As relações familiares quando saudáveis permitem que o sujeito se desenvolva e alcance todo seu potencial; quando tóxicas, elas destroem a autoconfiança e faz com que o indivíduo se sinta perdido e medroso diante da vida.
O livro Enquanto o Dia Não Vem, lançado pela editora Urutau, é o romance
de estreia da autora baiana Catharina Azevedo, e narra, de maneira magistral,
como as relações familiares impactam na vida de uma jovem mulher.
Narrado em primeira pessoa, pelo olhar de Estela, uma das três filhas de
Esther, acompanhamos como ela se sente solitária e se afoga numa culpa por algo
que aconteceu no passado. Estela é uma personagem profunda, e a todo o momento
nos oferece reflexões profundas sobre o que é se tornar mulher em um mundo de
ausências, além de outros pensamentos acerca da vida e do ambiente em que vive.
É interessante acompanhar como nossa personagem vai se reconstruindo, a partir
das experiências que vivência e dos anseios que esconde.
"Por que é sempre tão difícil amar a nós mesmos, entender a nós mesmos?"
Com escolhas acertadas entre o tom e o ritmo, chama atenção a qualidade
da escrita da autora. A Catharina sabe o que quer dizer, e com suas palavras
firmes, ela conduz o leitor por uma narrativa pesada, mas que é impossível de
largar. Outro ponto alto é o cenário. As
ruas de Salvador oferecem os escapes perfeitos para a nossa protagonista e
tanto a casa em que vive, quanto à loja em que trabalha evocam no leitor, os
sentimentos que tomam conta dos personagens.
Enquanto o dia não vem é um romance poderoso, de uma jovem escritora que
sabe traduzir em palavras, todos os sentimentos que o mundo nos desperta. É uma
história sobre as porradas que a vida nos dá e como reagimos a elas, e ainda, como,
por vezes, precisamos romper com as coisas que conhecemos, se quisermos
descobrir nossos próprios desejos.
# o livro possui gatilhos de violência sexual e automutilação
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