segunda-feira, 5 de abril de 2021

Resenha | A Fazenda dos Animais (George Orwell)

 


Ao longo da história humana, muitos governos surgiram com a promessa de promover o bem estar social e, a médio/longo prazo, esses governantes se mostraram autoritários e capazes de qualquer coisa para se manter no poder - são exemplos desse tipo de governo o Nazismo, Fascismos, Militarismo, entre outros. Sobre esse contexto acerca dos regimes totalitários há uma gama de produções e uma que merece destaque é a fábula de George Orwell, A Fazenda dos Animais.

Relançado no Brasil, em uma edição especial, pela  Companhia das Letras, a obra conta a história dos animais da Fazenda do Solar, que cansados de serem explorados e mal alimentados, resolvem seguir o sonho de Major e fazer uma rebelião para tomar o controle para si. Após o sucesso da empreitada, logo os animais passam a ser livres e a mudar as coisas na Fazenda. Contudo, em pouco tempo, o que parecia ser a realização de um sonho, pode se revelar o início de um grande pesadelo.

- Os Personagens

Orwell criou uma obra simples e genial. Numa época em que havia muita censura, humanizar os animais foi uma jogada de mestre, digna das fábulas de La Fontaine. Assim, o grande destaque da Fazenda dos Animais, são as representação de características humanas de personagens históricos que os animais assumem. Temos os porcos Major (o grande sonhador, apresenta a doutrina da liberdade), Bola de Neve (o líder que pregava a igualdade e trazia novidades para que todos se beneficiassem), Napoleão (aquele que viu o que precisava fazer para concentrar o poder) e Guincho (o mestre da propaganda); os cães Petúnia, Lulu e Grude (que fazia de tudo para manter todos unidos e evitar conflitos); os cavalos Guerreiro e Tulipa (que representava o orgulho da classe trabalhadora), e a égua Chica (faceira que preferia continuar tendo donos); a cabra Mabel (que questionava entre os amigos, mas se calava diante dos donos de poder); por fim, o burro Benjamim (o descrente, que acreditava que nenhuma mudança seria possível).

Também vale como nota, que no livro tem poucos personagens humanos, basicamente os fazendeiros, representantes do sistema Capitalista - em especial, Sr. Jones, o dono da fazenda tomada pelos animais.

- A Leitura

Quem passa o olho pelo livro A Fazenda dos Animais, logo tem a impressão de que se trata de uma história infantil, afinal teria como ser diferente já que a história é toda protagonizada por animais? Vencido esse primeiro momento e já nas primeiras linhas da leitura, esse equivoco é logo desfeito e a verdadeira natureza do livro se revela, uma critica sobre os mecanismos do poder e tudo aquilo que leva à falência de grandes ideias e projetos de revolução.

Guiado pela sua experiência de vida e pelo contexto histórico da época em que o livro foi escrito, a Segunda Guerra Mundial, Orwell oferece ao leitor um panorama de como se forma um sistema autoritário e, graças a sua escrita simples e direta, consegue atingir a todas as idades e classes.

Durante a leitura da obra foi impossível não identificar pontos em comum com o atual governo brasileiro - seja pelo uso da propaganda para promover a desinformação e assim continuar controlando as massas; a reverência a bandeira e os feitos dos militares no passado; as regalias que os grupos dominantes esbanjavam, enquanto os mais pobres passavam fome; mudança de leis para atender aos interesses de determinado grupo; ideia de perseguição. Essa identificação me causou tristeza já que em 1945 abominávamos os governos fascistas que se utilizavam desses métodos e hoje contribuímos para eleger políticos tão nefastos quanto.

"O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Ele não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não consegue correr com velocidade suficiente para alcançar um coelho. E no entanto é o senhor de todos animais. Ele nos faz trabalhar, e só nos dá de volta o mínimo que nos impeça de morrer de fome, guardando todo o resto para si próprio. Nosso trabalho lavra a terra, nosso estrume a fertiliza, e no entanto nenhum de nós é dono de outra coisa senão a própria pele..."

A escrita de Orwell merece inúmeros elogios, a escolha dos momentos em que os fatos vão se desenrolando se mostram grandes acertos, tornando a obra dinâmica e com a tensão palpável. Alguns desfechos são emocionantes e é impossível o leitor ficar impassível com as pequenas e grandes conquistas dos animais.

A Fazenda dos Animais é uma obra que se tornou um clássico e sai direto da máquina do tempo para servir como denúncia do período em que vivemos e nos convida a refletir sobre os governos que escolhemos e o preço que estamos dispostos a pagar pela nossa omissão. Leitura imprescindível. 

- A Edição

A Companhia das Letras preparou uma edição super especial para marcar esse grande relançamento da obra de George Orwell. O primeiro destaque é a nova tradução, de Paulo Henriques Britto, que tem uma proposta mais atualizada e renomeia o livro, mudando A Revolução dos Bichos (tradução adotada por muitos anos no Brasil) para A Fazenda dos Animais, título original. Vale ressaltar também o projeto gráfico, com uma capa dura em tecido lindíssima e lombadas que lembram presas animalescas. Além da história, o livro ainda oferece ao leitor  algumas ilustrações, obras da artista brasileira Vânia Mignone; um prefácio escrito pelo próprio autor (adaptado de uma edição ucraniana); um posfácio escrito por Marcelo Pen - um importante critico literário brasileiro; ilustrações sobre as capas que a obra teve pelo mundo, ao longo desses 75 anos de lançada; e diversos ensaios que cobrem a recepção crítica do livro desde o seu lançamento até os dias de hoje, e que merecem ser lidas, uma vez que lançam sobre a obra novos pontos de vistas.

 - Sobre o Autor

George Orwell é um pseudônimo usado pelo escritor Eric Arthur Blair. O escritor, nascido em 25/06/1903 na Índia, teve uma vida cheia de aventuras que serviram como material para seus livros. Fez parte da policia oficial da Birmânia (região da Índia sob domínio da Inglaterra) e lutou na Guerra Civil da Espanha, onde quase morreu após ser baleado na garganta. Terminada a Guerra, terminou sendo perseguido sob a acusação de ser comunista. Assim, se refugiou na Inglaterra, onde resolveu viver uma vida humilde e muitas vezes como andarilho das ruas.

"Vivenciar tudo isso foi uma lição valiosa: ensinou-me como é fácil para a propaganda totalitária controlar a opinião de pessoas educadas em países democráticos."

Eric A. Blair, faleceu em 21/01/1950, aos 46 anos, em decorrência de uma tuberculose pulmonar.

- Curiosidades 

A Fazenda dos Animais foi lançado mundialmente em 1945, e durante a Guerra Fria viu o interesse por ela crescer, pois se acreditava que o livro era uma critica ao Comunismo. Assim, a CIA a traduziu para inúmeros idiomas, chegando ao Brasil em plena ditadura militar, no ano de 1964.

No Brasil, o livro é mais conhecido como A Revolução dos Bichos, título que perdurou por muitas traduções e ainda hoje é o mais utilizado pelas diversas editoras.

domingo, 4 de abril de 2021

Citações | A Tecelã do Céu (Kristen Ciccarelli)

 

  • "Será que podemos mesmo chamar de justiça quando aqueles que controlam o cumprimento das leis são os únicos isentos da sua aplicação?" - 39
  • "... de que adianta uma deusa que não faz nada enquanto seus súditos são massacrados?" - 271

Lidos | Março 2021

Fala, galera! Hoje estou aqui para conversar com vocês sobre minhas leituras de Março. Infelizmente, foi um mês em que eu não estive muito concentrado e terminei diminuindo bastante meu ritmo de leitura. Assim, terminei optando por livros mais tranquilos e com uma história mais leve. A escolha foi por uma fantasia que se passava nas savanas de um reino distante.

Confiram abaixo mais detalhes sobre o livros:

A Caçadora de Dragões (Kristen Ciccarelli, Seguinte)

- Sinopse:

Quando era criança, Asha, a filha do rei de Firgaard, era atormentada por sucessivos pesadelos. Para ajudá-la, a única solução que sua mãe encontrou foi lhe contar histórias antigas, que muitos temiam ser capazes de atrair dragões, os maiores inimigos do reino. Envolvida pelos contos, a pequena Asha acabou despertando Kozu, o mais feroz de todos os dragões, que queimou a cidade e matou milhares de pessoas — um peso que a garota ainda carrega nas costas. Agora, aos dezessete anos, ela se tornou uma caçadora de dragões temida por todos. Quando recebe de seu pai a missão de matar Kozu, Asha vê uma oportunidade de se redimir frente a seu povo. Mas a garota não vai conseguir concluir a tarefa sem antes descobrir a verdade sobre si mesma — e perceber que mesmo as pessoas destinadas à maldade podem mudar o próprio destino.

- Motivos para ler:

A Caçadora de Dragões é um livro que fala sobre como a culpa, a tradição e a ambição podem aprisionar alguém. Também apresenta elementos como relações familiares, amor e redenção. Mas, a principal mensagem da história é a importância do autoconhecimento para que assim possamos alcançar nosso destino.

- Curiosidade:

A obra é o primeiro volume da trilogia Iskari.


A Rainha Aprisionada (Kristen Ciccarelli, Seguinte)

- Sinopse:

No segundo volume da trilogia Iskari, uma nova heroína entra em cena para lutar pela liberdade de seu povo ― e de sua irmã ― em meio a um conflito que apenas começou.

Após os últimos acontecimentos em Firgaard, novos desafios surgem para a realeza. Dax e Roa, se encontrarão em lados opostos de uma decisão que pode trazer a redenção de uma tragédia do passado, e com ela novos conflitos capazes de destruir o reino para sempre.

- Motivos para ler:

Trazendo o luto como um sentimento a ser trabalhado, a autora cria uma história de sensibilidade e força, ampliando o enredo para além dos muros de Firgaard.

Resgatando elementos chave que funcionou anteriormente - como a tradição de um reino e os dragões; Ciccarelli traz um frescor a obra, ao nos apresentar as savanas e todo o misticismo que faz da trilogia Iskari, uma narrativa apaixonante e cheia de aventuras.