Em 2015 a editora Intrínseca nos aterrorizou
com o livro Caixa de Pássaros, do escritor Josh Malerman, no qual criaturas
misteriosas fazem as pessoas enlouquecerem e passem a cometer assassinatos,
seguido de suicídio. Após uma adaptação para a Netflix, estrelada pela
maravilhosa Sandra Bullock, e milhões de fãs, eis que somos presenteados com a
aguardada continuação, chamada Malorie.
Nesta esperada sequência, voltamos a acompanhar
a jornada de sobrevivência de Malorie e seus dois filhos (Tom e Olympia).
Depois de anos em um abrigo e seguindo as regras que os mantiveram vivos por
tantos anos, um novo acontecimento fará com que nossa protagonista tome uma
importante decisão, que pode significar um recomeço com a esperança renovada ou
condená-los a um trágico fim.
Para aqueles que gostam das coisas explicadas e
esperam respostas para suas perguntas, corram de Malorie. Afinal, a preocupação
do autor não é com as criaturas, mas sim com a nossa protagonista e seus
filhos. Ao longo da leitura, vamos acompanhando como as pessoas do velho mundo
precisaram se adaptar a nova realidade e em como os nascidos nesse caos, já não
temem tanto as criaturas e se sentem confiantes em realizar alguns experimentos
- essa dicotomia entre o velho e o novo é o ponto alto do livro e permite
muitas reflexões.
Será que ela não entende que você pode passar a vida inteira de olhos vendados, mas com isso só está perpetuando a mentira de que não pode ver?
Gosto de pensar que as criaturas misteriosas da
obra, servem como uma analogia aos medos que os pais nutrem pelos filhos
estarem no mundo exterior. Se em casa, é possível protegê-los de todo tipo de
sorte, quando eles estão crescidos precisam buscar seu próprio lugar, seja
através de amizades e aprendizagens da escola; seja por meio de um emprego,
neste mundo tão competitivo. Esse conflito de interesses/temor é muito realçado
no comportamento de Malorie em querer dizer como os filhos devem se comportar
sob alegação de que isso os manterão vivos, enquanto que Olympia e Tom, buscam
uma independência, cometendo pequenas infrações e se tornando cada vez mais
questionadores. Também é interessante a consciência de Malorie que ela comete
excessos e erros enquanto mãe e ilustra isso nos autoquestionamentos que faz ou
em flashbacks nos quais lembra de momentos bons e "ruins" que teve ao
lado dos pais. Convém pontuar, também, que o
excesso de zelo de Malorie, faz com que a leitura, em alguns momentos, seja
maçante. O que pode gerar certa insatisfação em muitos leitores.
Além das relações familiares, outros assuntos
que precisamos ficar atentos são a adaptação frente a adversidade, os limites
da mente humana, as relações sociais em um mundo despedaçado e a aceitação do
diferente.
Malorie é um livro que se aproveita dos
melhores momentos do seu antecessor para trazer uma história sólida e se
aprofundar na complexidade dos seus personagens principais. O mistério, a paranóia
e a brutalidade continuam presentes, agora juntamente com a possibilidade de
ter esperanças - elementos que vão agradar tantos aos fãs antigos, quanto
àqueles que ainda não conheciam essa disposta do Malerman.