“A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento.” (Kundera)
As tecnologias sempre foram
um marco da evolução humana. Quando bem utilizadas fomos capazes de ver o
florescer de sociedades e a harmonia entre os povos. Contudo, quando elas foram
empregadas com intenções egoístas e manipuladoras, vimos à derrocada de países
e de povos, que sucumbiram a atrocidades e a dominação estrangeira.
Atualmente, temos
acompanhado como a propagação de fake News tem sido usada como instrumento de
manipulação política – a exemplo do Brasil, com a eleição de Bolsonaro; dos
Estados Unidos, com a eleição de Trump; do Brexit da Grã-Bretanha; e da Guerra
da Ucrânia, causada pela invasão russa. Fatos estes que poderiam ser evitados,
se as redes sociais não fossem utilizadas como instrumento de guerra.
Tal alerta foi feito pela
jornalista investigativa e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Ressa. Em
seu livro Como Enfrentar um Ditador: A Luta Pelo Nosso Futuro, lançado no
Brasil pela editora Companhia das Letras, a autora traz um relato
impressionante sobre os diversos atentados que as Democracias têm sofrido, e
qual a contribuição das redes sociais – como o Facebook e o Youtube, nesses
eventos.
Maria Ressa |
“Como decidir por que lutar? Às vezes, a escolha não é nossa. Encontramos a razão de nossa luta em decorrência de todas as escolhas que fizemos até aquele ponto. Com sorte, não demoramos a entender que cada decisão que tomamos responde à pergunta com a qual todos nos defrontamos: como dar sentido à nossa vida? Um propósito não é algo que se encontre a cada esquina ou que se peça de presente. Nós o construímos por meio das escolhas que fazemos, dos compromissos que assumimos, das pessoas que amamos, dos valores que prezamos.”
A leitura do Como Enfrentar
um ditador é muito dinâmica e realista, com inúmeros dados que dão
credibilidade e didática ao que está sendo narrado, chegando a ser profética –
já que muito do que foi alertado terminou acontecendo, com o passar dos anos. Ao
compartilhar suas memórias, Ressa faz do leitor um protagonista, afinal estamos
sempre a acompanhando na linha de frente nesta guerra digital, e nos mantendo
muito bem informados sobre tudo que está acontecendo no momento e esse é um
grande acerto da autora, já que conseguimos fazer as associações necessárias e
conseguimos ver o tema narrado como um todo – com todas as suas ramificações.
Outro ponto alto da narrativa
é a franqueza e transparência em trazer os acontecimentos in loco. Assim, o
leitor consegue analisar as ocorrências e traçar um perfil próprio dos fatos e
das pessoas envolvidas nas ações.
“Quando assumimos um risco, precisamos acreditar que alguém virá em nosso auxílio; e, quando for a nossa vez, estaremos prontos para ajudar outra pessoa. É melhor encarar nosso medo do que fugir dele, porque fugir não vai fazer o medo desaparecer. Quando a gente encara o medo, tem a chance de vencê-lo. Foi assim que comecei a definir a coragem.”
A riqueza de detalhes da
obra, associada a temática – jornalismo/comunicação e tecnologia, pode afastar
alguns leitores que não tem o hábito de ler biografias e preferem leituras mais
fictícias.
Como enfrentar um ditador é
o grito urgente que além de denunciar como grandes empresas de comunicação incentivam
mentiras e disseminam o ódio através das redes sociais; também é um chamado
para que nos unirmos à luta por nossa liberdade. Afinal, o que você está
disposto a sacrificar pela verdade?
“Só porque os outros cedem não significa que você também tenha que ceder. Só porque outros se calam não significa que você também tenha que se calar.”
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