terça-feira, 7 de abril de 2020

Resenha | Tempo de Esperas - O Itinerário do Florescer Humano (Pe. Fábio de Melo)


Nós estamos vivendo um tempo de (re)descobertas. Confinados em nossas casas, somos convidados a nos visitarmos a todo instante e assim avaliarmos como nossas relações e escolhas têm contribuído para o nosso crescimento.
Cuidado para você não se ocupar demais com a busca de resultados. Nem sempre o produto final é o mais importante. Por vezes a riqueza se esconde é no processo das descobertas. O resultado é quase nada perto das oportunidades que o processo nos entrega.

Esse processo de amadurecimento passa a surgir quando somos impedidos de continuar  a rotina apressada em que vivemos e a busca incessante por uma realização que sempre acreditamos estar lá fora. Desta forma, na simplicidade do nosso lar, nos voltamos para nosso interior e nos percebemos como estranhos. Estranhos de nós mesmos, estranhos para a família, estranhos para os amigos, estranhos para os amores, estranhos para a vida. E nesse estranhamento, o que sobra é a questão do agora?

Para nos ajudar a começar a descobrir um caminho para essa pergunta, o Pe. Fábio de Melo, nos presenteia com o livro Tempo de Esperas - O Itinerário de um Florescer Humano. Lançado pela editora Planeta, a trama apresenta uma troca de correspondência entre o jovem Alfredo e o experiente Abner. O diálogo que começa por conta do coração partido de Alfredo, logo ganha uma verdadeira lição sobre a vida, com reflexões que perpassam por temas como amor, família, luto, amizade, religião, trabalho e natureza.


Há sempre um perigo no amor que tem utilidade. Enquanto o outro exerce alguma função na nossa vida, corremos o risco de não experimentar o amor gratuito... Amor que se fundamenta na utilidade que o outro tem corre o risco de se transformar em abandono num futuro próximo.

O livro do Pe. Fábio de Melo, num primeiro momento, pode enganar por acharmos que se trata exclusivamente de um romance - afinal é uma desilusão amorosa que motiva a troca de cartas. Contudo, essa é apenas uma parcela do que a obra tem a ensinar, se tornando em muitos momentos um ensaio filosófico, voltado a autodescoberta.
O que gostamos no outro é o que sobra do nosso encontro. É o que derrama, o que não coube nos dois. O contrário também é verdadeiro. O que não suportamos no outro é justamente o que resultou do encontro. Juntos nós extraímos o que temos de pior. Com isso nos rechaçamos. A sobra não nos deixa felizes, porque não nos realiza. Ai dizemos que temos antipatia, porque a terceira pessoa gerada é desagradável aos nossos olhos.

A linguagem que o autor utiliza, gera uma certa estranheza de início, por ser mais coloquial, com termos da filosofia e com uma grande densidade de conteúdos. Entretanto, vencidas as apresentações, o leitor logo se ver fisgado pela profundidade do que é dito e as infinitas possibilidades que o livro oferece de aprendizado - por isso até, a obra é para ser lida inúmeras vezes, com a segurança de que será como se fosse a primeira vez e outras descobertas serão feitas. 
Mergulho nos livros porque neles eu sei que está a chave do mundo novo que tanto anseio conquistar."

Numa semana tão cheia de significados, como esta dita Santa, somos convidados pelo Pe. Fábio de Melo, através do seu livro Tempo de Esperas, a ressuscitarmos para aquilo que nos torna inteiros, a simplicidade que faz com que nossas chegadas atinjam os corações daqueles que amamos. 

Sinopse:

Dois personagens, Abner e Alfredo. De um lado, um velho professor que resolveu refugiar-se em uma vida simples, abandonando todas as glórias da vida acadêmica, e, de outro, um jovem estudante de filosofia, cujo sonho é alcançar o que o professor resolveu abandonar. Mas o motivo que gera o encontro é uma desilusão amorosa. Alfredo foi abandonado por Clara, a mulher de sua vida. Na tentativa de compreender a sua dor, ele solicita que o professor o auxilie a reencontrar o equilíbrio perdido. É a partir desse pedido que nasce uma instigante troca de correspondência. O tema inicial se desdobra em muitas outras questões humanas.
Enquanto discutem filosofia, amor, amizade e felicidade, Alfredo e Abner descobrem que muito mais que estarem em lados opostos do desejo, como se fossem o passado e o futuro de uma mesma existência, eles estão diante do desafio humano que nunca cessa: compreender o tempo das esperas.

Citações | Tempo de Esperas - O Itinerário do Florescer Humano (Pe. Fábio de Melo)



  • "Mergulho nos livros porque neles eu sei que está a chave do mundo novo que tanto anseio conquistar." - 11
  • "Os fantasmas só deixam de nos assombrar no dia em que fixamos neles os nossos olhos. Os fantasmas sobrevivem é do nosso medo. Somos nós que os alimentamos." - 33
  • "A raiva nos retira a capacidade de analisar as palavras que nos desafiam. Manter a calma pode nos ajudar a compreender melhor o porquê do desconforto." - 40
  • "Há sempre um perigo no amor que tem utilidade. Enquanto o outro exerce alguma função na nossa vida, corremos o risco de não experimentar o amor gratuito... Amor que se fundamenta na utilidade que o outro tem corre o risco de se transformar em abandono num futuro próximo." - 43
  • "Cuidado para você não se ocupar demais com a busca de resultados. Nem sempre o produto final é o mais importante. Por vezes a riqueza se esconde é no processo das descobertas. O resultado é quase nada perto das oportunidades que o processo nos entrega." - 60
  • "A dor tem o poder de neutralizar iniciativas. Estou apático, incapacitado de procurar sonhos que possam me fazer recomeçar." - 67
  • "A amizade é um encontro de almas que se reverenciam." - 75
  • "A mais nociva solidão é a que nos ausenta de nós mesmos." - 85
  • "Nós nos transformamos no que guardamos." - 101
  • "O que gostamos no outro é o que sobra do nosso encontro. É o que derrama, o que não coube nos dois. O contrário também é verdadeiro. O que não suportamos no outro é justamente o que resultou do encontro. Juntos nós extraímos o que temos de pior. Com isso nos rechaçamos. A sobra não nos deixa felizes, porque não nos realiza. Ai dizemos que temos antipatia, porque a terceira pessoa gerada é desagradável aos nossos olhos." - 110
  • "Dor que dói para redimir é dor que vale a pena." - 143

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Citações | Herança (Christopher Paolini)



  • "É impossível passar pela vida incólume. E nem você deveria querer isso. Pelas feridas que acumulamos, medimos tanto nossas loucuras quanto nossas conquistas." - 330
  • "... ensine-os a não ter medo. O medo é bom em pequenas quantidades, mas, quando é um companheiro constante e imperioso, afasta-o de quem você é e torna difícil fazer o que você sabe que é correto." - 680
  • "Nós nem sempre podemos fazer o que gostamos. Por vezes temos de fazer o que é correto, não o que queremos." - 695
  • "Os deuses também nos dão a oportunidade de ver de novo aqueles que amamos." - 743

sexta-feira, 20 de março de 2020

Resenha | Reze pelas Mulheres Roubadas – Jennifer Clement



A história de formação das sociedades humanas sempre foram marcadas por inúmeros casos de violência. Os grupos menos favorecidos - ditos minorias - e, principalmente, as mulheres, sofrem de forma sistemática com esses atos, tendo seus direitos negados e, até mesmo, suas vidas ceifadas.

Neste contexto de violência, as mulheres sempre se levantaram e foram a luta - buscando condições melhores de vida. Assim, um episódio que teve bastante destaque ocorreu em Nova York, no dia 8 de março de 1857, quando 129 operárias morreram carbonizadas em um incêndio criminoso, causado no intuito de pôr fim as greves protagonizadas por essas mulheres. Algumas décadas depois, a ONU (Organizações das Nações Unidas) oficializou o dia 8 de março, como o dia internacional da mulher - data que simboliza a luta histórica de todas as mulheres por condições melhores de vida, por emancipação e contra a violência.

No universo literário há inúmeras obras que possuem personagens femininas fortes e que além de denunciarem situações de violência e vulnerabilidade social, também apresentam estratégias para superar esse difícil contexto. Um dos livros com esta temática e que merece destaque é o Reze Pelas Mulheres Roubadas, da escritora Jennifer Clement, lançado no Brasil pela editora Rocco.

Reze pelas Mulheres Roubadas traz uma história fictícia para denunciar acontecimentos reais que vem acontecendo em muitas cidades do México, o rapto de mulheres pelos homens do narcotráfico. Na trama somos apresentados à Ladydi Garcia Martinez, nossa personagem narradora, que nos conta como é ser mulher na cidade de Guerrero, através de sua rotina e de suas amigas - Maria, Paula e Estefani.

Jennifer Clement divide seu livro em 3 partes. A primeira, retrata a "infância" das personagens e logo ficamos chocados ao descobrir que para manter suas filhas a salvo, as mães tem como estratégias fazer cortes de cabelo masculinos, sujar os dentes e cavar buracos na terra para que suas filhas se escondam.
"Eu tenho que fazer com que as meninas pareçam ser meninos, tenho que deixar as meninas mais velhas com uma aparência bem simples, tenho que fazer com que meninas bonitas pareçam feias. Este é um salão de feiura, não um salão de beleza..."
A segunda parte nos faz acreditar que a vida de Ladydi será melhor, afinal ela consegue um emprego em Acapulco, um das principais cidades mexicanas. Na última parte, podemos acompanhar as consequências da estada de Ladydi no trabalho e em como a sociedade mexicana foi construída para manter as coisas como são, ao menos que se tente a sorte atravessando a fronteira.

Ler o livro da Clement foi uma experiência nova, afinal foi minha primeira oportunidade para conhecer uma escritora mexicana. A história é carregada de cenas fortes que beiram o absurdo, em muitos momentos a gente passa a se questionar como os homens podem ser tão cruéis, a ponto de fazerem tanta maldade com meninas, que mal chegaram a adolescência.
"Naquele momento, ... apareceu atrás da mãe. Ela parecia uma criatura branca e etérea. Segurava uma mamadeira em uma das mãos. E estava nua. No escuro, sob um rio de luar, pude ver os mamilos dos seus seios, o cabelo preto entre as pernas e a constelação de queimaduras de cigarro por todo o seu corpo. Pude ver as estrelas feitas de queimaduras de cigarro formando Orion e Taurus. Até seus pés estavam cobertos de queimaduras de cigarro... tinha atravessado a Via láctea e cada estrela tinha queimado seu corpo."
Também há passagens cômicas, que servem para que a gente possa respirar em meio a tanta dor. E ainda, no decorrer das páginas, somos surpreendidos a todo momento, com os atos de bondade e de resiliência que as nossas personagens encontram umas nas outras e em lugares mais inesperados - como num buraco cheio de escorpião extremamente venenosos.
"Nenhum daqueles homens .... quer se casar comigo... Eu não quero um homem, na verdade. Quero um bebê. Quero alguém para amar."
Em um momento em que a violência contra as mulheres tem sido cada vez mais noticiadas e denunciadas, Reze pelas Mulheres Roubadas é um livro extremamente necessário e atual, porque dá voz a personagens que nasceram num mundo construído para que elas fossem silenciadas e esquecidas. A obra é uma leitura indispensável.

Ps: A obra possui uma capa incrível feita pela Duat Design.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Citações | Brisingr (Christopher Paolini)



  • "... a verdadeira agonia da guerra não é você se ferir, mas sim ser obrigada a ver aqueles que você mais gosta se ferirem." - 192
  • "Nessa época, eu podia cantar e dançar e não me sentir ameaçada por uma sensação de morte... - As histórias sobre os heróis do passado nunca mencionam que esse é o preço por enfrentar os monstros da escuridão e os monstros da mente..." - 194
  • "Um rei não se mantém rei por muito tempo a menos que aprecie o valor do silêncio." - 228
  • "Livros deveriam estar onde vão ser mais apreciados e não permanecer onde jamais serão lidos..." - 275
  • "Às vezes, é mais difícil obedecer do que liderar." - 347
  • "O amor pode ser uma terrível maldição. Pode fazê-lo não notar até mesmo as piores falhas no comportamento de uma pessoa..." - 575
  • "Uma pessoa deve adquirir os conhecimentos... Eles não devem lhe ser introjetados por outros, independentemente de quão importantes essas pessoas possam ser para você." - 596

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Resenha | O Rosto Que Precede o Sonho – Mauricio Gomyde


Existem duas formas de viver a vida. A primeira é acreditando que tudo que nos acontece faz parte de algo maior, de algo mágico e que cada pequeno detalhe é importante por nos tornar melhores. A outra, é acreditar que o mundo é um amontoado de eventos aleatórios que a gente vive reagindo a eles. Para Maurício Gomyde a escolha é clara e ele nos mostra isso com seu livro, O Rosto Que Precede o Sonho.
Mauricio Gomyde
Lançado pela editora Porto 71, O Rosto Que Precede o Sonho traz a história de Tomas Ventura, um jovem solitário que se culpa pela morte dos pais. Tentando encontrar algo que faça sentido em sua vida, tem um encontro casual com a bela Aurora e passa a viver dentro de um sonho, que guarda as grandes respostas da sua existência.
“… o homem precisa ser um pouco louco, senão ele nunca vai ousar se soltar e ser livre.”
A leitura da obra é deliciosa. Com uma trama simples, porém com diálogos que nos fazem pensar bastante sobre nossa forma de viver, logo somos arrebatados para a história dos personagens principais. Tomas é um grande compositor e por isso o livro é repleto de canções (não deixem de ouvir as músicas que são citadas no livro), o que torna ainda mais marcante as cenas que vamos acompanhando. Já Aurora é uma jovem fotógrafa que viaja pelo mundo, o que nos revela a importância das pequenas coisas e belezas do mundo, as quais nos desconectamos cada vez mais com esse modo de viver louco e corrido que nos colocamos. Os outros personagens, mesmo sendo coadjuvantes, são importantes por serem aqueles poucos amigos que conquistamos ao longo da nossa jornada e que nos apoiam tanto nos momentos leves, quanto naqueles que nos sentimentos mais solitários.

“Somos fruto das nossas escolhas, e o que se apresenta aqui é resultado de cada decisão que tomei ao longo da minha trajetória.”
O Rosto que Precede o Sonho vai agradar em cheio aos fãs mais fervorosos de Nicholas Sparks. Maurício Gomyde nos entrega uma obra linda e muito sensível, que vai aquecer os corações dos leitores e fazer chorar até os mais insensíveis.

Um livro sobre o amor e como ele é a resposta que dá sentido para a vida.

“Não passe a vida esperando por seu grande amor. A hora sempre chega. Quando você menos imaginar, lá estará ele exatamente dentro de seus próprios olhos.”
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Sinopse:

Os sinais que ele não percebeu, no dia do acidente, poderiam ter evitado que seus pais entrassem naquele avião. Tempos depois, algo inesperado mudou o rumo das coisas, e ele, então, passou a esperar o dia em que os sinais voltariam…
Tomas Ventura levava uma vida quase perfeita, cercado por tudo que sempre quis: um violão, um telescópio, muitos discos bons, amigos, um emprego de sonhos e uma casa que flutuava.
Mas no dia em que recebeu a proposta de trabalho da sua vida, o convite para participar da trilha sonora de um grande filme de Hollywood, ele decidiu dizer “não”.
Até que dois sinais, os olhos cor de mel daquela menina, mostraram-lhe que ainda havia motivos para seguir em frente…