* Por Beatriz Barbosa
Amanda Souza é uma jovem
psicóloga, de apenas 22 anos, que escreveu o livro Digna de Ser Amada, no qual
aborda sua própria experiência a respeito de como trava o próprio corpo. A obra
lançada pela editora Vecchio é uma leitura necessária e muito coerente. Nos
leva a refletir como temos aprendido a lidar com as críticas e cobranças
externas e como isso impacta na forma agressiva como nos relacionamos com nosso
corpo e consequentemente nossa imagem.
“Enxergar a mim mesma de um modo tão negativo e inferior só reforçou meus pensamentos de inadequação, falta de valor e fracasso. Tornou-me ainda mais insegura, descrente de mim e cada vez mais dependente de balizas exteriores para assentar os autojulgamentos que fazia.”
A autora relata o quão difícil
foi crescer em meio a comparações e palpites de como o corpo dela deveria
ficar, o quanto não deveria engordar pois ficaria feia. Inúmeros comentários
que a fazia se cobrar e ser cada vez mais exigente com o seu biótipo físico –
desenvolvendo assim, transtornos e comportamentos nada saudáveis.
“Assim como muitas garotas, passei boa parte da adolescência/juventude contando calorias e me flagrando inúmeras vezes ajoelhada em frente à privada para vomitar a comida de propósito (...) É uma cena feia e triste, e os sentimentos conseguem ser ainda pior. Uma sensação de desgaste, cansaço, fracasso e ruína (...)”
Amanda ainda acrescenta de forma
muito sincera e contundente que
“Eu morro de vergonha de assumir que sempre fui muito boa em me machucar. Não foram apenas vômitos provocados. Minha aversão a mim mesma, a maneira como eu fazia questão de me diminuir e inferiorizar e as crenças autodestrutivas me levaram a relacionamentos nocivos, automutilação, hábitos prejudiciais à saúde, comportamentos de riscos. Era uma tendência à auto agressividade descabida e imerecida (...)”
Durante as últimas décadas o
padrão de beleza veio ganhando muita força. Com a nova era digital, com
inúmeros efeitos modificadores de imagem, o teor de exigência por uma imagem
perfeita vem ganhando cada vez mais espaço e as consequências são altíssimas. Contudo,
na realidade não existe corpo padrão, não é possível exigir que em um universo
com inúmeros formatos de corpo e rosto, um padrão seja seguido. Assim, cada vez
menos preocupados com a saúde, vamos vendo mulheres e homens adoecendo na
tentativa de se encaixar e na busca de viver no conforto do autojulgamento.
“O padrão de beleza, ao demarcar a magreza como ideal a ser seguido, faz com que uma quantidade imensa de pessoas fique automaticamente no time dos inadequados. Uma quantidade imensa de pessoas não compõe o esperado e geram lucros estratosféricos na tentativa de se fazer encaixar.”
A obra traz alguns trechos sobre
as inúmeras dietas que a autora fazia, sem nenhum acompanhamento profissional,
colocando em risco a própria saúde na tentativa de não engordar e/ou perder
alguns quilos, mesmo não sendo “gorda” – tudo pela tentativa de atingir uma
estrutura corporal que não a pertencia.
As consequências eram frustração, sofrimento, sentimento de fracasso, compulsão,
baixa autoestima.
“Desafios alimentares se propagam aos montes na internet sugerindo que por 20 ou 30 dias se siga um cardápio e um projeto de exercício físicos e específicos. Então, ingenuamente nos torturamos com esse breve período, levando nosso corpo a um turbilhão de desajustes metabólicos e orgânicos, e, após o processo voltamos o nosso ritmo normal de funcionamento e ingestão alimentar. E engordamos tudo de novo.”
Começamos a partir desse ponto
acreditar que existe alimentos milagrosos e demoníacos. Vivemos uma relação
conturbada com a comida.
Já na busca por uma reabilitação
e práticas mais saudáveis, a escritora menciona sobre o importante trabalho do
nutricionista e o quanto esse profissional está cientificamente embasado para
cuidar e tratar.
“Preciso ressaltar que o trabalho da nutrição é inegavelmente importante e as prescrições de dietas feitas a partir de embasamento cientifico são muito diferentes daquilo que vemos no Dr. Google, e que o acompanhamento profissional e responsável é, com certeza capaz de promover resultados satisfatórios, duradouros e transformadores na vida das pessoas por meio de prevenção, promoção e recuperação da saúde. Por isso todo meu respeito aos nutricionistas e seus honrosos trabalhos.”
Assim como a Amanda Sousa que apesar
de ter apenas 22 anos quando escreveu esse livro, de forma corajosa compartilha
suas experiências conosco, também temos a necessidade de parar e refletir. Como
estamos cuidado de nós nesse momento? Como está sendo a nossa relação com o corpo
e a imagem? O caminho não é fácil, mas podemos buscar ajuda através de terapia,
nutricionistas, livros sobre o assunto, entre outras ações; que nos tornarão
pessoas mais conscientes e saudáveis. Nunca é tarde para voltar para casa.
“Me desculpe por tamanha dificuldade em me sentir satisfeita com seu formato, tamanho e dimensão. Desculpe ser tão agressiva. Tão violenta. Tão negligente. Desculpa te machucar tanto. Desculpa ter feito você cicatrizar feridas que causei de propósito. Desculpa te fazer vomitar comida(...) Quero muito voltar para casa.”
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