"A queda dos justos é sempre obra daqueles que mais lhe devem. Não traímos quem quer nos afundar, e sim quem nos estende a mão.” – 52
“... um homem deve caminhar enquanto ainda tem pernas, falar enquanto ainda tem voz e sonhar enquanto ainda conserva a inocência, porque, mais cedo ou mais tarde, não poderá mais ficar em pé, não terá mais fôlego e não perseguirá sonho algum além da noite eterna do esquecimento.” – 89
“As aparências nem sempre enganam, mas quase sempre atordoam.” - 102
sexta-feira, 7 de janeiro de 2022
Citações | A Cidade de Vapor - Contos Reunidos (Carlos Ruiz Zafón)
domingo, 2 de janeiro de 2022
Lidos | Dezembro 2021
Fala, pessoal! Feliz ano novo para todos vocês. Antes de iniciar as novas leituras do ano, trago para vocês minhas últimas leituras de 2021. E já vou adiantando que foram excelentes.
Vamos a elas:
As
Desolações do Recanto do Demônio (Ransom Riggs, Intrínseca)
- Sinopse:
No sexto e último livro da
série, As desolações do Recanto do Demônio, Jacob e Noor estão de volta ao
lugar onde tudo começou: a casa de seu avô. Os dois não fazem ideia de como
escaparam da fenda de V. e foram parar na Flórida, mas de uma coisa têm certeza:
Caul ressuscitou do mundo dos mortos. Após fugirem de um etéreo sedento por
sangue, eles vão ao encontro da srta. Peregrine e dos amigos no Recanto do
Demônio. O lugar tem sido assolado por pragas inimagináveis, desolações na
forma de chuvas de cinzas, sangue e ossos, uma demonstração assustadora da
força do exército maldito que Caul, mais perigoso do que nunca, vem reunindo
para destruir de vez os peculiares. O apocalipse se aproxima, e só os sete
peculiares citados na profecia podem impedi-lo. O problema é que, além de Noor,
não se sabe quem são os outros seis e muito menos onde encontrá-los. Agora, os
peculiares e as ymbrynes precisam correr contra o tempo, decifrar pistas
enigmáticas e garantir que a menina chegue em segurança a um lugar misterioso,
onde se reunirá com os outros escolhidos. Na conclusão épica e emocionante da
série O lar da srta. Peregrine para crianças peculiares, o futuro está em
risco, e Jacob e seus amigos precisarão se unir para atravessar uma das fendas
temporais mais sombrias da história e enfrentar o poder avassalador de seu
maior inimigo.
- Motivos para ler:
O desfecho da série O lar da
Sta. Peregrine é repleto de ação e de suspense. Praticamente todas as pontas
soltas são resolvidas e além de vermos o quanto nossos protagonistas
amadureceram, as lições e os sentimentos que unem esse grupo tão diversificado,
deixa um grande exemplo para todos nós – leitores no mundo real.
Cartas
Para Minha Vó (Djamila Ribeiro, Companhia das Letras)
- Sinopse:
No mais pessoal e delicado de
seus livros, a filósofa Djamila Ribeiro revisita sua infância e adolescência
para discutir temas como ancestralidade negra e os desafios de criar filhos
numa sociedade racista. O relato se dá na forma de cartas a sua saudosa avó
Antônia – carinhosa e amorosa, conhecedora de ervas curativas e benzedeira
muito requisitada.
A cumplicidade que sempre houve entre avó e neta é o que permite que a autora rememore episódios difíceis, como a perda do pai e da mãe, as agressões que sofreu como mulher negra no Brasil e os desafios para integrar a vida acadêmica. Djamila também fala de relacionamentos amorosos e experiências profissionais, das músicas, das leituras e das amizades que a acompanharam em sua construção pessoal – e da percepção paulatina de que a memória das lutas e das conquistas das pessoas negras que vieram antes de nós é a força que nos permite seguir adiante.
- Motivos para ler:
Cartas para minha vó é um
convite para entrarmos na vida de uma das pessoas mais notáveis da atual
geração. Com uma escrita emotiva e sensível, a Djamila nos mostra como sua
criação já tinha elementos do feminismo e do antirracismo. É uma biografia muito
importante que nos serve como guia nesse mundo tão plural e ainda desigual,
quanto o nosso.
domingo, 26 de dezembro de 2021
Resenha | Cartas Para a Minha Avó (Djamila Ribeiro)
Para muitos de nós, a avó é a
figura que personifica o amor. É ela quem acolhe, nos defende, nos mima e acima
de tudo, compartilha conosco uma cumplicidade que é difícil de explicar. Pela
intensidade dos nossos sentimentos em relação as vós, terminamos acreditando
que o tempo se torna infinito e as despedidas, nem sempre são possíveis e/ou
suficientes para quem fica.
Dentro desse contexto, Djamila
Ribeiro abre seu coração no livro Cartas para Minha Avó e de forma muito emocionante,
narra suas memórias, dúvidas, anseios, fragilidades e reflexões, para sua avó,
D. Antônia.
“Essa imagem de mulher negra forte é muito cruel. As pessoas esquecem de que não somos naturalmente fortes. Precisamos ser porque o Estado e a iniciativa privada são omissos e violentos. Restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana. Somos subalternizadas ou somos deusas. E pergunto: quando seremos humanas?”
Lançado pela Editora Companhia
das Letras, Djamila Ribeiro nos apresenta a história da família narrando desde
sua infância até a atualidade, quando já é uma das intelectuais mais
reconhecidas do Brasil. Ao longo da narrativa, surgem reflexões sobre temas
como racismo, ancestralidade, masculinidade tóxica, entre outros.
A leitura da obra é muito fluída
e a todo momento nos sentimos que estamos é uma conversa entre amigos. A escrita
mostra a coragem de quem atingiu a maturidade que a vida traz e a sabedoria de
quem soube acolher tanto as dores quanto as alegrias da própria história, para
que pudesse crescer.
Diferente de muitas biografias
que vemos no mercado, Cartas para a minha vó vem carregada de reflexões sobre
os mais variados assuntos. O racismo é debatido e aparece em muitos momentos na
vida da autora, assim como a importância da representatividade e a necessidade
de rever as práticas educativas e as mídias como forma de combater essa cultura
criminosa.
“Preparar para a vida, quando se trata de uma criança negra, é ser brutalizada o bastante para aprender a lidar com a brutalidade do mundo. É um ciclo que se propaga impedindo a gente de ser, somente ser.”
O feminismo é outro tema muito
presente, e aparece junto a reflexões sobre casos de assédio, a visão social da
mulher negra como símbolo de puro desejo sexual e ainda a objetificação da
mulher.
“Passamos a vida culpando as mulheres que nos criam, assim como muitas vezes culpei minha mãe, sem olhar para quem nos tira o chão, a casa, as oportunidades. Acabamos sempre onerando outras mulheres pela falta de escolhas que nos é imposta. São sempre elas que precisam abrir mão do pouco que têm para alimentar toda a aldeia.”
Em um dos capítulos mais
delicados, a Djamila reflete sobre a maternidade e fala com franqueza sobre
como foi difícil para ela os primeiros anos como mãe.
“Algumas mulheres me achavam louca por não me sentir preenchida com a maternidade e a vida de casada. Amava ser mãe ..., mas detestava o que se entendia por maternidade: a abdicação da nossa existência como sujeito.”
Por fim e de forma mais intensa,
cabe destacar a Ancestralidade e que vem acompanhada com a religião do Candomblé,
que sempre foi algo presente na vida da família.
”São muitos os obstáculos, as porradas que a gente toma por “ousar” sair do nosso lugar, e nada foi fácil. Apesar de receber muito carinho e ser reconhecido pelo que faço, perceber o afeto daquelas mulheres foi diferente. Foi como me reencontrar com uma história da qual fui apartada. Foi como se elas estivessem me aceitando de volta com os braços abertos, me perdoando. Ali, eu me senti reconectada com uma ancestralidade perdida, uma espécie de volta para casa. Quando aqueles rostos negros se emocionavam por me ver ali, expectadora delas, eu senti vontade de chorar. Os abraços e apertos de mão continham a benção que as mais velhas dão às mais novas, como eu sempre pedia a você e à minha mãe antes de dormir. Elas se emocionavam porque se sentiam representadas pelo trabalho que eu faço. Sim, eu me emocionava com o reconhecimento delas, mas também por sentir que parte da minha história havia sido restaurada.”
Cartas para minha vó é uma
obra com uma força muito grande pela relevância dos assuntos abordados e, também,
por possibilitar que ao visitarmos a biografia de nossas referências, a gente
desperte nosso olhar para acolhermos a nossa própria história e assim chegarmos
a maturidade e sabedoria de quem pode ajudar novas gerações a se encontrarem no
próprio caminho.
Citações | Cartas Para a Minha Avó (Djamila Ribeiro)
"Eu jamais esqueceria meus amores primeiro, mas era preciso uma canção cantada com ternura para me lembrar que eles precisam ser eternizados sem dor em demasia. Como essa dor será carregada para sempre, ela não pode nos fazer afundar e esquecer as memórias felizes.” – 14 e 15
“Essa imagem de mulher negra forte é muito cruel. As pessoas esquecem de que não somos naturalmente fortes. Precisamos ser porque o Estado e a iniciativa privada são omissos e violentos. Restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana. Somos subalternizadas ou somos deusas. E pergunto: quando seremos humanas?” – 15
“Preparar para a vida, quando se trata de uma criança negra, é ser brutalizada o bastante para aprender a lidar com a brutalidade do mundo. É um ciclo que se propaga impedindo a gente de ser, somente ser.” – 24
“Minha mãe teve suas asas cortadas por muitas tesouras, e dizer a ela que a compreendíamos foi como fazer um pedaço se colar.” – 58
Passamos a vida culpando as mulheres que nos criam, assim como muitas vezes culpei minha mãe, sem olhar para quem nos tira o chão, a casa, as oportunidades. Acabamos sempre onerando outras mulheres pela falta de escolhas que nos é imposta. São sempre elas que precisam abrir mão do pouco que têm para alimentar toda a aldeia.” – 65
“O racismo também tem dessas: afasta as pessoas negras das culturas que elas mesmas construíram.” – 118
“São muitos os obstáculos, as porradas que a gente toma por “ousar” sair do nosso lugar, e nada foi fácil. Apesar de receber muito carinho e ser reconhecido pelo que faço, perceber o afeto daquelas mulheres foi diferente. Foi como me reencontrar com uma história da qual fui apartada. Foi como se elas estivessem me aceitando de volta com os braços abertos, me perdoando. Ali, eu me senti reconectada com uma ancestralidade perdida, uma espécie de volta para casa. Quando aqueles rostos negros se emocionavam por me ver ali, expectadora delas, eu senti vontade de chorar. Os abraços e apertos de mão continham a benção que as mais velhas dão às mais novas, como eu sempre pedia a você e à minha mãe antes de dormir. Elas se emocionavam porque se sentiam representadas pelo trabalho que eu faço. Sim, eu me emocionava com o reconhecimento delas, mas também por sentir que parte da minha história havia sido restaurada.” – 121
“... há mãos que condicionam nossas vidas antes de nascermos, coloca sobre nós um imperativo categórico de submissão e competição...” – 129
“A importância à frase quem deu foi ela, foi ela que transformou em sonho palavras corriqueiras ditas num dia quente e fez delas um compromisso firmado para a vida inteira... Uma vida de eterna espera, da crença no homem que pode ser mudado por amor.” – 131
“A arrogância masculina faz com que se negue ou menospreze tarefas que são fundamentais.” – 132
“Algumas mulheres me achavam louca por não me sentir preenchida com a maternidade e a vida de casada. Amava ser mãe ..., mas detestava o que se entendia por maternidade: a abdicação da nossa existência como sujeito.” – 146
“... naquele momento, aplaudindo efusivamente ao final de cada música, não existia mais expectativa, havia entrega. Eu não precisava fingir autenticidade, eu simplesmente podia sentir, deixar sair pelos meus poros todas as situações de angústia por não saber qual caminho seguir, deixar escorrer toda mágoa das coisas que não haviam sido, cada ressentimento pelas situações de solidão. Por um breve momento, olhei para o passado sem nostalgia, somente como contingências que me traziam ao agora. Quando ouvi a banda tocar uma canção de amor, me emocionei, mas não de tristeza por amores do passado ou por situações mal resolvidas no meu casamento. Foi um choro de alívio por eu, apesar de todas as pedras no caminho ou as pedras que me atiraram, não ter desistido de mim para poder estar ali, naquele lugar... Aquela mulher de trinta e quatro anos se sentiu plena, como se as asas agora não precisassem mais ser coladas; elas sempre estiveram ali aguardando o momento do voo.” – 170 e 171
domingo, 19 de dezembro de 2021
Citações | As Desolações do Recanto do Demônio (Ransom Riggs)
"Às vezes, uma velha fotografia, um velho amigo ou uma velha carta ajudam a lembrar que você não é o mesmo de antes. Aquele que morava entre aquelas pessoas e valorizava isso, escolhia aquilo, escrevia de tal jeito não existe mais. Sem perceber, você percorreu uma grande distância. O estranho virou familiar, e o familiar, senão estiver estranho, é no mínimo desconfortável.” – 7
“Quantas pessoas passariam a vida entre sombras e fantasmas, se tivessem a chance? Todo pai que perdeu um filho, todo amante que perdeu seu par. Se tivesse a escolha, a maioria faria o mesmo, não? Somos todos esburacados, e em alguns dias eu teria feito qualquer coisa para tapar meus buracos, mesmo que só por um tempo. Ficava feliz por não ter essa possibilidade...” - 322
segunda-feira, 6 de dezembro de 2021
Resenha | A Vida Nunca Mais Será a Mesma (Adriana Negreiros)
A história da formação das sociedades humanas, sempre foi marcada pela violência e por imposição de um grupo sobre outro, características de relações marcadas pela busca de controle e de poder. Entre os grupos que, historicamente, sofrem com todo tipo de agressão e lutam para terem seus direitos assegurados estão as mulheres.
As mulheres, em variados
momentos da história, quase sempre tiveram seus direitos e vontades negadas e
por viverem numa sociedade patriarcal, na qual o machismo se faz presente, eram
vistas como simples mercadorias/ enfeites.
Ainda hoje, apesar de todos os
avanços, continua sendo comum vermos crimes contra as mulheres – assassinatos,
violências sexuais, abusos psicológicos, entre outros. É neste contexto que a
autora Adriana Negreiros, lança o seu livro A Vida Nunca Mais Será a Mesma,
pela editora Objetiva.
A autora mostra grande coragem
ao revisitar um dos momentos mais trágicos de sua vida, quando sofreu um
estupro, e a partir disso discute os avanços legislativos/judiciários do
combate a violência contra as mulheres no Brasil e no mundo. Também vale
destacar a sensibilidade da escritora em dar voz a outras mulheres que também
sofreram com uma série de violências, o que contribui para tornar o livro ainda
mais enriquecedor e importante no trato da temática.
Em um estupro, quando a mulher é submissa e faz tudo o que o estuprador manda, na verdade ela está lutando com ferocidade. Porque sabe, de forma intuitiva, que lutar contra o pavor, o nojo, a dor e a humilhação é talvez a única maneira de escapar da morte, e o medo de morrer se impõe a todos os outros. Não lutar corporalmente e, em vez disso, ceder, ser até simpática e cordial com o bandido pode parecer um comportamento covarde e complacente, mas no fundo é um ato de valentia.
A leitura da obra A Vida Nunca
Mais Será a Mesma é muito difícil, pelos inúmeros gatilhos e pela brutalidade
de alguns relatos, o que provoca no leitor um sentimento de revolta, repulsa e
pesar. É possível perceber o importante trabalho jornalístico feito pela
autora, que além de apontar dados estatísticos sobre a questão da violência no
Brasil e destacar os avanços que os grupos que lutam contra a violência à
mulher têm conseguido no âmbito jurídico – uma destas conquistas foi a criação
das Delegacias para Mulheres, em 1985.
Também consegue dar voz a algumas sobreviventes desses crimes, mostrando
a importância e o protagonismos delas nessas conquistas e no resgate de novas
vítimas.
A violência contra a mulher
continua sendo um grave problema da sociedade, com índices altíssimos de feminicídio
– termo usado pela primeira vez em 1976, durante o Tribunal Internacional de
Crimes contra as mulheres, pela socióloga Diana Russel. Assim, a literatura se
torna uma importante aliada para o combate desse problema, pois é através da
informação que a população poderá se conscientizar e buscar apoio cada vez mais
cedo – seja de segurança, ou psicológico.
Lidos | Novembro 2021
Lidos Novembro
Fala, pessoal! Mais um mês se
finda e com ele não trago muitas indicações de leituras para vocês. Por motivos
profissionais e de estudo, terminei não conseguindo conciliar meu tempo e
terminei com um único livro lido, A Vida Nunca Mais Será a Mesma.
Vamos a ele:
A
Vida Nunca Mais Será a Mesma (Adriana Negreiros, Objetiva)
- Sinopse:
Por muito tempo, o estupro foi
tratado de forma obscura, aos sussurros, como tabu ou excentricidade. E mais,
foi extremamente resistente o pensamento de que as mulheres também eram
culpadas pela agressão sexual que sofriam. No Brasil, um dos países com maior
taxa de feminicídios do mundo, sensibilizar e alertar a sociedade para essa
violência – não apenas a real, como também a simbólica – é algo urgente.
Em A vida nunca mais será a
mesma, Adriana Negreiros discute a cultura da violência e o estupro no Brasil
em suas mais variadas formas e expressões. Do delicado tema do abuso sexual de
crianças por familiares ao estupro no casamento, chama a atenção o fato de que
a agressão contra a mulher não se dá apenas no espaço público – os lares podem
ser ambientes igualmente opressores, apartados da interferência do Estado.
Alternando depoimentos em
primeira pessoa com casos verídicos de outras mulheres, noticiados na imprensa
ou investigados por ela, Adriana constrói um livro tocante e, ao mesmo tempo,
elucidativo.
- Motivos para ler:
A obra é um relato sensível e
corajoso da escritora-jornalista Adriana Negreiro. Tomando de partida um
estupro sofrido por ela, Adriana embarca numa investigação sobre a legislação
brasileira para desvendar e discutir a problemática da violência contra a
mulher. Ela ainda apresenta, pelas vozes das próprias vítimas, as variadas
formas de violência que existe e como esses crimes deixam marcas físicas e
emocionais nas vítimas, que em muitos casos duram a vida toda.