segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Resenha | A Vida Nunca Mais Será a Mesma (Adriana Negreiros)

A história da formação das sociedades humanas, sempre foi marcada pela violência e por imposição de um grupo sobre outro, características de relações marcadas pela busca de controle e de poder. Entre os grupos que, historicamente, sofrem com todo tipo de agressão e lutam para terem seus direitos assegurados estão as mulheres.

As mulheres, em variados momentos da história, quase sempre tiveram seus direitos e vontades negadas e por viverem numa sociedade patriarcal, na qual o machismo se faz presente, eram vistas como simples mercadorias/ enfeites.

Ainda hoje, apesar de todos os avanços, continua sendo comum vermos crimes contra as mulheres – assassinatos, violências sexuais, abusos psicológicos, entre outros. É neste contexto que a autora Adriana Negreiros, lança o seu livro A Vida Nunca Mais Será a Mesma, pela editora Objetiva.

A autora mostra grande coragem ao revisitar um dos momentos mais trágicos de sua vida, quando sofreu um estupro, e a partir disso discute os avanços legislativos/judiciários do combate a violência contra as mulheres no Brasil e no mundo. Também vale destacar a sensibilidade da escritora em dar voz a outras mulheres que também sofreram com uma série de violências, o que contribui para tornar o livro ainda mais enriquecedor e importante no trato da temática.

Em um estupro, quando a mulher é submissa e faz tudo o que o estuprador manda, na verdade ela está lutando com ferocidade. Porque sabe, de forma intuitiva, que lutar contra o pavor, o nojo, a dor e a humilhação é talvez a única maneira de escapar da morte, e o medo de morrer se impõe a todos os outros. Não lutar corporalmente e, em vez disso, ceder, ser até simpática e cordial com o bandido pode parecer um comportamento covarde e complacente, mas no fundo é um ato de valentia.

A leitura da obra A Vida Nunca Mais Será a Mesma é muito difícil, pelos inúmeros gatilhos e pela brutalidade de alguns relatos, o que provoca no leitor um sentimento de revolta, repulsa e pesar. É possível perceber o importante trabalho jornalístico feito pela autora, que além de apontar dados estatísticos sobre a questão da violência no Brasil e destacar os avanços que os grupos que lutam contra a violência à mulher têm conseguido no âmbito jurídico – uma destas conquistas foi a criação das Delegacias para Mulheres, em 1985.  Também consegue dar voz a algumas sobreviventes desses crimes, mostrando a importância e o protagonismos delas nessas conquistas e no resgate de novas vítimas.

A violência contra a mulher continua sendo um grave problema da sociedade, com índices altíssimos de feminicídio – termo usado pela primeira vez em 1976, durante o Tribunal Internacional de Crimes contra as mulheres, pela socióloga Diana Russel. Assim, a literatura se torna uma importante aliada para o combate desse problema, pois é através da informação que a população poderá se conscientizar e buscar apoio cada vez mais cedo – seja de segurança, ou psicológico.

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