quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Resenha | Eu beijei Shara Wheeler (Casey McQuiston)

 Por Camila Moura

Normalmente um grande livro é aquele que conversa com seus leitores. Que faz com que eles reflitam e se sintam parte de algo maior e a autora Casey McQuiston, que cumprindo isso a risca, a trazer para seus fãs livros sensíveis e que trata da diversidade de uma maneira respeitosa e inclusiva.

Mostrando acerto em continuar com a parceria com a autora, a Seguinte, selo da Companhia das Letras, traz para o Brasil o livro Eu beijei Shara Wheeler, uma obra que apresenta mistério, romance, dramas e personagens apaixonantes.

Chloe Green vive em uma cidade ultraconservadora chamada False Beach, um verdadeiro pesadelo para uma bissexual filha de duas mães, por isso, o sonho da vida dela é finalizar o ensino médio sendo a melhor da escola Willowgrove, ir embora e nunca mais olhar para trás.

Seu único obstáculo é Shara Wheeler, a filha do pastor e diretor da escola, a pessoa mais popular da cidade. Todos amam Shara. Porém, quando falta um pouco mais de um mês para a formatura, Shara simplesmente desaparece e Chloe quer vencê-la olhando nos olhos dela, e assim, começa a busca por Shara.

“Mas, quando ela chegou à porta, Shara tinha sumido, e quando a presidente do grêmio estudantil, Brooklyn Bennett, subiu ao palco para coroar Shara como a rainha do baile, ela ainda estava desaparecida. Ninguém a viu sair, e ninguém a viu desde então, mas seu jeep branco não está na garagem da família Wheeler.”

Antes de desaparecer, Shara beijou três pessoas e deixou bilhetes espalhados pela cidade com pistas indicando onde ela estava e cabe a essas três pessoas totalmente diferentes se juntarem para encontrá-la. Mas e se no meio dessa busca eles descobrem que a Shara não é quem mostra ser e eles não são tão diferentes assim?

Esse livro é uma verdadeira aula sobre a comunidade LGBTQIA+ nos mostrando várias representações e também o impacto que a igreja e a comunidade ultraconservadora tem na formação homofóbica de uma sociedade.

“Seu cérebro às vezes tem dificuldade de entender isso - a ideia de que para a maioria das pessoas daqui, as coisas que ela escuta na aula de Bíblia são reais. Quem ela seria se não tivesse sido criada por duas mães e um pequeno exército de californianos gays de meia idade? E se Willowgrove sempre tivesse sido seu mundo, e as pessoas responsáveis por ele, que deixavam as portas das salas de aula abertas para ela e faziam piadas com ela como se a vissem como uma pessoa, lhe falassem de maneira gentil, mas firme que ela era errada? Que havia algo dentro dela - mesmo que não conseguisse dar um nome - que precisava ser consertado?”


Resenha | Última Parada (Casey McQuiston)

 Por Camila Moura

Sinopse:

Aos vinte e três anos, August Landry tem uma visão bastante cética sobre a vida. Quando se muda para Nova York e passa a dividir apartamento com as pessoas mais excêntricas ― e encantadoras ― que já conheceu, tudo o que quer é construir um futuro sólido e sem surpresas, diferente da vida que teve ao lado da mãe.
Até que Jane aparece. No vagão do metrô, em um dia que tinha tudo para ser um fracasso, August dá de cara com uma garota de jaqueta de couro e jeans rasgado sorrindo para ela. As duas passam a se encontrar o tempo todo e logo se envolvem, mas há um pequeno detalhe: Jane pertence, na verdade, aos anos 1970 e está perdida no tempo ― mais especificamente naquela linha de metrô, de onde nunca consegue sair.
August fará de tudo para ajudá-la, mas para isso terá que confrontar o próprio passado ― e, de uma vez por todas, começar a acreditar que o impossível às vezes pode se tornar realidade.

Resenha:

Casey McQuiston atraiu a atenção internacional e ganhou uma legião de fãs na época do lançamento do seu Vermelho, Branco e Sangue Azul, história que emocionou e fez muita gente suspirar.

Agora, com seu novo lançamento, que chega através da Companhia dasLetras, pelo Selo Seguinte, Última Parada, McQuiston entrega uma obra que mistura romance, suspense e grandes decisões, que não decepcionará seus fãs.

E se o amor da sua vida estivesse presa em um metrô? E se o amor da vida pertencesse a outra época?

É nesse dilema que a August se encontra, aos 23 anos ela se acha a pessoa mais cética do mundo e se acha incapaz de amar e também de ser amada. Devido a problemas familiares, ela resolve se mudar para Nova York para ficar longe de um ambiente que não faz bem para ela.

Na nova cidade, ela divide um apartamento com as pessoas com excêntricas encantadoras do mundo e também acaba conhecendo a Jane, que coloca em questionamento tudo o que a August pensava saber sobre a vida, o universo e o amor.

Mas como nada na vida é perfeito, August descobre que Jane é uma pessoa dos anos 70 que por algum motivo desconhecido, ficou presa na linha Q do metrô de Nova York e com isso, a August não medirá esforços para ajudar Jane, mesmo que isso signifique nunca mais vê-la.

Em Última Parada, a Casey Mcquiston nos oferece a mistura perfeita entre romance no metrô, viagem no tempo, cultura queer e muito amor.


Resenha | Para o Lobo (Hannah Whitten)

 Por Camila Moura

SINOPSE:

O reino de Valleyda não via o nascimento de uma Segunda Filha há cem anos – até a Rainha dar à luz Redarys, ou Red, irmã mais nova de Neverah. Seu propósito de vida é um só: o sacrifício. Ao completar vinte anos, Red se entregará ao temido Lobo em Wilderwood – a floresta que faz fronteira com seu lar –, para cumprir o pacto selado há quatro séculos e garantir a segurança não só de Valleyda, mas também de todos os demais reinos.
Carregando o fardo de um poder que não consegue controlar, Red sempre soube de seu destino e está quase aliviada por cumpri-lo: na floresta, ela não pode machucar aqueles que ama. No entanto, apesar do que dizem as lendas, o Lobo é apenas um homem, não um monstro. E os poderes de Red são um chamado, não uma maldição. Enquanto descobre a verdade por trás dos mitos, a Segunda Filha precisará aprender a controlar sua magia antes que as sombras tomem conta de seu mundo.

Aviso de conteúdo sensível: este livro contém cenas de magia com descrições de automutilação.

RESENHA:

Red nasceu com o seu destino traçado, ela nasceu para o lodo.

          “A primeira filha é para o trono.

A segunda filha é para o lobo.

E os lobos são para Wilderwood”

Como uma segunda filha, ela foi preparada para seguir o seu destino e quando chegasse o momento, Red deveria ir para Wilderwood e ser do lobo.

Tudo isso aconteceu por conta de um pacto que os reis fizeram, eles pediram abrigo nas regiões de Wilderwood e em troca ofereceram tudo o que tinham para a floresta. Wilderwood aceitou o pacto e em troca “Toda segunda filha e todo lobo que vivessem depois deveriam aderir ao pacto e ao chamado e à marca.”

Sempre que Valleyda enviava uma segunda filha, o reino tinha esperança de ser suficiente para fazer os reis voltarem. Será a Red o suficiente para quebrar o pacto e liberar os reis? Isso será capaz de manter a floresta sob controle? São perguntas que ninguém sabe responder, mas é dever da segunda filha tentar.

Quando chega o momento de Red ir cumprir o seu destino, ela acaba descobrindo que possui uma magia capaz de controlar a floresta. O lobo afirma que é a primeira vez que uma segunda filha possui essa magia. Será a salvação ou será a sua perdição?

Para o Lobo, lançamento da Companhia das Letras, através do Selo Suma, foi uma leitura que me surpreendeu, ela nos mostra que toda história possui mais de um lado e nem sempre o lado mais conhecido é o verdadeiro.

Resenha | Uma Rosa Só (Muriel Barbery)

 Por Marina Lamim


Muriel Barbery é escritora de romances e professora de filosofia. Confesso que não conhecia a autora até ver o lançamento do livro Uma só rosa, da Companhia das Letras, e solicitá-lo para a editora.

Pela falta de familiaridade com a escrita da autora, senti certa dificuldade em pegar o ritmo. Barbery tem uma escrita muito poética e, como não poderia ser diferente, filosófica.

No romance Uma só rosa, conhecemos Rose, uma botânica de quarenta anos que mora em Paris. Órfã de mãe, Rose não chegou a conhecer o pai, até que recebe a informação de que precisa viajar até o Japão para a leitura do testamento dele. 

Em Paris, Rose vive uma vida preta e branca. E ao chegar no Japão, mais precisamente em Kyöto, ela passa a enxergar a beleza e as cores das flores. Paul, um rapaz que trabalhou com o pai de Rose durante anos, é o responsável por recepcioná-la e por apresentar um itinerário, o qual deve seguir antes de, por fim, ouvir sobre o testamento.

"Se não estamos prontos para sofrer, não estamos prontos para viver."

Uma história sobre luto, amargura, rancor, descobrimento e perdão. Muriel nos guia por sentimentos numa escrita que, confesso, senti que deve ser feito em doses homeopáticas.

Não se deixe enganar pelas 166 páginas, pois apesar de ser um livro curto, é carregado de emoções.

"O que ele pode me dar agora? O que a ausência e a morte podem dar? Dinheiro? Desculpas? Mesas laqueadas?"

Como humanos, somos movidos por sentimentos e o poder de mudá-los. E para quem busca uma leitura marcante, eu super indico!


quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Citações | Um Mais Um (Jojo Moyes)

 


  • “- As escolhas que você fizer agora vão determinar o resto de sua vida... quando se critica demais alguém, a pessoa, com o tempo, para de dar ouvidos ao que é sensato.” – 150
  • “Quando a pessoa dá duro para chegar a um lugar, é muito bom mostrar aos outros de onde ela é.” - 317

domingo, 22 de janeiro de 2023

Resenha | O Exercício da Incerteza (Drauzio Varella)

 Por Camila Moura

Sinopse:

A medicina não é uma ciência exata. Seu exercício está sujeito a fatores imprevisíveis que variam de paciente a paciente – tendo sempre a finitude humana no horizonte. Essa parcela do imponderável é matéria para o relato de Drauzio Varella, oncologista que se tornou nacionalmente conhecido como um dos primeiros médicos a fazer uso dos canais de comunicação de massa para propagar informações sobre saúde e conscientizar sobre bons hábitos. O autor narra com sensibilidade e franqueza episódios de sua vida a partir do fio da medicina. Por sua prosa fluida, acompanhamos momentos críticos, como a pandemia do HIV e a epidemia de tuberculose nos presídios em que atendia voluntariamente, e outros celebrados, como a bem-sucedida campanha de combate ao uso de drogas injetáveis no Carandiru, que capitaneou. Estas memórias ultrapassam o registro biográfico ao fazer uma reflexão sobre a prática médica, que figura nestas páginas como arte que exige humildade, estudo, empatia e habilidade para atravessar os reveses do acaso.

Resenha:

Drauzio Varella é formado em medicina pela USP, conhecido por seu trabalho na comunicação médica, é autor de inúmeros livros, entre eles o Estação Carandiru, que ganhou o prêmio Jabuti de não ficção.

No seu novo livro, O exercício da incerteza, lançado pela Companhia das Letras, ele traz relatos e memórias da sua vida pessoal e profissional, que vão desde a sua infância até a pandemia de Covid 19.

Nesse livro é possível conhecer mais sobre a vida do Drauzio para além da medicina, mas também conhecemos o trabalho como voluntário dos presídios de São Paulo, como professor e pesquisador.

Em um dos trechos falando sobre a sua infância, conhecemos mais sobre os seus pais e sobre a doença que levou a sua mãe desse plano.

“Eu nunca havia contado essa história - nem para as minhas filhas, nem para minha mulher, nem para minha irmã, que assistira à mesma cena. Que força arrebatadora tem a literatura, capaz de nos fazer revelar experiências tão pessoais, mantidas em segredo por mais de cinquenta anos.” Relata o Drauzio sobre a perda prematura da sua mãe.

Além disso, passamos por períodos críticos da história do Brasil e do mundo, tudo isso relatado sobre o olhar sensível de um médico e ser humano que estava presente na ditadura, na epidemia de HIV, nas pesquisas oncológicas e na pandemia da covid 19.

Sem dúvidas esse livro é uma viagem histórica de uma perspectiva médica, mas com uma linguagem de compreensão universal, uma leitura que todos deveriam fazer.


Resenha | Malibu Renasce (Taylor Jenkins Reid)

 Por Marina Lamim

Sinopse:

Malibu, agosto de 1983. É o dia da festa anual de Nina Riva, e todos anseiam pelo cair da noite e por toda a emoção que ela promete trazer.
A pessoa menos interessada no evento é Nina, que nunca gostou de ser o centro das atenções e acabou de ter o fim do relacionamento com um tenista profissional totalmente explorado pela mídia. Talvez Hud também esteja tenso, pois precisa admitir para o irmão algo que tem mantido em segredo por tempo demais, e parece que esse é o momento. Jay está contando os minutos, pois não vê a hora de encontrar uma menina que não sai de sua cabeça. E Kit também tem seus segredos – e convidado – especiais.
Até a meia-noite, a festa estará completamente fora de controle. O álcool vai fluir, a música vai tocar e segredos acumulados ao longo de gerações vão voltar para assombrar todos – até as primeiras horas do dia, quando a primeira faísca surgir e a mansão Riva for totalmente consumida pelas chamas.

Resenha:


O mundo da literatura nos reserva muitas surpresas. Seja por histórias incríveis, ou acontecimentos grandiosos e ainda por autores, que se mostram fantásticos e atraem uma legião de fãs. Um caso que merece destaque é a Taylor Jenkins Reid, que desde o lançamento do seu Daisy Jones, vem causando um grande rebuliço a cada novo livro que chega nas prateleiras.

Meu primeiro contato com a escrita da Taylor foi com a edição da @taglivros de Os Sete Maridos de Evelyn Hugo e desde então vem se tornando uma das minhas escritoras favoritas!

É impressionante a capacidade que ela tem de desenvolver personagens reais, vívidos e marcantes.

Em Malibu Renasce, trazido para o Brasil pela Editora Companhia das Letras, através do Selo Paralela; a gente acompanha a vida e o crescimento dos 4 filhos - Nina, Jay, Hud e Kit - de um famoso astro de Rock, Mick Riva. Mick foi um dos maridos de Evelyn - outra coisa fantástica que a Taylor faz, cria um universo onde os personagens circulam em diversos livros.

Após a morte precoce da mãe e o abandono do pai, Nina, a mais velha, se vê na obrigação de cuidar dos irmãos mais novos.

"Tarine deu um gole em seu vinho e disse: Acho que você nunca passou um dia na sua vida vivendo só para você".

Uma vida baseada em abdicar de desejos próprios e aceitar o "destino" como a única vida existente.

"Finalmente havia oxigênio suficiente dentro dela para um incêndio começar".

A narrativa intercala o passado e o presente e é um livro para quem gosta de uma boa fofoca (haha é sério), de dramas familiares e de desenvolvimento de personagens.

Malibu Renasce garantiu lugar entre os meus favoritos da Taylor!


Resenha | Lições (Ian McEwan)

Por Camila Moura


Sinopse:

Enquanto o mundo ainda tenta lidar com as feridas da recém-terminada Segunda Guerra Mundial e a Cortina de Ferro se fecha cada vez mais, a vida de Roland Baines, um menino de onze anos, vira de cabeça para baixo. Em um internato a milhares de quilômetros de sua família, a vulnerabilidade infantil do garoto atrai a professora de piano, Miriam Cornell, deixando marcas profundas e memórias que nunca serão esquecidas. Contudo, já adulto, sua esposa desaparece, deixando-o sozinho com o filho ainda bebê. À medida que o medo da radiação de Tchernóbil se espalha pela Europa, Roland parte em uma busca por respostas que o fará se embrenhar cada vez mais profundamente em seus próprios traumas. Ao mesmo tempo épica história de um homem comum e retrato da Europa dos séculos XX e XXI, Lições é um debate sincero sobre família, Estado e, claro, amor.


Resenha:

Poucos escritores, hoje em dia, conseguem entrelaçar os acontecimentos do mundo de uma forma tão eficaz a ponto de conta uma história, como Ian McEwan.

Na sua nova obra “Lições”, lançada pela editora Companhia dasLetras, o renomado escritor cria uma história sobre como os traumas do mundo vai interferindo na vida nosso jovem protagonista, e como isso desencadeia inúmeros traumas pessoais.

Uma narrativa que começa com o mundo tentando lidar com as feridas da Segunda Guerra Mundial e vai até a pandemia de covid 19. Ao longo desses anos, vamos acompanhando os acontecimentos da vida do Roland Baines, os das pessoas ao seu redor, além dos acontecimentos mundiais.

Esse livro contém uma visão histórica diferente de todos que eu já li, pois o protagonista está diretamente ligado a eles. O seu pai serviu na segunda guerra, o Roland estava presente na queda do muro de Berlim e presenciou a Alemanha dividida, assim como precisou enfrentar o lockdown causado pela Covid 19.

Um fato que eu gostei desse livro é que ele vai alternando entre presente e passado, enquanto o protagonista tenta identificar as motivações que levaram sua esposa a abandonar ele e o filho do casal, de apenas 7 meses. Será que teve alguma relação com os acontecimentos da vida da mãe dela? E assim vamos conhecendo mais da vida das pessoas ao redor do Roland. Além disso, o livro é recheado de questões políticas e nos traz diferentes debates.

Por ser um livro com inúmeros detalhes e acontecimentos, ele se torna uma leitura densa e pode se tornar um pouco cansativa. Por isso, é importante que o leitor se organize em relação ao tempo e tenha paciência para ir avançando na obra e nos diversos fatos que ela traz. É um livro super indicado para quem gosta de romances históricos.

“Como acontecera ao atravessar a França, ficou perplexa com o fato de haver hotéis, assim como pessoas para mudar lençóis e cozinhar o que estivesse disponível. Tão pouco depois de uma guerra total. Fora desses lugares, os alimentos eram escassos. Na beira das estradas, avistar tanques queimados era tudo menos surpreendente. O lixo da guerra estava por todo canto. Numa cidadezinha francesa, a asa enegrecida de um caça estava caída sobre uma calçada. Por razões que ela era incapaz de descobrir, ninguém desejava removê-la. As estradas e estações ferroviárias que se mantinham de pé estavam cheias de pessoas deslocadas, judeus sobreviventes, ex-soldados, ex-prisioneiros de guerra, refugiados da área de controle soviético. Dezenas de milhares estavam amontoados em acampamentos especiais. “Pessoas sem teto, sujeira, fome, sofrimento, amargura” por toda parte."


quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Resenha | Não Se Preocupe - 48 Lições Zen Para Aliviar A Ansiedade (Shunmyo Masuno)

 Por Beatriz Barbosa

O japonês Shunmyo Masuno, após anos de estudo/práticas espirituais traz vários ensinamentos que ele considera fundamental para uma vida mais tranquila, livre de preocupações e angústias desnecessárias.

Na sua obra Não Se Preocupe, lançada no Brasil pela Editora Companhia das Letras, através do Selo Fontanar, Masuno apresenta 48 passos (lições) divididas em 5 partes. 

Na primeira parte ele nos ensina a reduzir, desapegar e deixar para traz.

 “O zen nos ensina a não nos compararmos com os outros”

O autor nos ensina a não termos sentimentos egoístas e não nos iludirmos com sentimentos de inveja e insegurança. A viver no momento presente, não remoer memórias passadas e nem ficar pensando no futuro e sim viver o agora. “More na sua respiração”. Ele nos ensina a viver o Hoje. A não se sobrecarregar ou viver abatido, sobre a necessidade de reduzir a quantidade de pertences “Isso vai tornar a sua mente e o seu corpo mais leve”. E reforça a importância de ser quem é “Simplesmente seja quem você é. Não se concentre nas coisas que você não pode controlar;”

“Pratique a renúncia, não importa sua posição ou seu Status social.” O autor diz que quanto mais nos agarramos as coisas mais os nossos medos desnecessários se intensificam

Na segunda parte do livro ele nos ensina a concentrar apenas no que podemos conquistar no aqui e agora, sendo uma forma que nos ajuda a parar de pensar em coisas desnecessárias.

“Considere o óbvio. Você verá que a felicidade pode ser encontrada no momento presente.”

E ele segue com mais ensinamentos valiosos

“Não se apresse, não entre em pânico. Uma vez por dia faça questão de fazer uma pausa.”

“Responda de maneira positiva. Não há problema em se sentir para baixo, mas logo se levante outra vez.”

“Não vá em busca do que é desnecessário. Pare de consumir informações de forma compulsiva.”

“Não ignore seus sentimentos. Assim, não será afetado pelas coisas.”

Na terceira parte é ensinado sobre a necessidade de parar de competir e assim as coisas naturalmente se encaixam.

“Não se concentre em vitorias ou derrotas. Não importa se você vencer ou perder.”

Shunmyo Masuno reforça que no mundo atual tão cheio de egoísmo as pessoas expressão muito pouco a gratidão e quão importante é nos sentirmos gratos pelas coisas, pelos nossos colegas de trabalho, pelo dia a dia, pela vida e por tudo. E ainda traz um grande alerta, precisamos usar as palavras certas porque existe um preço grande a ser pago se você fizer fofocas e difamações, em um certo momento farão igual conosco. Devemos nos comunicar com o outro com gentileza e usando “palavra afável”.

“Espero que você se lembre disso ­- ao falar com as pessoas com compaixão, sua palavra afável terá o potencial de mover o céu e a terra”.

Na quarta parte o autor traz dicas para aprimorar as relações, trazendo a ideia que não conhecemos as pessoas por acaso e sim por algum motivo que no momento não conseguimos identificar, que em um mundo de quase 7 bilhões de pessoas é quase um milagre as poucas que conhecemos. Essas pessoas que formamos conexões são especiais e no budismo eles consideram essa conexão como innen e por causa do innem esses encontros acontecem  “Quando o carma de causa e o carma de condição estão alinhados”. Então eles acreditam que esses encontros são milagres e presente do próprio buda, então não podemos menosprezar as pessoas que entram em nossa vida.

Na quinta e ultima parte diz sobre transformar a maneira de encarar a vida e viver melhor. Ele cita sobre nossa ânsia de querer cada vez mais dinheiro e quão danoso é uma pessoa se sentir insatisfeita mesmo tento muitos bens. Ele usa uma citação de buda que diz “O desejo humano é tão grande que, mesmo que os Himalaias fossem transformados em ouro, não seria o suficiente.” Masuno ainda reforça que mesmo quando não estamos desejando nada em especifico ainda vamos em busca de dinheiro. Então ele nos questiona, “Você será aquele que conhece a satisfação, ou aquele que nunca consegue se satisfazer? Qual caminho você vai escolher?”


Resenha | Procurando Jane (Heather Marshall)

Ao longo da formação das sociedades, muitos tabus foram sendo criados como formas estratégicas de um grupo prevalecer sobre o outro. Um grande exemplo dessas práticas é o patriarcalismo, que colocou os homens no lugar de poder e de tomada de decisão, relegando as mulheres a uma suposta submissão.

Mesmo com tantas violências às quais as mulheres sofrem, elas sempre ofereceram resistência a esta forma posta e graças a inúmeros sacrifícios e uma grande luta, foram conquistando direitos e se tornando protagonistas da própria história.

É neste contexto de dicotomia entre homens x mulheres e os grandes tabus da sociedade, que a Companhia dasLetras, através do Selo Paralela, lança no Brasil, o livro Procurando Jane, da autora Heather Marshall.

Na obra citada, acompanhamos a história de três mulheres – Evelyn, Nancy e Angela, em diferentes momentos do tempo, que graças a uma carta extraviada, tem suas vidas interligadas para sempre. Nossas protagonistas vão nos trazer em primeira mão acontecimentos históricos, a exemplo da luta pela legalização do aborto no Canadá.

O livro da Marshall tem como tema central a maternidade, o melhor e o pior dela. Para desenvolver esse tema com maestria, a autora fez uma rica pesquisa histórica e apresenta a luta pela legalização do aborto no Canadá, fala sobre adoção, as casas de amparo maternal; o que faz com que a história tenha ainda mais credibilidade e fique carregada de emoções.

A escrita da Marshall é muito rica e delicada. Ela soube construir personagens com inúmeras camadas, fieis aos seus propósitos e reais, nos quais entregam toda a carga emocional que a cena exige. Ainda é possível ver uma mistura de gêneros narrativos – drama, suspense, ação, romance... o livro entrega muito além do que promete.

Procurando Jane é uma obra corajosa, necessária e muito emocional. Ela cumpre seu papel de entreter os leitores, mas principalmente, nos desperta para temas urgentes e que merecem serem discutidos com o cuidado necessário, sem fundamentalismos e nem extremismo, como temos visto atualmente. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Citações | Procurando Jane (Heather Marshall)

 


  • “... as pessoas se arrependem de coisas que não fizeram muito mais do que de erros que de fato cometeram. É a inação que faz alguém acordar de madrugada, duvidando de seu próprio  julgamento. São os ‘e se’ e dos ‘eu deveria ter’ que permanecem nas profundezas da alma. Que se agarram com mais força, que têm os dentes mais afiados.” – 53
  • “... qualquer coisa pode se quebrar de maneira irreparável quando manipulada sem cuidado.” – 268
  • “Se aprendi alguma coisa com tudo isso, é a não guardar segredos. Eles infeccionam com feridas, e levam ainda mais tempo para se curar depois que o estrago foi feito. É algo permanente e incapacitante...” - 280


Citações | Clube da Luta (Chuck Palahniuk)

 



  • “Naquela época a minha vida parecia completa demais, e talvez tenhamos que quebrar tudo para construir algo melhor em nós mesmos.” - 53



Resenha | Vermelho, Branco e Sangue Azul (Casey McQuiston)

 Por Catharina Lima


Para nossa sorte, Casey McQuiston saiu da autoestrada I-10, em 2016, e teve um vislumbre de como seria mudar as configurações atuais e encaixar problemáticas reais, romance divertido e comédia inteligente.

É fácil resumir Vermelho, Branco e Sangue Azul, mas nenhum resumo seria o suficiente para explicar a excelência do livro. Trazido ao Brasil, pela Seguinte, selo da Companhia das Letras, a obra de estreia de McQuiston, acontece durante os meses anteriores a eleição de 2020 dos Estados Unidos, sob o ponto de vista do filho caçula da presidenta Claremont, Alex.

                                                      Casey McQuiston

Em meio as estratégias para ganhar a reeleição, a Primeira-Família dos EUA é convidada para o casamento do príncipe herdeiro da Inglaterra, irmão do arqui-inimigo de Alex. Durante o evento real, Alex e o segundo príncipe na linha de sucessão, Henry de Gales, se envolvem numa briga e acabam reforçando a atenção já caída sobre eles. Unidas, as assessorias americana e inglesa arquitetam uma fantasia onde os dois rapazes são melhores amigos, a fim de evitar uma crise entre as grandes potências e manter as aparências na mídia. Contudo, Alex odeia fortemente o príncipe e, por alguma razão, não consegue tirá-lo da cabeça desde a adolescência.

Seu mau comportamento não pode vir a prejudicar a mãe, então o primeiro-filho aceita as condições impostas e se aproxima do príncipe. A descoberta da própria sexualidade é, como esperado, confusa e surpresa. No entanto, a personalidade metódica do personagem ajuda a passar pelo momento de forma divertida e cautelosa.

Caso você, leitor, também se sinta familiarizado com a ambientação, é porque foi intencional a estruturada para ser semelhante a que já conhecemos, exceto alguns detalhes configurados. A presidenta Claremont seria Hillary Clinton, se tivesse vencido as eleições após a saída de Obama; e o príncipe Harry, com todas suas escolhas contrárias, é a referência modificada para Henry, quem também vive sob o governo da rainha-avó.

Apesar de, assim como eu, muitos não estarem em posição de opinar com propriedade sobre o romance LGBT tratado, a forma fluída e sensível da escrita de McQuiston aproxima o casal da realidade e ajuda a desconstruir pensamentos retrógrados; questões como a descendência mexicana de Alex e sua pele escura também são cuidadas com a mesma preocupação e anseio.

Cada personagem tem papel fundamental, além de um contexto e individualidades. Eles dão gás e vida aos capítulos, dinâmica e diversão. A família de Alex, o melhor amigo e a irmã de Henry, são a rede de apoio necessária a todo ser humano.


Equilibrado de forma justa, o livro se divide entre um ambiente político e o romance LGBT, enriquecido com diálogos e piadas sagazes que trazem leveza à obra. Quem gosta de séries e filmes políticos vai se surpreender com a facilidade em visualizar as imagens à medida que os olhos avançam os capítulos. A leitura rápida cumpre todas as promessas e deixa o peso da saudade.

Vermelho, Branco e Sangue Azul foi lançado no Brasil, inicialmente em 2020, e na oportunidade além de ser alvo de expectativa em seu pré-lançamento, chegou para garantir um estrondoso sucesso. Agora, em nova roupagem, a Edição de Colecionador se torna um presente para os fãs da McQuiston e um grande agradecimento da Editora Seguinte, que comemora seus 10 anos de criada. 

Resenha | O Idiota (Fiódor Dostoiévski)

 Por Camila Moura


Quando a Companhia das Letras, através do selo Penguin-Companhia, apresentou para os seus leitores uma nova edição do clássico, O Idiota, não tive dúvidas em embarcar nesta grande jornada (literalmente), afinal sempre tive curiosidade de ler uma obra deste grande escritor russo, Dostoiévski.

Essa foi a minha primeira experiência coma literatura russa, e confesso que me surpreendeu muito positivamente. Apesar de ser um livro grande, a leitura é muito fluida, com dramas que lembram muito as tramas das novelas das 9.

“Fiquei muito admirado quando o príncipe há pouco tempo, adivinhou que eu tenho “sonhos ruins”; ele disse literalmente, que em Pávlovsk os meus “sonhos e emoções” vão mudar. E por que os sonhos? Ou ele é médico ou, de fato possui uma inteligência fora do comum e é capaz de adivinhar muitas coisas.” (Mas que, no final das contas, é um “idiota”, disso não há a menor dúvida).

Na narrativa conhecemos o jovem príncipe Míchkin que sofre de epilepsia, razão que o afasta por anos de São Petersburgo para tratamento médico. Conhecido como idiota, nosso jovem príncipe possui qualidades que estão em escassez entre os membros da sociedade Russa. Assim, quando ele retorna para a cidade, acaba se envolvendo em triângulos amorosos da alta sociedade. O que acaba causando um choque cultural e ele faz amigos e inimigos poderosos.

“- Aqui, não há ninguém que mereça essas palavras! – Explodiu Aglaia. – Todos aqui, todos, não valem o seu dedo mindinho nem a sua inteligência nem o seu coração! O senhor é o mais honesto de todos, o mais nobre de todos, o melhor de todos, o mais bondoso de todos, o mais inteligente de todos! Aqui, há pessoas indignas de se abaixar e pegar o lenço que o senhor deixou cair, agora.... Para que o senhor se humilha e se coloca abaixo de todos? Para que o senhor desfigurou tudo em si mesmo, por que não há orgulho no senhor?”

Nessa narrativa publicada originalmente em formato de Folhetim, podemos notar como a busca por dinheiro é capaz de ultrapassar as barreiras da moralidade e faz com que as pessoas vivam de aparências.