ter o irmão assassinato, e por isso resolve colocar em prática a terceira das regras que aprendeu na rua – se vingar; as outras duas são: não chorar e nunca dedurar ninguém. Nesse processo, durante a fração de um minuto que levará da descida do elevador até o acerto de contas com o assassino, Will terá encontros surpreendentes que farão com que ele faça descobertas sobre a vida e coloque em cheque tudo aquilo que ele acreditava ser imutável, inclusive os próprios planos.
Sirenes pra todo lado, cada uivo cortando o barulho da cidade. Mas não os gritos. Os gritos sempre são mais altos que o resto. Até que as sirenes.
Daqui pra Baixo foi uma grande surpresa. Primeiro pela forma em que ele foi escrito; ao optar por uma estrutura de versos, Reynolds nos entrega uma obra dinâmica e que em muitas vezes você lê/canta nas batidas de uma música de rap. Outro grande destaque da obra são os personagens. A forma que o autor escolheu para incluí-los na história foi muito inteligente e o momento oportuno onde cada um embarca no elevador, vai mexendo com os sentimentos do leitor, o que enriquece a leitura e faz com que a gente seja transportado para dentro da cabine e se veja participando in loco de todo o dialogo. Como se não bastasse tudo isso, a grande cereja do bolo fica para o final. Eu gosto de livros que me fazem refletir e graças a um encerramento interpretativo, Jason Reynolds, vai nos fazer falar de sua obra por muito tempo.

Daqui pra Baixo é um livro corajoso. Corajoso por se propor a falar de uma realidade que é próxima a grande maioria das periferias das grandes cidades. Corajoso também, por trazer a decisão que milhões de jovens mundo a fora precisam tomar diariamente, através de uma linguagem crua e direta. Mas, principalmente, corajoso e audacioso por propor o rompimento de um modelo/ciclo que está posto. É como se Reynolds dissesse “olhe para tudo o que você já perdeu, vai querer continuar nesse ciclo de derrotas? Ou está na hora de seguir regras novas e vencer?

O livro de Jason Reynolds é leitura obrigatória para todos, em especial para àqueles que lidam diretamente com a educação de jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social.

Sinopse:


Aos quinze anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está no dia a dia do bairro, nos avisos para não voltar muito tarde, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Sussurros que agora falam da família dele, de seu irmão mais velho, seu herói. “Daqui pra baixo” é a história de uma vingança contada pelo olhar do garoto cujo irmão foi baleado na rua onde ele mora. Um romance escrito em verso, que se passa em pouco mais de um minuto: o tempo que o elevador do prédio leva pra descer até o térreo, onde Will vai encontrar o assassino do irmão, vai apontar pela primeira vez uma arma na cara de alguém e vai atirar. São só 67 segundos, mas nas circunstâncias de Will isso é muito tempo. Ele rememora as regras do bairro, sob as quais foi criado. A número 1 é não chorar. A número 2, nunca dedurar ninguém. A terceira e mais importante, se fazem algo com você, você tem que se vingar. Quem as ensinou a Will foi Shawn, seu irmão, e agora ele foi morto. As regras são o que restou.

A cada andar, a cada parada do elevador, a porta que se abre e se fecha rebela um rosto diferente, todos do passado de Will. Nenhum o julga nem evoca moralismos, mas conforme eles surgem e vão ocupando a cabine, ocupam também os pensamentos e sentmentos de Will. Como exatamente elevai manejar aquela arma? Ele sabe com certeza absoluta quem foi o assassino do irmão? Ele não vai errar o tiro? Cada rosto tem uma história de vida e de morte. Will, em questão de segundos, vai definir a dele.

Jason Reynolds escreveu “Daqui pra baixo” originalmente em prosa, depois em verso, e a narrativa em staccato que resultou dessa experimentação faz a emoção – a confusão, a revolta, o medo – do garoto armado que sai para vingar o irmão crescer também no peito de quem lê. Um livro impossível de ignorar.

Resenha | Picos e Vales – Spencer Johnson


As pessoas, principalmente os mais jovens, hoje em dia, vivem basicamente de projeções do que serão/terão no futuro – o emprego ideal, a casa dos sonhos, o relacionamento de conto de fadas. Esse comportamento, muitas vezes reforçados pelos responsáveis e amigos que se dizem preocupados com o bem estar deles, termina sendo campo fértil para o desenvolvimento da ansiedade, das frustrações e do comportamento depressivo.
O motivo mais comum pelo qual você fica pouco tempo num pico é a arrogância, que se disfarça de segurança. O motivo mais comum pelo qual você fica muito tempo num vale é o medo, disfarçado de conforto.
Tomando como base a maneira de viver das pessoas na atualidade, Spencer Johnson apresenta o livro Picos e Vales (da editora Record – pelo selo Best Seller). Na trama conhecemos Michael, um rapaz que está com uma série de problemas profissionais e pessoais e não sabe o que fazer. Assim, resolve se aconselhar com Ann Carr, uma mulher bem sucedida. Durante uma reunião, Ann compartilha com Michael uma história sobre um jovem que vivia em um vale e após uma série de frustrações resolveu ir até um pico atrás de respostas para seus anseios e lá foi surpreendido ao encontrar um velho, que com sua sabedoria iria abrir a mente do jovem e transformar sua vida para sempre. 

Spencer Johnson
A leitura da obra me surpreendeu um pouco por ter uma temática próxima da autoajuda e ser muito reflexiva. Os Picos e Vales são na verdade metáforas para os momentos bons e ruins que temos ao longo da vida e com o avançar dos capítulos vamos aprendendo estratégias para lidar melhor com eles.
Picos e vales estão ligados. Os erros que você comete durante os bons momentos hoje geram os maus momentos de amanhã. E as coisas sábias que você faz durante os momentos ruins hoje geram os bons momentos de amanhã.
Também é interessante notar o simbolismo que há na relação entre o jovem (que quer as coisas imediatas e por isso é mais impulsivo) e o velho (que por conta da experiência tem a sabedoria de contemplar o presente que lhe foi dado/construído) – é a questão do legado e da sabedoria dos nossos ancestrais (que estamos abrindo mão, em favor das tecnologias).

Apesar do livro ser repetitivo em alguns momentos, ele oferece muitas reflexões e ensinamentos para que possamos aplicar no nosso cotidiano e assim nos tornar adultos mais saudáveis e conectados com o presente – sem necessariamente perder de vista o planejamento do futuro.

Vale destacar ainda, os diversos trechos contidos na obra que nos fazem pensar e por isso, são dignos de destaque. A exemplo desse a seguir:
Ninguém pode ficar num lugar para sempre. Mesmo que permaneça fisicamente num mesmo lugar, sempre estará entrando e saindo dos lugares no seu coração.
Picos e Vales é uma obra despretensiosa, mas que oferece aos leitores, das mais variadas idades, reflexões e ensinamentos sobre as escolhas que fazemos ao longo da vida e em como elas geram os tipos de momentos que teremos. O livro é ideal para gestores de grupos, mas o grande público também pode se deleitar com a sabedoria que ele traz.
É possível sair de um vale mais rápido quando conseguimos sair de nós mesmos: no trabalho, sendo mais úteis, na vida pessoal, sendo mais amorosos.
Curiosidades

  • O autor Spencer Johnson escreveu o famoso livro Quem Mexeu no Meu Queijo.
  • O autor Spencer Johnson morreu aos 78 anos, em decorrência de um câncer de pâncreas.
Sinopse


Picos e Vales relata a história de um jovem que vive infeliz até encontrar um senhor que mora em uma montanha. Após conversas e experiências, o jovem aprende a refletir sobre os caminhos que escolheu e percebe que, entre dois picos, há sempre um vale: um momento de avaliação das decisões tomadas e de concentração nos objetivos a serem alcançados. Contada com o brilhantismo do autor que já vendeu mais de um milhão de cópias em todo o mundo, Picos e vales é uma história única de sabedoria e êxito, que convida o leitor a fazer uma jornada pelos próprios altos e baixos e a usar suas lições para vencer. 

Resenha | Minha História – Michelle Obama


… convidemo-nos uns aos outros a entrar. Assim talvez possamos começar a temer menos, a julgar menos, a abandonar os preconceitos e estereótipos que criam divisões desnecessárias. Assim talvez possamos abraçar o que temos em comum. O que importa não é a perfeição. O que importa não é o destino final. Há poder em se fazer conhecer e ouvir, em ter sua própria história, em usar sua voz autêntica. E há beleza em se dispor a conhecer e ouvir os outros. Para mim, é assim que construímos nossa história.
Há um ditado popularmente conhecido que diz “por trás de um grande homem, há uma grande mulher“; não se sabe exatamente a autoria dessa frase, que muita gente enxerga como um elogio a figura feminina. Contudo, se refletirmos a fundo sobre a oração destacada passaremos a questionar porque a mulher deve ficar atrás do homem? Por que ela não pode vim ao lado ou mesmo a frente do homem, em uma parceria benéfica?

Parte dessas reflexões e inquietações são abordadas pela Michelle Obama, em seu livro autobiográfico Minha História, lançado no Brasil pela editora Objetiva. Na obra, a ex primeira dama dos Estados Unidos e uma das mulheres mais influentes do mundo abre sua vida de maneira inédita, a fim de refletir sobre os caminhos que a levaram a Casa Branca.
Michelle Obama
Filha de pais humildes e sempre cercada de amor, Michelle desde jovem foi educada para dar o seu máximo em tudo o que fazia e que através da educação ela teria as oportunidades necessárias para crescer na vida e assim fez, ao sair da periferia e ir estudar numa das Universidades mais importantes do mundo – a grande primeira lição trazida em suas memórias  é a importância da educação para se alcançar o sucesso e proporcionar uma mudança social.
Alguns nasceram pobres ou tiveram histórias de vida… repletas de adversidades, e ainda assim essas pessoas agem como se tivessem todas as vantagens do mundo. Aprendi o seguinte: todos tiveram quem duvidasse deles… O barulho não some, porém os mais bem-sucedidos que conheço descobriram uma forma de conviver com ele, de se apoiar nas pessoas que acreditam nelas e de seguir em frente com seus objetivos.
Já formada e com um emprego estável, Michelle sentia como a questão social e de gênero fazia com que ela tivesse que se dedicar o dobro na busca pela independência e ainda assim atuasse somente nos “bastidores” – outra importante reflexão que surge nesse momento é a importância de nos aproximarmos de pessoas de destaque para continuarmos no processo de aprendizagem e criarmos as oportunidades que precisamos. Ainda consolidando sua independência, a autora conta como conheceu seu futuro marido, Barack Obama, que viria a se tornar o presidente dos Estados Unidos e como essa decisão afetou a família.

Michelle Obama e Barack Obama
A leitura de Minha História foi importante sob muitos aspectos. Primeiro é fundamental ter acesso a trajetórias de pessoas que saem da periferia e são taxadas para o insucesso, quebrar esse paradigma e mostrar que é possível a ascensão social. O segundo ponto diz respeito a figura da mulher na sociedade – tendo que lidar com um trabalho, com os cuidados da família, os cuidados consigo mesma e todas as atribuições do lar – é injusto e de uma insensatez gigante que elas ainda tenham que brigar por condições igualitárias, quando isso há muito já deveria ser uma garantia. Outro fator bem interessante na obra foram os fatos históricos narrados e a breve aula sobre o funcionamento da política americana.

Minha História, da Michelle Obama, deve ser visitado e refletido por todos aqueles que buscam uma condição melhor de vida e anseiam por mudanças sociais capazes de promover igualdade e oportunidades para todos.
… ter uma história não significa chegar a algum lugar ou alcançar algum objetivo. Entendo-a mais como um movimento adiante, um meio de evoluir, uma maneira de tentar … ser uma pessoa melhor. É uma jornada sem fim. Tornei-me mãe, mas ainda tenho muito a ensinar e a aprender com minhas filhas. Tornei-me esposa, mas continuo a me adaptar e aceitar o verdadeiro significado de amar e construir uma vida com outra pessoa. Tornei-me, em certa medida, uma figura de poder, e mesmo assim há momentos em que ainda me sinto insegura ou desconsiderada. É um processo, são passos ao longo de um caminho. Tornar-se exige paciência e rigor em igual medida. Tornar-se é nunca desistir da ideia de que é necessário avançar.
Sinopse:


Um relato íntimo, poderoso e inspirador da ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Com uma vida repleta de realizações significativas, Michelle Obama se consolidou como uma das mulheres mais icônicas e cativantes de nosso tempo. Como primeira-dama dos Estados Unidos — a primeira afro-americana a ocupar essa posição —, ela ajudou a criar a mais acolhedora e inclusiva Casa Branca da história. Ao mesmo tempo, se posicionou como uma poderosa porta-voz das mulheres e meninas nos Estados Unidos e ao redor do mundo, mudando drasticamente a forma como as famílias levam suas vidas em busca de um modelo mais saudável e ativo, e se posicionando ao lado de seu marido durante os anos em que Obama presidiu os Estados Unidos em alguns dos momentos mais angustiantes da história do país. Ao longo do caminho, ela nos ensinou alguns passos de dança, arrasou no Carpool Karaoke e criou duas filhas responsáveis e centradas, apesar do impiedoso olhar da mídia.

Em suas memórias, um trabalho de profunda reflexão e com uma narrativa envolvente, Michelle Obama convida os leitores a conhecer seu mundo, recontando as experiências que a moldaram — da infância na região de South Side, em Chicago, e os seus anos como executiva tentando equilibrar as demandas da maternidade e do trabalho, ao período em que passou no endereço mais famoso do mundo. Com honestidade e uma inteligência aguçada, ela descreve seus triunfos e suas decepções, tanto públicas quanto privadas, e conta toda a sua história, conforme a viveu — em suas próprias palavras e em seus próprios termos. Reconfortante, sábio e revelador, Minha história traz um relato íntimo e singular, de uma mulher com alma e consistência que desafiou constantemente as expectativas — e cuja história nos inspira a fazer o mesmo.


Resenha | As Últimas Testemunhas – Svetlana Aleksiévitch


“Não quero lembrar. Mas as pessoas precisam contar suas desgraças. É difícil chorar sozinha.”
Segunda Guerra Mundial, que teve inicio a exatos 80 anos, talvez seja um dos acontecimentos mais trágicos na história da humanidade. Travada entre setembro de 1939 e setembro de 1945, ela tem sido discutida e eternizada em diversas oportunidades nas telas de cinema – geralmente sempre retratando os bravos e heroicos soldados que contribuíram para por fim ao confronto. Contudo, é importante que se lembre dos civis, e em especial das crianças, que indefesas, milhões terminaram sendo mortas e outras milhares, perderam tudo, sendo deixadas em orfanatos para que pudessem lutar a própria batalha para sobreviver a tristeza, a fome, o medo e a solidão.  

Svetlana Aleksiévitch
Graças a um intenso trabalho jornalístico, a persistência e a sensibilidade da escritora Svetlana Aleksiévitch, dona de um prêmio Nobel da literatura, somos apresentados à obra As Últimas Testemunhas. Na qual, temos a oportunidade de ler os relatos emocionados e tristes das crianças, que de uma hora para outra, presenciaram em primeira mão, os horrores e a crueldade da Guerra destruir tudo aquilo que lhes era mais caro: os pais, o lar e a inocência.  
“A guerra é meu livro de história. Minha solidão… Perdi a época da infância, ela fugiu da minha vida. Sou uma pessoa sem infância, em vez de infância tenho a guerra.”
A leitura da obra da Aleksiévitch não é fácil, a todo momento emoções como a perplexidade, a raiva, a tristeza, a impotência, a falta de fé aparecem ao longo das páginas. Os relatos são crus, verdadeiros e muitas vezes o leitor vai ficar se perguntando que tipo de “besta” é capaz de provocar em crianças perversidades tão inomináveis e gratuitas, a ponto de muitas delas, carregarem por muitos anos essas dores.
“… nunca consigo ficar feliz até o fim. Completamente feliz. Felicidade não é para mim. Tenho medo da felicidade. Sempre acho que logo mais ela vai acabar. Em mim sempre vive esse ‘logo mais’.”
Outro ponto a se lembrar é que o livro é constituído por um conjunto de memórias de inúmeros personagens, então em alguns momentos a escrita pode parecer “quebrada”, como se tivesse sido interrompida no meio da frase, o que pode provocar certo estranhamento nas pessoas que estão tendo acesso a esse tipo de literatura pela primeira vez.

Lançado no Brasil pela Companhia das Letras, o livro, As Últimas Testemunhas, da Svetlana Aleksiévitch, é um convite extremamente necessário aos horrores da Guerra, afinal devemos conhecer nosso passado, para que a gente não cometa os mesmos erros e assim possamos construir um presente/futuro melhor para todos.
“Não entendo o que são pessoas desconhecidas, porque eu e meu irmão crescemos entre pessoas desconhecidas. Pessoas desconhecidas nos salvaram. Mas como elas seriam desconhecidas para mim… Todas as pessoas estão ligadas. Vivo com esse sentimento, mesmo que muitas vezes me decepcione. A vida em tempo de paz é diferente…”
Sinopse:


Neste livro doloroso e potente, a Nobel de literatura Svetlana Aleksiévitch reuniu os relatos francos de vários sobreviventes da Segunda Guerra que, quando crianças, testemunharam horrores que nenhum ser humano jamais deveria experimentar. A Segunda Guerra Mundial matou quase 13 milhões de crianças e, em 1945, apenas na Bielorrússia, havia cerca de 27 mil delas em orfanatos, resultado da devastação tremenda causada pelo conflito no país. Entre 1978 e 2004, a jornalista Svetlana Aleksiévitch entrevistou uma centena desses sobreviventes e, a partir de seus testemunhos, criou uma narrativa estupenda e brutal de uma das maiores tragédias da história. A leitura dessas memórias não é nada além de devastadora. Diante da experiência dessas crianças se revela uma dimensão pavorosa do que é viver num tempo de terror constante, cercado de morte, fome, desamparo, frio e todo tipo de sofrimento. E o que resta da infância em uma realidade em que nada é poupado aos pequenos? Neste retrato pessoal e inédito sobre essas jovens testemunhas, a autora realizou uma obra-prima literária a partir das próprias vozes de seus protagonistas, que emprestaram suas palavras para construir uma história oral da Segunda Guerra.


Resenha | Nua e Outros Poemas – Dayane Tosta


O que é a vida? Se não um conjunto de vivências que nos levam até a descoberta da nossa própria alma. E como essa descoberta é possível, se não for através das emoções que nos permitimos sentir.

Nos caminhos da vida, nada desperta tanto nossas emoções quanto a poesia. Através dela podemos sentir a simplicidade e acalentar o nosso coração. E é com o objetivo de convidar as pessoas para refletirem sobre a importância de viverem suas emoções que a escritora Dayane Tosta nos presenteia com seu livro Nua e Outros Poemas.

Dayane Tosta
Lançada pela editora Vecchio, a obra apresenta três fases da vida da autora: quando ela conheceu o amor romântico (vestígios do encantamento), o momento da desilusão (destroços da desilusão) e a descoberta do amor próprio (epifania da serenidade). Em cada fase, Tosta apresenta poesias profundas que ilustram cada momento por ela vívido e que, pela temática, farão com que muitos leitores se identifiquem e suspirem a cada verso lido.
A leitura dessa obra foi uma surpresa para mim, afinal não tenho o hábito de ler esse gênero. Ao longo do texto fui relembrando meus próprios processos e me identifiquei com muitas poesias, a exemplo da “Coisas que aprendi com calma“.
Coisas que aprendi com calma O sofrimento nasceu do excesso do apego O apego é fruto do desejo O desejo surgiu por conta de uma carência A carência vem daquilo que não tenho O que não tenho criou um mecanismo de projeções sobre o outro Naturalmente o outro não corresponde a todas as projeções Daí surge a frustração. O segredo, então, é fugir do apego Mas ninguém ainda descobriu como se faz isso.
Foi uma experiência diferente e gratificante, por possibilitar que os leitores interpretem a sua maneira os textos trazidos e ofereçam a todos, a chance de simplesmente sentir.

Nua e Outros Poemas é, antes de mais nada, revolucionário. Por apresentar, em um mundo cada vez mais anestesiado, os sentimentos como condição para o nosso crescimento. Além disso, fala sobre o papel da escrita em nossa jornada de descoberta. Por fim, o livro merece ser livro, para que a gente possa conhecer a escrita de uma jovem escritora, que nos ofereceu, de forma leve e profunda a beleza da própria alma.
Nua Eu escrevo para me ver nua Diante do espelho das palavras A minha alma se reflete Eu escrevo para desatar os nós Deixar fluir essa sangria Expulsar todos os medos Eu escrevo porque doi E toda dor é necessária Respiro cada sensação Eu escrevo porque me curo Enquanto faço a digestão De cada amargura Eu escrevo para me entender E me reconciliar comigo mesma Diante do abrigo da palavra.
Sinopse


"O livro é dividido em três partes que podem ser entendidas como três níveis de experiência afetiva. Vale lembrar que toda sensação é importante, não sentir é perigoso, pois ao se abster voluntariamente dos afetos reprimimos emoções que eles desencadeiam e isso reverbera das formas mais negativas na trajetória de casa ser. Neste sentido, esses poemas são a celebração das sensações sejam elas penosas ou boas." Dayane Tosta
"[..] esses textos podem ser lidos de duas formas: apenas tinta no papel para deleite dos olhos e da mente, ou nu." Lis Fonseca.